Arrumar bem o cabelo, fazer uma hidratação profunda na pele, não descuidar das unhas. Não, não estamos falando das atividades comuns a mulheres no salão de beleza. Esse ritual diário é feito por Rosana da Conceição dos Santos, de 26 anos, todas as noites ao chegar do trabalho. Ela é feminina, é mãe, e trabalha em Arapiraca, com pintura de veículos. Isso mesmo: em uma oficina.

O ambiente masculino não é problema para ela. Os 11 homens com quem divide a rotina, que começa por volta das 8h e vai até o final da tarde, sabem que ali está uma profissional tão capaz quanto eles para transformar uma lataria detonada em uma máquina reluzente. "Quando digo que trabalho em uma oficina, as pessoas pensam que é no escritório", afirma Rosana.

A empresa é a primeira em Arapiraca a admitir mulheres no quadro de mecânicos. Para Ciro Magalhães, um dos sócios do empreendimento, já havia uma necessidade de profissionais do sexo feminino na área. Ele explica que, em geral, os homens que trabalham no setor são mais rudes, embora fases do serviço exijam também delicadeza. "A mulher estuda mais, é mais sensível. Eu sentia a necessidade de tê-las na área", esclareceu Ciro.

A oficina, que fica no bairro Canafístula, tem hoje quatro mulheres empregadas. A elas, cabe o preparo da lataria para receber a tinta. No entanto, a proposta é treiná-las para também executar a pintura. "A capacidade da mulher, para mim, é a mesma do homem. A diferença é a capacitação", afirma o empresário.

  

Ciro Magalhães avalia ainda a melhoria na organização do ambiente e no comportamento da equipe. "A presença delas tornou o ambiente mais limpo, baixou o nível de ruído – já que os homens costumavam gritar muito durante as conversas, e melhorou até a linguagem usada. 'Elas influenciam os rapazes a mudarem o comportamento", revela.

Para os colegas, ter mulheres no ambiente de trabalho é uma vantagem. "Com tempo, elas se tornam tão produtivas quanto os homens. Além, disso, no geral, melhora o ambiente. O comportamento com elas é totalmente profissional, não há chacotas, e melhora até entre os homens por elas estarem por perto", avalia o montador Lucas Beltrão, de 20 anos.

Angélica Vitorino da Silva, de 22 anos, também trabalha na oficina. Ela estava procurando emprego quando soube da vaga na oficina. Ao ser informada sobre as funções, ela não se intimidou. Sem a experiência, nem curso na área, Angélica decidiu aceitar a oportunidade de trabalho e não se arrependeu. O aprendizado acontece no dia-a-dia sob a supervisão dos chefes. "Soube que tinha vaga e vim", relembra, após cinco meses.

A proposta da empresa agora é admitir mais mulheres e capacitá-las para assumir mais atividades no processo produtivo. "Vamos treiná-las para pintar, e não apenas para preparar os veículos", afirma Ciro Magalhães.