Caos total no Caps: “Só não falta vontade de ajudar”, afirma presidente de comitê
Servidores estariam fazendo grande esforço para superar problemas manter atendimento a 900 usuários
Remédios, alimentação, combustível, materiais de limpeza e de higiene e até mesmo grampos para papel. Falta de tudo no Caps 2 Nise da Silveira, em Arapiraca, que presta atendimento psicossocial a 900 usuários em Arapiraca. “A única coisa que não está em falta é a vontade de ajudar dos profissionais que trabalham, mesmo com tantas dificuldades”, afirma o presidente do comitê gestor da unidade, Nadson Machado.
Segundo ele, apesar de o município ter cumprido a determinação do Ministério Público e ter transferido o Centro de Apoio Psicossocial para um novo endereço, próximo ao terminal rodoviário intermunicipal, no ano passado, os problemas se multiplicam desde o começo da gestão do prefeito Rogério Teófilo (PSDB). “Os casos de usuários em crise são muito mais frequentes e, além da dificuldade de lidar com eles com o número de funcionários reduzidos, são pessoas que perdem qualidade de vida”, declarou.
Nadson conta que até dezembro do ano passado, a equipe do Centro era formada por 50 pessoas, entre elas dez contratados e a diretora, que exercia a função em cargo de comissão. Os 11 foram exonerados no final de 2019 com a promessa que seriam readmitidos no começo deste ano, mas isso não aconteceu. Restaram cerca de 40 profissionais, das áreas de saúde, assistência social e de serviços gerais que, com esforço, mantém o serviço em funcionamento.
“Antes, a prefeitura mandava embalagens plásticas para organizar os remédios que seriam entregues aos usuários. Depois desse governo, não chegaram mais dessas embalagens. Mas uma enfermeira, por dois anos, tirou dinheiro do próprio bolso para comprar. Na única vez que a prefeitura mandou as embalagens, foi suficiente apenas para dois dias. Depois, passaram a improvisar envelopes para colocar os remédios, com papel ofício fechados com grampeador. Mas os grampos acabaram”, explicou.
A falta de grampos de papel é o menor dos problemas, de acordo com o presidente do comitê gestor. Segundo ele, a falta de alguns remédios controlados é frequente. Ele explica que há casos de usuários que recebem medicamentos de alto custo do Estado e esses remédios não chegam porque os exames laboratoriais – que precisam ser realizados de três em três meses e são custeados pelo município – estão atrasados.
“Preciso deixar claro que tanto no Caps, como na Secretaria Municipal de Saúde, os profissionais são excelentes e se esforçam para fazer o melhor, incluindo o secretário Gilfson. O problema é de gestão, é que o prefeito não sabe trabalhar em equipe. Quando ele assinou o acordo para fazer parte do Conisul [consórcio de prefeituras, com o objetivo de facilitar a aquisição de medicamentos e outros bens], ele falou que em um mês não havia mais problema de falta de remédios em Arapiraca. Mas na verdade, o problema só piorou”, disse.
De acordo com Nadson Machado, até a gestão anterior, não havia dificuldade para os pacientes do Caps fazerem os exames laboratoriais que precisam ser frequentes para que os médicos possam ajustar a dosagem dos remédios controlados. Havia uma cota de exames exclusiva para o Centro, que deixou de ser enviada em 2017. Após várias reclamações de usuários e de familiares, o município passou retomou, em parte, a cota. “Mas é apenas 30% do que recebia antes, não é suficiente para todos. Além disso, ainda tem que verificar no sistema se tem disponibilidade”, disse.
Além dos 900 usuários, que são atendidos por psiquiatras, psicólogos, recebem medicamentos e participam de grupos de terapia, o Caps Nise da Silveira tem também outros 20 usuários em situação de semi-internato. Esse grupo deveria entrar no Caps 8h e permanecer até às 16h e, neste período, receber atendimento, medicação, e três refeições: café da manhã, almoço e lanche da tarde. O serviço, no entanto, frequentemente é suspenso, levando à interrupção do tratamento desses usuários, que perdem em qualidade de vida.
“Lá no Caps temos uma cozinha e funcionárias, que muitas vezes estão lá apenas para cumprir horário, porque não chega a alimentação para elas prepararem as refeições. Aí, quando tem alimentação, não tem combustível na van que vai buscar os usuários. Quando isso acontece, a enfermeira ou uma técnica, precisa ir, na casa de cada um, ministrar o remédio para eles, três vezes ao dia. É bem trabalhoso, mas mesmo assim elas vão; isto é, quando não falta combustível para isso também”, declarou.
Quando os usuários passam alguns dias sem tomar a medicação, as chances de terem uma crise aumentam e mesmo depois não podem retomar o tratamento de onde pararam. “Outros tipos de medicação, quando a gente fica sem, tem como tomar alternativa, como suco de chuchu, se não tiver o remédio que regula a pressão. Mas com medicamento controlado não é assim. Se toma um remédio de cem miligramas, muitas vezes ele não pode voltar a tomar a mesma dosagem se passou algum tempo sem tomar. Precisa tomar uma dosagem menor e ir aumentando até voltar para onde parou no tratamento”, explica.
A falta de insumos atinge até mesmo artigos básicos, como materiais de limpeza e de higiene pessoal. “Quem trabalha lá é quem leva. De vez em quando, alguém esquece de levar papel higiênico e precisa pedir ao colega. Acho absurdo uma situação dessa”, ressaltou.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da prefeitura, mas até o fechamento da matéria não obteve resposta.