Funcionários denunciam retomada de trabalho presencial em call center
Justiça do Trabalho havia mandado empresa colocar os trabalhadores em home office
Os decretos de emergência da pandemia prevêem um retorno lento e gradual das atividades econômicas em Alagoas, apesar de os números de novos casos e de óbitos demonstrar que a pandemia ainda está longe de chegar ao fim. Mesmo assim, a AeC suspendeu o expediente em home office e está inclusive contratando mais cerca de 150 funcionários para trabalhar presencialmente na sede da empresa, localizada no bairro Santa Edwirges, em Arapiraca.
“A gente vem trabalhar porque precisa, mas todo mundo trabalha com medo. A empresa está lotada de pessoas e ninguém sabe se tem alguém doente trabalhando. Todo mundo está com medo, até os supervisores”, afirmou um funcionário, que conversou com o 7Segundos com a condição de não ter o nome revelado.
Segundo ele, apenas as gestantes estão liberadas para trabalhar em home office e os demais já voltaram a cumprir expediente presencial. O retorno das atividades presenciais pode estar descumprindo decisão judicial. No dia 20 de maio, a Justiça do Trabalho determinou que a empresa coloque os funcionários em regime de home office e aceite “autodeclaração de moléstia” como pedido de afastamento dos trabalhadores que apresentarem sintomas de Covid-19, além de contratação temporária de trabalhadores encarregados de serviços gerais para reforçar a limpeza e higienização dos postos de trabalho.
A liminar foi concedida em resposta a uma ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho. Na época, o MPT informou à Justiça do Trabalho que o call center funcionava com 16 trabalhadores fixos para garantir as condições de trabalho adequadas aos 823 teleoperadores.
Conforme a denúncia, no termo da manhã a quantidade de funcionários é menor e, por conta disso, a ocupação das baias ou PAs - como são chamadas as mesas de trabalho - é distribuída de modo que os trabalhadores mantenham uma certa distância dos demais. Mas no turno que inicia às 13h, como o volume de funcionários é maior, os funcionários acabam ficando muito próximos um dos outros.
“Na entrada da empresa, tem um técnico de enfermagem que fica aferindo a temperatura de todo mundo e o uso de máscara é obrigatório. Mas a gente sabe que isso não é suficiente para proteger quem está trabalhando. Lá dentro, a equipe de limpeza passa limpando as PAs com álcool apenas uma vez, mas as cadeiras que são compartilhadas não são higienizadas”, conta.
O funcionário conta que, em conversa com colegas, surgem suspeitas de que algumas pessoas estão indo trabalhar doentes porque aqueles que se afastam e entregam atestados informando que estão com coronavírus acabam sendo demitidos.
“Esse mês aconteceram muitas demissões, de pessoas que não estavam entregando resultados e de quem apresentou atestado, porque quem é afastado não consegue bater resultado e então é demitido. Tem pessoas que, no desespero para não perder o emprego, pode estar trabalhando mesmo doente”, ressaltou.
A reportagem entrou em contato com a LGA Comunicação, empresa que presta serviços assessoria de comunicação para a AeC, que em nota, informou que 52% dos colaboradores de Arapiraca estão em regime de home office a fim de reduzir o número de pessoas no mesmo ambiente e aumentar o espaçamento entre os atendentes.
Leia a nota:
A AeC informa que 52% dos colaboradores de Arapiraca estão em regime de home office a fim de reduzir o número de pessoas no mesmo ambiente e aumentar o espaçamento entre os atendentes. Os profissionais que permanecem na operação já estão colocados na distância recomendada pelas organizações oficiais de saúde. A medida tem os objetivos de preservar o bem-estar dos colaboradores e garantir o atendimento prestado pela AeC a serviços essenciais.
Vale ressaltar que a AeC já conta com 100% dos colaboradores acima de 60 anos, 100% das gestantes e demais pessoas que compõem o grupo de risco com o direcionamento para que fiquem em suas casas.
Aos colaboradores em teletrabalho, a empresa ofereceu o fornecimento de banda larga em casa ou a ajuda de custo para o pagamento do serviço de internet. Mesmo assim, alguns profissionais não conseguiram seguir em home office por questões técnicas. Por isso, no último mês, a AeC fez um remanejamento entre funcionários que estavam trabalhando de casa e aqueles que estavam atuando na unidade.
A AeC reitera que, desde as primeiras notícias sobre o coronavírus, implementou em todas as suas unidades um rigoroso protocolo de ação baseado nas recomendações dos órgãos oficiais de saúde nacionais e internacionais. Em Arapiraca, o número de profissionais da limpeza na unidade foi dobrado. A higienização das posições de atendimento é feita a cada troca de turno; a frequência na limpeza de outras áreas que têm maior circulação de pessoas foi aumentada e a limpeza dos banheiro é feita de duas em duas horas. A unidade é frequentemente fiscalizada pelo Ministério Público e pela Vigilância Sanitária.
Além disso, os colaboradores recebem kits individuais de higiene (com flanela e álcool) para que possam efetuar a limpeza de qualquer objeto ou espaço que tenham contato na unidade.
A empresa esclarece que o afastamento por suspeita ou confirmação de COVID-19, assim como qualquer afastamento por questões de saúde, é respeitado pela empresa, conforme a legislação trabalhista. Os funcionários que entram em licença médica não são cobrados por sua performance até o período de retorno ao trabalho. As metas são ajustadas, caso a caso.
A AeC ressalta que a prioridade da empresa é e sempre será a segurança e bem-estar de todos os seus colaboradores e que valorizar as pessoas sempre foi base fundamental de seus valores e princípios inegociáveis e assim seguirá sendo durante a travessia desta situação.