Governadora e senador mexicanos morrem em queda de helicóptero
Martha Érika Alonso havia assumido o Governo de Puebla há 10 dias após uma eleição conturbada.
A governadora do Estado mexicano de Puebla, Martha Érika Alonso, e seu esposo, o ex-governador e atual senador do PAN Rafael Moreno Valle, morreram nesta segunda-feira, 24, em um acidente de helicóptero do qual ainda não se sabe as causas. O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, confirmou as mortes pouco depois das 17h30, horário local (21h30 de Brasília), e anunciou a abertura de uma investigação sobre as circunstâncias do acidente. Na aeronave viajavam, além dos políticos, os dois pilotos e “supostamente um quinto ocupante", como informou horas depois o secretário (ministro) de Segurança Pública, Alfonso Durazo.
A queda do helicóptero aconteceu nas proximidades do aeroporto internacional de Puebla, entre os municípios de Santa Maria Coronango e Tlaltenango, pouco após a decolagem. “Quando o helicóptero se encontrava em voo, a três milhas do aeroporto, sofreu uma aparente falha, ainda desconhecida, que fez com que caísse”, disse Durazo em uma entrevista coletiva convocada no final da tarde.
O helicóptero era propriedade da Serviços Aéreos do Altiplano, uma empresa com sede no aeroporto de Puebla, e tinha um certificado de funcionamento outorgado em setembro deste ano e com validade de dois anos. O Governo federal já entrou em contato com os fabricantes da fuselagem e das turbinas para que façam parte das investigações. “O tempo da investigação é incerto por enquanto. A aeronave ficou muito destruída, mas esperamos que os especialistas possam trabalhar o quanto antes”, afirmou o ministro de Comunicações e Transportes, Javier Jiménez Espriú, no pronunciamento do qual participaram quatro membros do gabinete de López Obrador (partido Morena, de esquerda). O Governo de Puebla exigiu, por sua vez, uma investigação “transparente e imparcial” que permita esclarecer os motivos do acidente. O porta-voz do Executivo do Estado, Maximiliano Cortázar Lara, também pediu o apoio internacional para dar mais credibilidade às investigações.
Os serviços de emergência e a polícia foram ao local do acidente, uma plantação de milho acessível unicamente por uma estrada de terra, e isolaram imediatamente a área. Testemunhas relataram ao EL PAÍS o forte barulho ouvido por volta das 15h (19h de Brasília). Imediatamente, vários moradores de Tlaltenango foram ver o que havia acontecido e encontraram a aeronave em chamas.
Puebla é, com pouco mais de seis milhões de moradores, um dos Estados com mais habitantes do México. Sua capital, Puebla de Zaragoza, é a terceira maior cidade do país norte-americano.
O acidente abalou o México às vésperas do Natal, e as reações e mensagens de pêsames foram constantes. “Pessoalmente, meus mais profundos pêsames aos familiares do senador Rafael Moreno Valle e de sua esposa, a governadora de Puebla Martha Érika Alonso. Como autoridade, assumo o compromisso de investigar as causas; dizer a verdade sobre o ocorrido e agir em consequência”, escreveu López Obrador no Twitter pouco depois da confirmação da morte dos dois políticos. A secretária de Governança, Olga Sánchez Cordero, também expressou sua dor pela morte de Alonso e Moreno Valle. “Com profunda tristeza expresso minhas condolências às pessoas de Puebla pela irreparável perda da governadora Martha Érika Alonso e seu esposo, meu colega senador, Rafael Moreno Valle. Minha solidariedade com sua família, amigos, colegas e colaboradores”, escreveu na mesma rede social.
“Lamento profundamente o acidente fatal em que perderam a vida Martha Érika Alonso, Rafael Moreno Valle e outras pessoas. Que descansem em paz”, escreveu, por sua vez, o presidente do PAN, Marko Cortés. “Lamento profundamente a notícia sobre o falecimento de Martha Érika Alonso e Rafael Moreno Valle. Minhas condolências para seus familiares e amigos. Sempre lembraremos deles”, disse Ricardo Anaya, ex-presidente do PAN e candidato presidencial nas eleições de julho. O ex-presidente mexicano Vicente Fox exigiu o esclarecimento do acidente: “Exigimos um esclarecimento! É difícil aceitar esse fato após uma dura batalha democrática por Puebla”, escreveu no Twitter. Os ex-mandatários Enrique Peña Nieto (PRI) e Felipe Calderón Hinojosa (PAN) também expressaram sua consternação após o ocorrido.
Martha Érika Alonso, de 45 anos, havia recém-assumido o cargo de governadora em Puebla, há somente 10 dias. Era design gráfica pela Universidade Iberoamericana e tinha mestrado em Comunicação Pública. Em 2011 assumiu a presidência honorária do sistema estatal de Desenvolvimento Integral da Família (DIF), um órgão público encarregado de atender as necessidades dos mais vulneráveis no México. Em julho, Alonso foi candidata da coalizão formada pelo PAN, PRD e Movimento Cidadão. Após a impugnação das eleições - uma das mais disputadas da história do país - por parte do segundo partido mais votado, o Morena, sua vitória nas urnas ficou em suspenso durante meses. Algumas semanas atrás, o Tribunal Eleitoral do Poder Judicial da Federação validou a vitória de Alonso e deu caminho livre para sua posse, transformando-se assim na primeira mulher a assumir como governadora de Puebla.
Seu esposo, Rafael Moreno Valle, tinha 50 anos e era coordenador do PAN no Senado e uma das figuras mais relevantes do maior partido conservador do México. Antes de entrar na política, Moreno Valle, doutor em Direito pela Universidade de Boston, foi subtesoureiro para a América Latina do Desdner Bank alemão, informa Diego Mancera. Toda sua carreira no serviço público esteve centrada em Puebla. Primeiro, como secretário de Finanças e Desenvolvimento Social, cargo que ocupou de 1999 a 2003. Depois, como deputado federal e local sob as siglas do Partido Revolucionário Institucional (PRI). Em 2006 chegou ao Senado, já com o PAN, e entre 2011 e 2017 foi governador do Estado.
No ano passado, Moreno Valle apresentou sua candidatura para liderar o Ação Nacional nas eleições presidenciais de 1 de julho, uma pretensão da qual por fim desistiu deixando caminho livre para que Ricardo Anaya comandasse a coalizão Pelo México à Frente, formada por PAN, PRD e Movimento Cidadão.
Após o falecimento de Martha Érika Alonso, o Congresso do Estado de Puebla tem no máximo 10 dias para designar um governador interino e de três a cinco meses para convocar novas eleições.