Alagoas

Profissionais enfrentam dificuldades para exercer medicina em AL

Por Clau Soares 18/10/2014 17h05
Profissionais enfrentam dificuldades para exercer medicina em AL
- Foto: Reprodução

18 de outubro. Dia do Médico. A profissão milenar, criada na Grécia há cerca de 2500 anos, é fundamental para o bem-estar de qualquer sociedade. Diversos fatores, entretanto, contribuem para que os profissionais desta área ainda enfrentem dificuldades diárias para ofertar atendimento acessível e de qualidade para a maior parte da população.


Embora o senso comum julgue que a categoria trabalha apenas em busca de recursos financeiros, a realidade costuma ser bem diferente. A falta de estrutura em hospitais e unidades básicas de saúde são apontados como problemas constantes e que costumam travar o desempenho do profissional.


A dermatologista Mariana Valeriano, 29, exerce a medicina há seis anos. Graduada pela Universidade Federal de Alagoas, fez residência médica no Hospital Federal de Bom Sucesso, no Rio de Janeiro. Atuou no Programa Saúde da Família (PSF) e, atualmente, tem consultório, em Arapiraca, e é concursada em Limoeiro de Anadia.


Depois de seis anos na graduação, Mariana complementou a formação com mais três anos de residência. Desse período, ela lembra de cumprir 60 horas semanais e atender até 25 pessoas em uma só manhã, muitos deles, casos graves. Todos os pacientes eram atendidos pelo SUS. Nesta época, a bolsa da residente era de R$ 1.800,00. “Saía esgotada, à noite”, confessa Valeriano.


Especializada, voltou para trabalhar em Alagoas. Mariana aderiu ao quadro de profissionais médicos de um plano de saúde para conseguir pacientes. “O plano vai fazer as pessoas chegarem até você”, afirma. Hoje, ela recebe cerca de R$ 60, por consulta, pelo plano, sem contabilizar os descontos de impostos. Ela revela que, em muitas especialidades, há dificuldades para encontrar emprego. A exceção fica por conta dos plantões, por isso para montar um consultório a adesão ao plano é quase obrigatória.


Ela explica que, no caso das consultas particulares, o valor acaba sendo definido pelo próprio mercado já que o médico vai precisar pagar toda a estrutura para manter um consultório. Além disso, ainda há as taxas que precisam ser pagas aos órgãos públicos, em virtude de ser ainda um negócio. “A estrutura em si é cara e isso será repassado para a consulta”, diz.


Falta de estrutura no SUS

Na experiência do PSF, Mariana Valeriano se deparou com a falta de estrutura. Ela relata que há postos de saúde que não têm nem o aparelho para verificação de pressão. O que faz com que o médico fique frustrado no atendimento ao paciente. “Nenhuma unidade básica tem a estrutura necessária (aparelhos, ambulância, medicamentos) para manter o paciente vivo. Só tem o médico”, diz.


Desta época, ela lembra do caso de uma criança com deficiência cuja família não conseguia o tratamento adequado porque não havia um diagnóstico correto. Era preciso que um geneticista analisasse a paciente, mas não havia esta especialidade disponível pelo SUS. “É desanimador ver que você faz a sua parte e os gestores públicos não conseguem dar continuidade ao tratamento”, explica.


Além disso, nem sempre o salário atrai o médico para o PSF. Mariana Valeriano explica que, na verdade, o valor total refere-se a taxas que são incorporadas ao salário, o que pode acabar nem sendo pago pelo gestor municipal. Por exemplo, no salário de R$ 10 mil, a base são R$ 3 mil. Os R$ 7 mil restantes são incrementos que podem depender da vontade da administração pública para serem pagos.


Para a médica, o ideal é investir em políticas que garantam estabilidade ao profissional e a melhoria da estrutura das unidades de saúde. “A gente se dedica, estuda, por isso, queremos avançar na carreira”, afirma. Nada mais justo.