Pacientes sem obesidade mórbida podem realizar cirurgia bariátrica; entenda!
Paciente com IMC entre 30 e 35 podem ser candidatos ao procedimento cirúrgico.
O Conselho Federal de Medicina emitiu o parecer nº 38 de 2017 reconhecendo a cirurgia metabólica para o tratamento de pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 2, que tenham Índice de Massa Corporal (IMC) entre 30kg/m² e 34,9kg/m² e que não tenham tido resposta ao tratamento clínico convencional. Na prática, autoriza que médicos realizem cirurgia bariátrica em pacientes que não tenham obesidade mórbida, o que preocupou alguns especialistas.
O médico-cirurgião Cid Pitombo - recordista em cirurgia bariátrica no Sistema Único de Saúde (SUS) e quem cuida dos atores André Marques e Leandro Hassum - não vê com bons olhos a decisão do CFM. Para ele, esse parecer pode expor os pacientes a ofertas milagrosas de emagrecimento e procedimentos invasivos e arriscados desnecessariamente.
"Há cerca de 20 anos estou envolvido com cirurgia bariátrica. Fiz minha tese de mestrado e doutorado no assunto, sou editor-chefe de um dos livros mais respeitados mundialmente no assunto ('Obesity Surgey: Principle And Practice'), operei e dei aula no mundo todo, fui o único brasileiro presente no Primeiro Encontro sobre "cirurgia do diabetes" do mundo, em Strasbourg, na França em 2006. Essa breve introdução, é para me credenciar no que desejo falar: o Conselho Federal de Medicina acaba de "liberar" que pacientes entre 30 e 35 de IMC podem ser candidatos a procedimentos cirúrgicos, antes restrito a obesos mórbidos", explicou o médico.
"Concordo plenamente que os efeitos da cirurgia sobre a população de obesos mórbidos é indiscutivelmente benéfico, mas me preocupa a ideia de que isso seja "aberto" de uma forma mais ampla. Se você é portador de diabetes, está com o IMC entre 30 e 35, antes de ser operado, tenha certeza que tanto seu cirurgião, quanto o grupo de endocrinologistas que vão te avaliar, são realmente especializados nesse assunto. É uma opinião de um apaixonado e profundo estudioso do assunto. Não se arrisque", disse dr. Cid Pitombo.
Atualmente, ele está perto de atingir a marca de 2 mil operados no Hospital Estadual Carlos Chagas, no Rio de Janeiro.
"Não existe mágica contra a obesidade. Ela é uma doença grave e precisa ser tratada de forma séria. Os pacientes devem buscar se informar sobre as técnicas e profissionais reconhecidas pelo Conselho de Medicina para não colocarem suas vidas em risco" – alerta dr. Cid Pitombo.
Mudança de hábitos é a melhor prevenção - Desde 2010, quando a equipe do dr. Cid Pitombo criou o Programa de Cirurgia Bariátrica no Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, no Rio de Janeiro quase 2.000 pacientes foram operados, moradores de todas as regiões do estado do Rio de Janeiro. A média de atendimentos ambulatoriais está sendo mantida em 2.000/mês e a taxa de sucesso é de 99%. A equipe do Programa é multidisciplinar, composta por médicos, enfermeiros, psicólogos e nutricionistas. A cirurgia não é o objetivo principal e sim a qualidade de vida e a mudança de hábitos. Mais de quatro mil pacientes estão sendo acompanhados pela equipe do Programa.
"É um trabalho de resgate desses pacientes, realizado com muita dedicação e seriedade por toda a equipe. Devolvemos à sociedade o paciente antes obeso que não trabalhava, que tinha vergonha de comprar roupas e que não tinha mais vida afetiva.", conta Cid Pitombo.
Estudo feito pela equipe do dr. Pitombo de fato apontou que a vida sexual e financeira dos ex-gordinhos só melhorou após a cirurgia. Cerca de 40% dos pacientes afirmaram que a vida sexual passou de ruim para muito boa. Outros 14% disseram que a vida entre quatro paredes passou de boa para muito boa. Os novos magrinhos também relataram aumento de mais de 30% na renda familiar.
Perfil do especialista – Formado em Medicina e especializado em Cirurgia, Pitombo foi para os Estados Unidos se especializar em cirurgia laparoscópica. Voltou ao Brasil cinco anos depois para aprender sobre cirurgias da obesidade e, ao final do mestrado e doutorado, rodou grandes centros de cirurgia bariátrica nos EUA. Logo percebeu que os conhecimentos sobre laparoscopia e obesidade eram uma área a ser explorada. Juntou-se aos grandes nomes da cirurgia bariátrica, experimentou diferentes técnicas, operou e deu aulas em diversos países e se tornou referência no Brasil em cirurgia bariátrica por videolaparoscopia, técnica que utiliza em todas as unidades em que opera. O procedimento é menos invasivo e proporciona recuperação mais rápida do paciente.