Seca: agricultores vendem animais e abandonam Igreja Nova
A Prefeitura de Igreja Nova, por meio da Secretaria Municipal de Agricultura, concluiu o levantamento sobre os impactos da seca no município localizado na região do Baixo São Francisco alagoano. A estiagem esvaziou barreiros que matam a sede dos animais que, em sua maioria, não têm mais pasto para se alimentar.
Sem condições de manter o rebanho e de bolsos vazios, agricultores vendem os animais e abandonam o lugar onde vivem. De acordo com o presidente da Associação de Agricultura Familiar Mãe Rainha, José dos Santos Lima, popular Gizeldo, apenas duas famílias permanecem no assentamento São João, localizado no povoado Jenipapo. Adquirido por meio de crédito fundiário, via Iteral, o projeto deveria atender 72 famílias.
“Eu sou um dos que continuam porque tenho como buscar água, mas a maioria foi embora para outras cidades”, informa Gizeldo, que também é presidente do Conselho Municipal do Desenvolvimento Rural Sustentável de Igreja Nova. “A seca está levando as pessoas daqui para o sul do país, dos 24 que participam da associação, muitos já venderam os animais”, diz José Garcia Valério, Presidente da Associação dos Produtores de Leite do Capim Grosso.
Segundo o médico veterinário do município Dioclécio Salgueiro Neto, responsável técnico pelo matadouro público de Igreja Nova, “60% dos animais estão debilitados em termos de nutrição por conta da estiagem, necessitando de complemento nutricional, cuja solução depende do fornecimento viabilizado pela CONAB em casos de situação de emergência para evitar perdas no rebanho”.
Dos 43 povoados de Igreja Nova, 33 estão situados fora do perímetro irrigado da Codevasf. Nestes 33, constata-se grande diminuição de pasto e das culturas alternativas de alimentos para os animais, além da impossibilidade de iniciar o plantio de lavouras de subsistência.
De acordo com o Engenheiro Agrônomo William Antônio Raposo Rodrigues, coordenador da Bacia Leiteira da SEMAGRI de Igreja Nova, há disponibilidade de apenas 10% de capim na maioria das propriedades.
Outro indicador da gravidade da situação está na produção de farinha. Segundo o relatório, em um ‘ano bom’ – como dizem os agricultores – as tradicionais casas de farinha produzem cerca de 20 sacos de 50 quilos por ‘mandiocada’, expressão popular para o trabalho coletivo feito após a colheita da raiz encontrada em quase toda lavoura de pessoas de baixa renda.
O levantamento mostra que, cada produtor, consegue ‘tirar’ atualmente apenas seis sacos de farinha, quantidade bem abaixo do que normalmente comercializam nas feiras livres de Igreja Nova e cidades vizinhas.
José Prudente Neto, residente no Sítio Pico, ppovoado Sapé (comunidade remanescente quilombola), mostrou aos técnicos da Prefeitura de Igreja Nova o tanque escavado seco, vazio estendido ao pasto escasso de alimento para o gado.
O drama da seca atinge fortemente a agricultura familiar, mas também afeta pequenos e médios produtores rurais. Benildo Carlos Cavalcante produziu na safra 2014/2015 1.350 toneladas de cana-de-açucar no povoado Santiago.
Na safra 2015/2016, conseguiu apenas 550 toneladas na mesma comunidade. Já Edvaldo Muniz Cavalcante informa ter conseguido 6.500 toneladas em terras do povoado Perucaba durante a safra passada, alcançando apenas 2.800 toneladas na safra atual no mesmo local.
De acordo com o Secretário Municipal de Agricultura, Ionas dos Santos, a seca já causa morte de animais. “Até 20 de janeiro, fomos informados de duas mortes de bovinos, mas esse número deve ser maior devido ao estado de fraqueza e desnutrição dos rebanhos e também aos casos que não foram declarados”, informou, destacando o trabalho institucional da Prefeitura de Igreja Nova apoiado pela Emater Alagoas.
“Por determinação do Prefeito Augusto Santos, fizemos e concluímos um extenso trabalho de visitas aos povoados, levantamento que é indispensável para minimizar as perdas no campo. Fizemos o mesmo esforço no ano passado, conseguimos o reconhecimento do estado de emergência, ação que ampara os produtores na renegociação dos empréstimos feitos nos bancos. Sem ter como produzir e pagar, eles ficariam mais endividados, então a Prefeitura de Igreja Nova trabalha para ter essa situação de emergência causada pela seca reconhecida”, explicou Ionas, parabenizando todos os técnicos e auxiliares da pasta pelo emprenho demonstrado.