Após críticas ao racismo, Beyoncé vira alvo de denúncias e boicotes
Depois de abordar o feminismo em suas composições e performances, Beyoncé levantou de vez a bandeira para as questões raciais. Seu mais novo single, “Formation” denuncia o racismo nos EUA e a violência das autoridades policiais contra as comunidades negras e periféricas. A letra da canção, seu videoclipe e a apresentação no Super Bowl caíram como uma verdadeira bomba entre os mais conservadores, que agora disparam duras críticas contra a estrela.
O Clipe
Dentre vários pontos, o vídeo denuncia a forma como a população negra de Nova Orleans sofreu com as consequências do furacão Katrina, em 2005. A produção também reverencia os protestos do movimento “Black Lives Matter”, que balança o país há um ano e meio, desde a morte do adolescente Michael Brown. Desarmado, ele foi morto a tiros por um policial branco (inocentado) em Ferguson, no Missouri, caso seguido por vários episódios semelhantes em outras cidades norte-americanas.
Em um dos trechos, uma criança “rende” policiais, enquanto a mensagem “Parem de atirar na gente” aparece na tela. Outra cena que chama atenção, é a de um homem lendo um jornal com Martin Luther King na capa e a manchete “Mais do que um sonhador”, em referência ao famoso discurso “I Have a Dream”.
O Super Bowl
Assistida por mais de 114 milhões de norte-americanos, a performance de Beyoncé no “Super Bowl 50″ foi tão repleta de referências a questões raciais como o próprio clipe. As dançarinas usavam roupas que remetiam à organização Panteras Negras, fundada em 1966 para proteger moradores dos guetos negros da Califórnia contra a brutalidade policial.
Num dos momentos mais emblemáticos da coreografia, as bailarinas formaram um X no gramado, em referência ao líder negro Malcom X, responsável direto pela aprovação da Lei de Direitos Civis que proibia a segregação racial e o linchamento dos negros. A mensagem “Acredite no amor” encerrou a apresentação.
As críticas
Segundo relatórios divulgados pelo Washington Examiner, oficiais da polícia chegaram até mesmo a desligar seus televisores durante o Halftime Show para não ouvir Beyoncé cantar sobre o tema. No Facebook, membros da Associação Nacional dos Xerifes disseram ter baixado o volume e virado as costas para a televisão no momento da performance.
O ex-prefeito de Nova York, Rudolph “Rudy” Giuliani também criticou a apresentação. “Foi revoltante ela usar o show como uma plataforma para atacar policiais que são as pessoas que a protegem e nos protegem, nos mantêm vivos. E o que deveríamos estar fazendo pela comunidade de afro-americanos, e todas as comunidades, é dar respeito aos policiais. E nos concentrarmos no fato de que quando alguém faz algo errado, okay. Trabalharemos nisso. Mas a maioria dos policiais arriscam as suas vidas para nos manter seguros”.
Curiosamente, o discurso do político vem à tona, quando a polícia de Nova York é acusada de violência contra os negros, principalmente por conta de casos como o de Eric Garner, morto por um policial branco que lhe estrangulou nas ruas da cidade e acabou sendo absolvido.
O partido Republicano dos EUA também se manifestou. “Beyoncé pode ser uma entertainer talentosa, mas ninguém devia ligar para ela ou para o que ela pensa sobre questões sérias de nossa nação, ao contrário da aceitação desse clipe pró-Panteras Negras e anti-polícia pela mídia, quando são os homens e mulheres em azul que colocam suas vidas em risco por todos nós e merecem nosso apoio incondicional”, disse o comunicado assinado pelo congressista Peter King.
Outro político que reagiu duramente à performance de Beyoncé foi o canadense Jim Karygiannis. Em entrevista ao The Sun, Jim afirmou que a cantora deveria ser impedida de se apresentar no Canadá no próximo 25 de maio com sua turnê “Formation”. “Talvez o Ministro John McCallum deva investigá-la primeiro. Se alguém usa aquele tipo de vestimentas e apoia um grupo de raciais, essa pessoa não pode ser bem-vinda no país, não há sombra de dúvidas disso.”
Na página oficial da cantora no Facebook, pipocam comentários de que ela não teria propriedade para discutir racismo, por ser uma celebridade rica que só está atrás de atenção. A resposta de Bey já vem na própria letra do seu novo hino: “Ganhei esse dinheiro todo, mas nunca abandonei minhas raízes”. A artista é nascida em Houston, no Texas, de pais oriundos de Louisiana e do Alabama, dois estados do sul marcados pelo passado escravocrata.