Sepultador do Cemitério do Caju enterrou a própria mãe, um filho e a ex-mulher
E para quem uma média de 15 sepultamentos por dia, as lembranças são muitas.
Estima-se que o rito de enterrar corpos após a morte seja uma das atividades mais antigas do mundo. Por isso, o ato de despedir-se de alguém e deixá-lo sob a terra faz com que o ofício do sepultador seja um dos mais longevos da humanidade. O sepultador — o Cemitério do Caju adota este termo em vez de “coveiro” como forma de valorizar a profissão — Ubirajara da Silva, de 48 anos, tem muitas histórias a contar, apesar do pouco tempo de profissão. Em dois anos, ele enterrou a mãe, vítima de um enfisema pulmonar, a ex-mulher, que teve câncer, e um dos filhos, assassinado durante uma briga de rua.
— A proximidade com a morte mudou a percepção sobre ela. Hoje, sinto mais a dor das famílias. O dia em que eu deixar esse sentimento de lado, eu vou deixar de ser humano. Não somos uma máquina. Nós também nos emocionamos com as histórias — conta.
Leonardo Santana, de 25 anos, trabalha como sepultador há dois. Durante esse tempo, foram muitos os momentos onde ele precisou controlar a emoção ou lidar com situações de desespero das famílias. Assim como ele, dezenas de outros funcionários da necrópole lidam diariamente com a morte e tratam do assunto com naturalidade.
— É uma profissão como outra qualquer. O trabalho de sepultador causa estranheza em algumas pessoas, mas é preciso desmistificar esse assunto: todo mundo vai morrer, e o cemitério não é um lugar tão sombrio quanto pensam. Lidar com o fim de uma vida é uma grande responsabilidade.
E para quem uma média de 15 sepultamentos por dia, as lembranças são muitas.
— Já presenciei corpos caindo porque o caixão quebra no meio do sepultamento, famílias que reclamam e exigem uma cova sete palmos abaixo da terra (a profundidade normal é de 80 centímetros) e até parentes que pegam a coroa de flores da cova ao lado e a colocam sobre a sepultura do seu ente — conta Leonardo, destacando que, nesses dois anos, nunca viu fantasmas no Cemitério do Caju. — Assombrações só aparecem para quem acredita nelas, e eu, definitivamente, não creio em coisas sobrenaturais.
Há 55 anos trabalhando no Cemitério do Caju, o maior do Rio de Janeiro, o capeleiro Vergílio Fernandes, de 80 anos, conhece cada canto da necrópole. Segundo ele, a profissão de capeleiro veio por acaso para a sua vida.
— Desde 1964 eu atuo nessa função, de receber as famílias que chegam, conduzir os parentes às capelas e controlar a saída de corpos para enterros. No início, era mais difícil lidar com a emoção; hoje, eu sei lidar. Se vejo que vou me emocionar, me afasto e reencontro a concentração — conta.
Em meio século, são muitas as recordações.
— O enterro que mais trouxe pessoas ao Caju foi o do cantor Paulo Sérgio, morto em 1980. Os de Tim Maia, do técnico do Flamengo e da seleção Cláudio Coutinho e o da Dona Neuma, considerada a primeira-dama do samba, também tiveram grande comoção — enumera ele.
Veja também
Últimas notícias
Batalhão de Choque é acionado para desobstruir a BR-104 após protesto por falta de água em Rio Largo
Bolsa supera os 162 mil pontos com dados de desaceleração da economia
Moraes manda exames de Bolsonaro para perícia da PF analisar
Após SBT negar ida de Flávio em programa, Ratinho confirma presença
Pesquisa da Flup mostra força da literatura nas periferias do Rio
Renan Filho autoriza R$ 481 milhões em investimentos na duplicação da BR-104/AL
Vídeos e noticias mais lidas
“Mungunzá do Pinto” abre os eventos do terceiro fim de semana de prévias do Bloco Pinto da Madrugada
Família de Nádia Tamyres contesta versão da médica e diz que crime foi premeditado
Prefeito de Major Izidoro é acusado de entrar em fazenda e matar gado de primo do governador
Promotorias querem revogação da nomeação de cunhada do prefeito de União
