Apagão na Venezuela leva caos às cidades e coloca hospitais em situação crítica
Jornal diz que criança morreu em hospital venezuelano por causa do blecaute. Luz voltou a faltar em locais onde a energia elétrica havia rapidamente retornado.
O apagão na Venezuela completou 24 horas no fim da tarde desta sexta-feira (8). Mesmo as partes da capital Caracas que tiveram parte da energia elétrica restabelecidas mais cedo voltaram a ficar sem luz.
Pelas redes sociais, venezuelanos relatam comércio fechado, semáforos sem funcionar e caos no transporte público. O Aeroporto Internacional de Maiquetía, o principal da Venezuela, também não tem luz.
O jornal "El Nacional" denuncia que o setor de saúde da Venezuela está em situação crítica por causa do blecaute. De acordo com a publicação, tratamentos estão suspensos, há unidades fechadas e falta refrigeração de medicamentos especiais.
Segundo o médico infectologista Julio Castro, citado na reportagem do "El Nacional", uma criança morreu em uma unidade de saúde de Caracas devido ao apagão. Ele não detalhou o motivo da internação da vítima, mas informou que era um paciente em estado muito delicado.
Também segundo Francisco Valencia, outro médico citado pelo jornal venezuelano, mais de 10 mil pessoas com insuficiência renal estão sem fazer o tratamento de hemodiálise por causa do blecaute.
A imprensa venezuelana – tanto a favorável quanto a contrária ao regime de Nicolás Maduro – registraram que a luz voltou em alguns setores de Caracas nessa tarde. No entanto, de acordo com o "El Nacional" e opositores do regime, a energia voltou a cair momentos depois.
Henrique Capriles, um dos principais políticos da oposição a Maduro, negou que a energia tenha voltado. "Não há ninguém no regime usurpador que explique ao país a situação! Seu canal de propaganda só transmite informação velha", escreveu no Twitter.
Maduro: 'Guerra elétrica'
Ainda não está claro o porquê do apagão que começou na tarde de quinta-feira. Nicolás Maduro insiste em acusar "sabotagem" no sistema elétrico venezuelano, especialmente na usina de El Guri, responsável pelo apagão.
Na noite de quinta-feira, o chavista disse que tratava-se de uma "guerra elétrica anunciada e dirigida pelo imperialismo norte-americano contra" o povo da Venezuela.
Um engenheiro elétrico ouvido pelo "El Nacional", porém, nega a possibilidade de uma sabotagem ou invasão hacker ter causado o blecaute. "Demitiram profissionais para contratar partidários políticos, suspenderam planos de manutenção, fizeram compras inconvenientes e desnecessárias, além de desperdiçar recursos", disse o engenheiro Miguel Lara ao jornal venezuelano.
"Outros aspectos importantes foram o congelamento das tarifas e, assim, a concentração do setor elétrico em uma empresa técnica e economicamente inviável", avaliou Lara ao "El Nacional".
Guaidó acusa corrupção
O autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, voltou a negar a possibilidade de ter havido sabotagem no sistema elétrico, o que ele chamou de "desculpa".
"É simplesmente corrupção, falta de manutenção e de técnicos especializados", disse Guaidó depois de participar de uma cerimônia do Dia Internacional da Mulher em Caracas.
Mais cedo, Guaidó disse, pelo Twitter:
"A única sabotagem é a do usurpador a todo o povo da Venezuela".
De acordo com uma postagem de Guaidó na rede social, mais de US$ 100 milhões foram roubados do sistema elétrico venezuelano desde 2013, quando, segundo ele, o regime chavista militarizou o sistema.
Roraima ficou sem luz
O apagão também atingiu o estado brasileiro de Roraima, mantido em 100% por usinas termelétricas, anunciou nesta sexta-feira a Roraima Energia, empresa responsável pela distribuição no estado. O problema teve início ainda na quinta-feira, após identificação de dois desligamentos na interligação Venezuela-Brasil.
O estado é o único da federação que não faz parte do Sistema Interligado Nacional (SIN). A diferença o faz dependente de outras fontes distribuidoras de energia, no caso, a Venezuela, através do Linhão de Guri, e também de usinas termelétricas.