Saúde

Mulher 'peregrina' por bariátrica em Arapiraca e relata drama

País é segundo na modalidade cirúrgica, mas fila de espera pode durar meses

Por 7Segundos, com agências 28/04/2018 07h07
Mulher 'peregrina' por bariátrica em Arapiraca e relata drama
Mulher relata drama para conseguir cirurgia bariátrica - Foto: Reprodução/7Segundos

Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) - também de 2016 - aponta que a busca pela beleza padrão fez o número de cirurgias bariátricas crescerem 7,5% em comparação a 2015. Somente em 20016, 100.512 pessoas fizeram essa modalidade de cirurgia. A SBCBM segue as diretrizes do Ministério da Saúde e do Conselho Federal de Medicina. Em janeiro de 2016, o CFM publicou a Resolução nº 2.131/15, que alterou o anexo da Resolução nº 1.942/10 e estabeleceu novas regras para a realização de cirurgia bariátrica no Brasil ampliando para 21 o número de doenças associadas à obesidade que podem levar à indicação da cirurgia bariátrica.

Além dos riscos de saúde, a busca pela beleza padrão já colocam o Brasil como o segundo no ranking mundial nessa modalidade cirúrgica. Atualmente, 21 patologias estão associadas à obesidade e podem levar à morte. A opinião dos médicos é consensual ao não tratar a obesidade como uma questão estética e sim qualidade vida.

Mas a realização da bariátrica depende de uma série de fatores. Os pacientes precisam passar por avaliação psicológica e alimentar, além de avaliação médica que deve determinar se o paciente tem condições clínicas de realizar a cirurgia. Os médicos precisam avaliar se doenças associadas a obesidade podem colocar a vida do paciente em risco se levados à cirurgia bariátrica.

Essa modalidade cirúrgica aplica-se em três diferentes técnicas: restritivas, aquelas que reduzem a capacidade do estômago, ou seja, fazem o paciente comer menos, sem mexer no intestino, chamada de sleeve gástrico; disabsortivas, que realizam um desvio do intestino; e mistas que combinam a restrição, ou seja, a redução da capacidade gástrica com o desvio do intestino, denominada de bypass gástrico ou cirurgia de Capella, que ainda é a mais executada no Brasil, na qual o estômago fica com uma capacidade em torno de 50 ml e ocorre um desvio do intestino delgado em tono de 1,5 a 2 metros.

O Sistema único de Saúde (SUS) realiza esse tipo de cirurgia, mas as filas de espera costumam ser longas e podem durar de 18 a 24 meses. Para entrar na fila, interessados devem procurar a Secretaria Municipal de seus respectivos municípios.

A idade mínima para cirurgias bariátrica pelo SUS é 16 anos. Regra estabelecida pelo Ministério da Saúde e o Índice de Massa Corpórea (IMC) mínimo para cirurgia bariátrica é “35 + doenças associadas” ou “maior que 40, mesmo sem doenças”.

Atualmente, o SUS conta com 75 hospitais habilitados para atendimentodas pessoas com obesidade, em 21 estados: Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins.

Pacientes que usam planos de saúde também têm direito o direito de realizar cirurgias plásticas reparadoras complementares, mas antes precisam comprovar essa necessidade baseada em laudos médicos e psicológicos.

Os planos de saúde costumam autorizar a dermolipectomia abdominal/abdominoplastia, prevista no rol da ANS, mas alguns pacientes precisam de cirurgias complementares reparadoras em outras partes do corpo como pernas, mamas e braços precisam recorrer à Justiça.

Drama em Arapiraca
Se ao ler os números sobre a cirurgia bariátrica, o processo já parece longo e difícil, imagine o efeito que essa longa espera causa na vida de quem vive esse drama. O 7Segundos ouviu a dona de casa Rosa Alves, idosa de 69 anos, que está estagnada no longo caminho que falta para combater sua obesidade.

“Tudo começou com uma depressão, desde quando eu me separei. Começou uma depressão muito forte. Trabalhando, eu melhorei bastante, mas conforme eu perdi os empregos, voltou tudo de novo. Hoje eu vivo mais dormindo, troco o dia pela noite. O meu desejo, a minha vontade, é se alguém puder me ajudar, é fazer esta redução de estômago. Nessa luta, tem mais de 20 anos”, conta Rosa.

A idosa, através de seus relatos, expõe como a obesidade limita não só a saúde, mas sua locomoção e sua autoestima. “Não saio mais de casa. Mesmo que eu aguentasse andar, eu morro de vergonha, sofro muito bullying”, desabafa.

