Bolsonaro escolhe educador moderado para a Educação, e bancada evangélica reage
Presidente eleito convidou Mozart Neves Ramos, assessor do Instituto Ayrton Senna
O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) definiu nesta quarta-feira (21) o nome de Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna, como o futuro ministro da Educação.
Em nota, o Instituto Ayrton Senna diz que Mozart não foi convidado por Bolsonaro e que ambos terão uma reunião nesta quinta-feira (22). Segundo a Folha apurou, em uma conversa com o capitão reformado, o educador foi sondado na semana passada e já aceitou o convite. O anúncio deve ocorrer nesta quinta.
Dentro do quadro de servidores MEC havia uma certa torcida para a escolha de Mozart, já que ele é visto como um educador moderado. Em nenhum momento, por exemplo, deu declarações a favor do projeto da Escola sem Partido ou contra discussões sobre gênero em sala de aula.
Esse perfil de Mozart, contudo, gerou descontentamento da bancada evangélica, aliada do presidente eleito. A oficialização do nome, indicaram os integrantes da frente parlamentar, seria uma ruptura com a plataforma que elegeu Bolsonaro.
Mozart chegou a ser sondado pelo presidente Michel Temer (MDB) para o cargo, mas, na época, recusou. Da mesma forma declinou de um convite de João Doria (PSDB) para integrar o secretariado da Prefeitura de São Paulo.
Antes de assumir o cargo instituto, Ramos foi presidente do Movimento Todos pela Educação e professor e reitor da Universidade Federal de Pernambuco. Ele também foi secretário de Educação de Pernambuco.
Mozart é doutor em química pela Unicamp. Em entrevistas, defendeu a valorização da carreira dos professores como forma de resolver um dos gargalos da educação.
Em 2010, em entrevista à Folha, Mozart disse ser necessário criar uma agenda para a educação que não seja de governo, mas de Estado. "Há uma clareza muito grande de que, após a redemocratização do país, após a economia ficar sólida, a terceira revolução que a gente tem de fazer é a da educação: é preciso envolver toda a sociedade nisso."
O desejo do presidente eleito era ter à frente da pasta a presidente do Instituto Ayrton Senna, Viviane Senna, mas ela demonstrou resistência a assumir o posto. ?
Na semana passada, em um encontro sigiloso, Viviane e Mozart se reuniram com o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Após a reunião, Mozart chegou a negar à Folha que tivesse havido sondagem para o cargo ministerial durante a reunião.
A nomeação representa um ponto para a deputada eleita Joyce Hasselmann (PSL), que foi quem apresentou Vivane a Bolsonaro. Ainda na campanha, Viviane visitou Bolsonaro em sua casa, no Rio.
Viviane é irmã de Ayrton Senna, piloto tricampeão brasileiro de Fórmula 1 que morreu em acidente em maio de 1994, enquanto competia na Itália.
Principais desafios para a educação
Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
O documento que indica o que as escolas públicas e privadas devem ensinar da educação infantil ao ensino fundamental está em fase de implantação nos estados e municípios. Ainda falta a parte referente ao ensino médio.
Ensino médio
Considerado o maior gargalo da educação básica, com altas taxas de abandono e baixos indicadores de aprendizado. A reforma da etapa, proposta pelo governo Temer, só pode ser posta em prática após a aprovação da BNCC referente à etapa (ainda está em discussão no Conselho Nacional de Educação). Além disso, parte do conteúdo poderá ser oferecido a distância.
Educação infantil
Menos de um terço das crianças de até 3 anos estão em creches. A meta incluída no PNE (Plano Nacional de Educação) é matricular ao menos metade das crianças dessa faixa etária até 2024. Na pré-escola, todas as crianças de quatro e cinco anos deveriam estar matriculadas desde 2016. No entanto, mais de 500 mil não têm vaga (9,5% do total)
Escola sem Partido
O projeto, que limita a liberdade do professor na sala de aula e veta abordagens sobre temas de gênero e sexualidade, tramita no Congresso. Bolsonaro é favorável à proposta e descreve a suposta doutrinação política como um dos grandes problemas da educação. Segundo especialistas, essa visão coloca em jogo o modelo de escola que o país deveria adotar.
Fundeb
O fundo, uma das principais fontes de financiamento da educação básica no país, deixa de valer em 2020. Novas versões são discutidas no Congresso Nacional, e propõe-se, entre outras coisas, ampliar a contribuição financeira da União.