Saúde

Doenças do coração matam mais brasileiras que câncer de mama

Mulheres têm fatores de risco em comum com os homens

Por R7 08/03/2020 16h04
Doenças do coração matam mais brasileiras que câncer de mama
Maioria das brasileiras morre por doenças no coração - Foto: Divulgação

No Brasil, 54% das mulheres morrem por doenças do coração, como o infarto, enquanto o câncer de mama é a causa de morte de 14%.

Entretanto, quando questionadas, 65% dizem pensar que irão morrer de câncer, e apenas 15% citam as doenças cardíacas. Os dados são da SBD (Sociedade Brasileira de Cardiologia).

"Desde a puberdade, as mulheres ficam expostas a fatores que agridem o coração, como o uso inadequado de anticoncepcionais, a gravidez e, mais tarde, a menopausa", observa a médica Walkiria Ávila, chefe do Setor de Cardiopatia, Gravidez e Planejamento Familiar do InCor (Instituto do Coração), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

A população feminina não adota medidas de prevenção contra as doenças cardíacas, observa a cardiologista. É por isso que elas são mais letais que o câncer de mama, na avaliação da especialista.

"Elas levam o marido e o filho ao médico, mas elas mesmas não vão fazer exames — 60% não sabem qual seu nível de colesterol", exemplifica.

Menopausa é fator de risco

O alto nível de gordura no sangue é um dos fatores de risco em comum entre homens e mulheres, assim como diabetes, pressão alta, tabagismo, obesidade e histórico familiar. 

"Mas uma mulher que fuma tem sete vezes mais risco [de sofrer] infarto que o homem, porque existem receptores nos vasos sanguíneos que provocam uma reação mais inflamatória ao tabagismo", ressalta.

Porém, existem condições de vulnerabilidade que atingem apenas elas, como a menopausa e o uso de anticoncepcionais sem orientação médica.

"Na menopausa, as mulheres perdem estrógeno, um hormônio que protege os vasos sanguíneos, então aumenta o risco de AVC (acidente vascular cerebral), que é a primeira causa de morte em mulheres acima dos 35 anos", explica Walkiria.

"Nessa fase, também aumenta o colesterol e fica mais difícil controlar a glicemia [nível de açúcar no sangue]", acrescenta.

Por sua vez, se usado sem recomendação médica e em doses icorretas, o anticoncepcional também se torna um vilão para o coração. Isso acontece porque a pílula possui estrógeno sintético que, nessa situação, vai agredir os vasos sanguíneos ao invés de protegê-los, diz a especialista.

Síndrome do ovário policístico, hipertensão na gravidez [pré-eclâmpsia] e diabetes na gestação são outras complicações que merecem atenção.

Segundo a cardiologista, o risco de doença cardíaca é três vezes maior para mulheres que tiveram pré-eclâmpsia.

"E isto é importante destacar, porque muitos médicos não fazem essa pergunta para suas pacientes", acrescenta.

Abandonar o fumo, praticar atividades físicas e fazer exames periódicos são as recomendações de Walkiria para que as mulheres mantenham seus corações saudáveis.

"Acima dos 35 anos, elas devem se consultar com um cardiologista uma vez por ano. Também é importante cuidar da saúde mental, porque o risco de infarto na mulher que tem depressão é muito maior em relação ao homem", aconselha.