Rosa explica que recebia tratamento de saúde no Centro de Referência Integrada de Arapiraca (CRIA), mas a dificuldade de locomoção e os custos financeiros a fizeram parar de frequentar o Centro. Além disso, a grande fila de espera por tratamentos como o dela, de pessoas que também sofrem com a obesidade, a levou à desistência. Rosa conta ainda que já procurou o posto de Saúde do bairro Cacimbas, em Arapiraca, e perto de onde mora, mas a equipe teria se negado a entregar remédios solicitados por um médico que a atendeu, fazendo com que a idosa não procurasse ajuda lá novamente.

Realize um sonho
O sonho da idosa é conseguir realizar a cirurgia bariátrica e voltar a ter uma vida feliz e saudável. Ela pede ajuda para que seu sonho se torne realidade e deseja uma velhice onde ela possa se locomover melhor e fazer coisas que lhe tragam de volta o prazer pela vida. Assista o vídeo e saiba onde encontrar Rosa e como ajudá-la ou ligue para 82 9 8122-7415 e fale com Vera, uma vizinha de Rosa que procurou nossa equipe e fez o apelo.

Assista ao relato dramático da dona de casa:

 

O 7Segundos conversou com a Prefeitura de Arapiraca, através da Secretaria Municipal de Saúde. A equipe informou que o tratamento de obesidade é feito pelo estado de Alagoas, assim como a cirurgia bariátrica; porém, já foi agendado com um médico endocrinologista uma consulta para a retomada dos tratamentos necessários. A Secretaria de Estado de Saúde (Sesau) informou que as cirurgias bariátricas, em Alagoas, são feitas apenas no Hospital Universitário, em Maceió.

Mas é o próprio Ministério da Saúde que determina que a autorizada da cirurgia só é concedida após o paciente realizar tratamentos clínicos antes. Ou seja, precisa receber orientação e apoio para mudança de hábitos, realizar dieta, ter atenção psicológica, realizar atividade física e, em alguns casos, fazer uso de medicamentos por, no mínimo, dois anos.

Saiba mais sobre obesidade e sedetarismo
Pessoas que estão muito acima do peso normalmente apresentam outros problemas de saúde relacionados a essa condição, como problemas nas articulações ou alto colesterol, mas a obesidade em si mata menos do que o sedentarismo. É o que dizem especialista em saúde publicada no ‘American Journal of Clinical Nutrition.’ Diabetes tipo 2, apneia do sono, hipertensão arterial, dificuldade respiratória e doenças cardiovasculares também são alguns dos problemas que acometem os obesos.

Mais de 300 mil pessoas, entre homens, mulheres e crianças da Europa foram usados como parâmetro e tiveram suas circunferências abdominais, peso e altura levado em consideração. Se a comparação média fosse extrapolada e os dados do estudo estendidos para toda a população europeia, estima-se que, do total de 9,2 milhões de mortes anuais, 337 mil devem ser atribuídas diretamente à obesidade, enquanto, 676 mil, mais que o dobro, são relacionadas à inatividade física.

Para estudiosos, 20 minutos diários de qualquer atividade física poderiam reduzir esse número de maneira drástica, cerca de 30% menos de morte.

Uma pesquisa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) aponta que 1,2 milhão de novos casos da doença devem surgir no país entre 2018 e 2019. Só neste ano, a estimativa é que surjam 582 mil novos casos – 300 mil em homens e 282 mil em mulheres. Ainda segundo o estudo, em cada 10 casos, três estão relacionados ao estilo de vida que as pessoas levam. Hábitos como tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo, obesidade e exposição excessiva ao sol aumentam as chances de incidência da doença.

Outros 'efeitos colaterais'
O peso excessivo também pode levar à depressão e os indivíduos mudarem seus hábitos tornando-se cada vez mais reclusos, resultando em um sedentarismo que só potencializa as chances de ganho de peso e de doenças decorrentes desse peso elevado.

O padrão de beleza atrelado e magreza é um dos fatores que levam à retração da vida social. Esse mesmo padrão fez surgir uma denominação modernas o neologismo ‘gordofobia’. Em tese, essa palavra é aplicada a pessoas que mesmo de modo inconsciente reproduzem preconceito ou intolerância contra pessoas gordas. Mas o número de pessoas acima do peso no país pode ser muito maior do que se imagina. Em 2016, o Ministério de Saúde apontou, em pesquisa que esse número aumento em 60% no período de uma década, passando de 11,8% da população em 2006, para 18,9% em 2016. É também do Ministério da Saúde a informação de que pessoas entre 45 e 64 anos são os mais atingidos por obesidade e excesso de peso. Os índices estão diretamente ligados ao sedentarismo.