Com muito drama, Amor de Mãe sofistica o horário das nove global
A novela de Manuela Dias teve primeiro capítulo com elenco talentoso, enredo envolvente e direção certeira

imagem começa desfocada. Aos poucos identificamos a pessoa chegando. Lurdes, 57 anos, nordestina, há anos no Rio de Janeiro, senta-se e começa a contar sua história. Nada de belas paisagens com cara de videoclipe, em primeira fase morosa que demora dias até a história começar de fato. Amor de Mãe, a nova novela das nove global, chegou dizendo a que veio. Antes mesmo da abertura os telespectadores entenderam o mote desta narrativa recheada de drama no enredo e sofisticação estética na embalagem.
Voltando à cena inicial. Lurdes, vivida por Regina Casé, começa a contar um pouco de seu caminho a Vitória, esta interpretada por Taís Araújo. Vinda do interior do Rio Grande do Norte, a veterana hoje é babá no Rio. O que só o telespectador fica sabendo em flashback curto, simples, é que Lurdes matou o marido por acidente – ele tinha vendido um dos filhos deles enquanto a mulher dava a luz a um quarto rebento. Na fuga, a família encontra outra criança recém-nascida. Olhos marejados.
O foco passa para Vitória. A advogada sonha em ser mãe, tanto que já está na fila de adoção, mas também continua com as sessões de inseminação artificial. Descobrimos com mais uma rápida volta no tempo outro fato: ela estava grávida de seis meses quando perdeu o filho. Outro detalhe. Vitória defendia o acusado de um crime brutal, que é absolvido. É quando a mãe da vítima a agride, contribuindo para o aborto. Lágrimas.
Agora é Thelma, personagem de Adriana Esteves, que segue seu rumo quando é quase atropelada ao passar mal no meio da rua. Lurdes é quem acode, levando-a para o hospital. Lá descobre um aneurisma inoperável. É apresentado, enfim, o terceiro e último flashback, a razão do amor desta mãe, que perdeu o marido em um incêndio e, desde então, dedica-se exclusivamente a cuidar do único filho. Adivinhem? Mais choro.
Se o enredo não demorou a ser revelado, claro e direto, o drama também não se escondeu. Tudo parece ter sido calculado para nos fisgar pela emoção. Mas mesmo com alta carga de sentimentos, Amor de Mãe passou longe do piegas. Contando uma história com viés menos tradicional, ou seja, sem vilões de desenho animado ou mocinhas desavisadas em primeiro plano, a trama teve cara de vida real. A começar pelos personagens tridimensionais, cheios de contradições, conduzidos por um elenco afiado. Nos bastidores, José Luiz Villamarim comandou as câmeras com pés no chão, trazendo muita naturalidade, uma vibe de reality show, de documentário.
O que tornou o primeiro capítulo de Amor de Mãe em experiência digna de nota foi a soma de bom texto, atuações exemplares e direção certeira. Depois de grandes decepções com um dos nossos passatempos mais queridos, a novela das nove, é um bálsamo poder contar com essa trinca de ouro na telinha de novo. Agora é acompanhar de segunda a sábado. De preferência com uma caixinha de lenços à mão.
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