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Cabral admite que comprou, por US$ 2 milhões, votos para trazer a Olimpíada para o Rio

Ex-governador citou participação do ex-presidente do COB Nuzman, que disse: 'Isso não aconteceu'.

Por G1 04/07/2019 18h06
Cabral admite que comprou, por US$ 2 milhões, votos para trazer a Olimpíada para o Rio
Sérgio Cabral está preso desde novembro de 2016 - Foto: Giuliano Gomes/PR Press

O ex-governador Sérgio Cabral admitiu pela primeira vez que comprou, por US$ 2 milhões, votos que garantiram a escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016.

Em depoimento nesta quinta-feira (4) ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, responsável pela Lava Jato no Rio de Janeiro, Cabral disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-prefeito Eduardo Paes não participaram do esquema, mas sabiam dos pagamentos de propina.

Em nota, a assessoria de Lula afirmou: "É inverídica e sem provas a referência feita ao ex-presidente Lula pelo ex-governador Sergio Cabral".

Paes disse: "no depoimento dado hoje, o Sr. Sérgio Cabral disse, com todas as letras, que Eduardo Paes não participou de qualquer esquema de compra de votos. Eduardo Paes reafirma, ainda, que nunca soube da existência do referido esquema.”

O interrogatório desta quinta foi um pedido da defesa de Cabral, que pretende colaborar com as investigações da Operação Unfair Play. Ele afirmou que o ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, indicou o presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), Lamine Diack, como intermediário da negociata.

No processo, Cabral é acusado pelo Ministério Público Federal de envolvimento em um suposto esquema de compra de votos no Comitê Olímpico Internacional (COI). Os investigadores querem saber se houve fraude na eleição do Rio para receber os Jogos Olímpicos.

Além de Cabral e de Nuzman, o ex-diretor do COB Leonardo Gryner e o empresário Arthur Soares Filho, conhecido como Rei Arthur, foram denunciados por corrupção devido à suspeita de compra de votos. As defesas negam. Lamine Diack e o filho dele, Papa, são acusados de intermediar o pagamento de US$ 2 milhões.

Detalhes do depoimento de Cabral

No depoimento desta quinta, Cabral contou que, em agosto de 2009, durante a campanha trazer os Jogos Olímpicos ao Rio, foi procurado por Nuzman, então presidente do COB, para um "encontro urgente" depois de um evento esportivo em Roma.

"Eu não sabia qual seria a repercussão de um núcleo europeizado muito forte [na votação]. Nessa natureza, o Nuzman vira pra mim e me fala: 'Sérgio, quero te abrir que o presidente da IAAF, Lamine Diack, ele é uma pessoa que se abre pra vantagens indevidas. Ele pode garantir 5 ou 6 votos. Ele quer, em troca, US$ 1,5 milhão'", disse o ex-governador.

No interrogatório, Cabral disse ter perguntado a Nuzman de onde viriam os votos e qual a garantia de que seriam de fato obtidos. O então presidente do COB teria respondido que seriam de membros africanos do comitê e também de representantes do atletismo.

Serguei Bubka e Alexander Popov

Entre os nomes citados por Cabral como tendo vendido o voto estão dois grandes nomes da história do esporte olímpico: o ucranianos Serguei Bubka, considerado o maior saltador com vara de todos os tempos, e o nadador russo Alexander Popov, quatro vezes medalhista de ouro olímpico.

"O COI tem uma cota de atletas que votam. Além deles, me garantiram o nome do ex-atleta Serguei Bubka (ucraniano) e de Alexander Popov, grande campeão da natação", contou Cabral.

A equipe de reportagem ainda não obteve resposta de Bubka e Popov sobre as acusações.

Após o encontro, Cabral disse que iria confiar em Nuzman para tratar dessa negociação. Afirmou, no entanto, que iria conseguir um empresário de confiança para fazer os pagamentos necessários para o acordo.

"Eu chamei o [empresário] Arthur Soares e falei pra ele da necessidade de conseguir o dinheiro para os votos. Isso foi debitado do crédito que eu tinha com ele. Fui eu que paguei. Eu dei o telefone do Léo [Leonardo Gryner, ex-diretor de operações da Rio 2016], e eles acertaram com esse Papa Diack, filho de Lamine Diack", contou o ex-governador.

Cabral disse que, em setembro de 2009, em Paris, dias antes do jantar que ficou conhecido como "Farra dos Guardanapos", Gryner e Nuzman o alertaram sobre a possibilidade de conseguir mais votos para a campanha do Rio.

"Em Paris, no hotel, eu fui chamado no canto pelo Léo e pelo Nuzman, que me falaram de um problema. O Nuzman falou que Papa Diack disse que conseguiria mais votos. Ele disse que poderíamos chegar em 9 votos no total. Mas que precisava de mais US$ 500 mil. Eu disse pra ele que seria feito", contou Cabral.

O evento citado aconteceu em 14 de setembro e o pagamento teria sido feito no dia 29 do mesmo mês.

Diante de Bretas, Cabral afirmou que talvez a compra de votos não fosse necessária para que o Rio fosse escolhido como sede olímpica. Mas o ex-governador questionou: "E se eu não tivesse comprado? Eu não iria ficar nessa dúvida".