Arapiraca

Apesar do combate, cultura do fumo ainda resiste em Arapiraca

Por Clau Soares, especial para o 7Segundos 31/08/2014 07h07
Apesar do combate, cultura do fumo ainda resiste em Arapiraca
Homem corta fumo, em Arapiraca - Foto: Alana Berto

- “Sou de Arapiraca”.
- “Ah, da terra do fumo”.
O diálogo é fictício, mas quem nasceu ou reside na cidade já passou por algo semelhante e teve que explicar que a agricultura já não está mais focada naquela cultura. A produção de fumo no município entrou em decadência desde a segunda metade da década de 1990, mas a fama de cidade fumageira se mantém e ainda é vista como referência para aqueles que não vivem o cotidiano da “Terra de Manoel André”.

O secretário municipal de Agricultura, Rui Palmeira Medeiros, esclarece que a cultura do fumo foi introduzida em Arapiraca ainda no século XIX, por volta de 1890, quando estava no auge a plantação de mandioca. De 1920 a 1970, o fumo atinge seu auge, trazendo um retorno positivo para os plantadores no Nordeste.

A partir da década de 1980, começa a decadência, em decorrência da mudança na dinâmica da economia brasileira. Enquanto a Bahia, principal produtora de fumo na época, amarga o fim da era de ouro do fumo naquele Estado, Alagoas ainda tem alguns anos de fôlego, até por volta de 1998, conforme pesquisa de Jean Baptiste Nardi, publicada em 2004.

No seu auge, a região fumageira, composta pelos municípios de Arapiraca, Craíbas, Girau do Ponciano, Lagoa da Canoa, Feira Grande, Coité do Noia, Limoeiro de Anadia, Taquarana, Junqueiro e São Sebastião, chegou a ter 40 mil hectares de área plantada. O fumo arapiraquense, neste período, era exportado para Europa, Ásia e Estados Unidos. Hoje, quase 20 anos depois, há somente cerca de 10 mil hectares de fumo. “Cerca de 25% do que já se cultivou”, frisa Rui Medeiros.

 

Secretário explica que plantio não é proibido, mas não recebe incentivos governamentais.

É uma tendência natural de haver redução da área cultiva de fumo”, diz o secretário. As vendas internacionais cessaram, os grandes produtores deixaram de cultivar, e ainda há o apelo do governo para que as pessoas abandonem o hábito de fumar, em virtude dos prejuízos causados pelo tabaco à saúde.

Segundo Rui Menezes, hoje, o fumo é plantado por pequenos produtores, sendo ainda uma importante fonte de recursos para agricultores familiares que vendem o fumo em corda para empresas locais, Minas Gerais, São Paulo e, mais frequentemente, Sergipe. A Secretaria de Agricultura estima que ainda sejam produzidos de sete a 10 mil toneladas de fumo em corda por ano.

Plantar fumo tornou-se uma tarefa ainda mais árdua. Além de não ter mão de obra disponível, os investimentos em agrotóxicos e adubos torna a tarefa hercúlea. O agricultor arapiraquense Manuel Maximiliano da Silva, de 66 anos, diz que desde os sete anos trabalha com fumo, mas hoje o tabaco já não dá retorno financeiro. “A gente trabalha para morrer. 'Dá para sustentar a família ‘apuso’, mas dá é muita despesa”, afirma.

Apesar da idade, agricultor passa o dia na plantação de fumo. Imagem: Alana Berto

Manuel planta, colhe e vende o fumo enrolado, depois deste passar por um processo de dois a três de curação. Apesar de ser separado da esposa, ele trabalha junto com os filhos que plantam o fumo no mesmo terreno onde ele trabalha. As terras foram cedidas pelo dono para Manuel e os filhos garantirem o sustento. “Cada um trabalha no seu. Para quebrar o fumo ainda arrumo gente, mas para arar o terreno não tem ninguém”, ressalta o agricultor para explicar que ele tem que cuidar da plantação sozinho. “Esse ano foi bom. Não posso reclamar. Teve um ano que perdi tudo”, revela.

O empresário José de Oliveira, que comanda as compras de matéria –prima da empresa Incofusbom, de Arapiraca, relata que a cada ano aumenta a dificuldade de encontrar fumo na cidade. “Cada ano vai diminuindo (o cultivo)”, diz. A empresa só compra o fumo em corda (enrolado), artesanal, que atenda às exigências de qualidade pré-determinadas pela organização para atender a um público cada vez mais exíguo.

José de Oliveira é categórico. “A queda (da produção de fumo) é assustadora. Há anos que Arapiraca não sobrevive do fumo. Hoje, o fumo é apenas uma parcela da agricultura local”.

O secretário Rui Medeiros ratifica o posicionamento ao lembrar que hoje prevalece a diversificação da agricultura local, com culturas de mandioca, hortaliças, fruticultura e milho. “As pessoas (agricultores) estão buscando outras alternativas”.