Brasil

Secretário de Justiça diz que machismo atrapalha combate ao tráfico de pessoas

Por Redação com Agência Brasil 19/06/2014 05h05

O combate à exploração sexual de crianças e adolescentes e ao trabalho escravo depende de uma mudança cultural. A avaliação foi feita hoje (18) pelo Secretário Nacional de Justiça, Paulo Abrão. Durante ação contra o tráfico de pessoas, na Igreja da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, ele disse que o machismo e o preconceito contra jovens gays atrapalha o combate desses crimes.

“O tráfico de pessoas é um fenômeno que lida com questões bastante complexas. Por isso, as questões culturais são difíceis de lidar. Em primeiro lugar, uma cultura machista, que estabelece a mulher como objeto, que é muito presente no país e que favorece à mercantilização da vida”, afirmou. Outro problema, segundo ele, é a discriminação por orientação sexual.

“Muitos meninos têm que sair de casa porque não têm acolhimento de seus próprios pais em razão de sua escolha sexual. Eles saem de casa, abandonados, sem condições econômicas e, por vezes, se tornam mais frágeis para esse aliciamento das redes do tráfico”, acrescentou. Abrão disse ainda que a permanência ilegal de estrangeiros o deixa vulneráveis ao aliciamento.

Para alertar sobre falsas promessas de aliciadores, os organizadores da campanha instalaram uma caixa, batizada de Gift Box, em frente a Igreja da Penha. A caixa, de grande proporções, remete à ideia de presente. Porém, dentro do embrulho gigante, estão histórias de crianças traficadas para exploração sexual e para o trabalho escravo na construção civil ou em clubes de futebol.

O coordenador da campanha e do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do governo do Rio, Ebenezer de Oliveira, lembrou que a desapropriação de imóveis rurais e urbanos identificados com trabalhadores escravos foi aprovada pelo Congresso Nacional. Agora, os imóveis poderão ser desapropriados para a reforma agrária ou para construção de casas populares.

O estado do Rio de Janeiro está na quinta colocação no ranking de trabalhadores em condições de escravidão libertados entre todas as unidades da federação. Segundo Oliveira, a maioria das vítimas é encontrada em áreas rurais, principalmente no norte fluminense, na exploração agrícola, como nos canaviais, ou na construção civil, na cidade do Rio. “Em 2013, tivemos cerca de 110 casos de tráfico de pessoas. Quase que a maioria na construção civil e no comércio”, revelou.

Oliveira disse que as vítimas atraídas pelo tráfico de pessoas são enganadas com ofertas de melhores condições de vida. “Tem a baixa escolaridade, a falta de emprego, o pouco acesso a direitos, que fazem com que a pessoa procure migrar para conquistar o trabalho”, explicou. Depois, acabam tendo documentos retidos, contraem uma dívida ilegal com o empregador para pagar pelos custos da viagem e terminam submetidas a condições degradantes de trabalho”, citou.