Suspensão de consumo em bares e restaurantes leva estabelecimentos a dispensarem funcionários
Presidente da Abrasel afirma que fiscalização ostensiva seria mais eficaz que fechar estabelecimentos
O retorno do Agreste e Sertão para a Fase Vermelha do plano de distanciamento social controlado - que passou a valer a partir da 0h - já está impactando o setor de bares, restaurantes e lanchonetes em Arapiraca. Nesta segunda (08), vários funcionários das empresas desse setor foram dispensados.
“Quando soube da fase vermelha, já imaginava o que poderia acontecer. Mas o pior de tudo mesmo é a incerteza de como vão ficar as coisas daqui para a frente. Com isso tudo, nem dá para ter esperança de arrumar outro trabalho”, afirmou um garçom, que foi dispensado do serviço.
O 7Segundos apurou que vários estabelecimentos estão, de fato, chamando seus colaboradores para conversar e dispensando uma parte deles. Apenas os trabalhadores da cozinha, necessários para manter o atendimento delivery estão sendo mantidos.
Alguns proprietários de estabelecimentos confirmaram as informações, como é o caso do Rodeio’s. “Nós continuaremos com delivery, mas mesmo assim não tem como compensar os gastos de manutenção da casa. E nós temos uma casa grande, que trabalha com produtos caros e temos uma grande quantidade de funcionários, em torno de 70 direto, fora entregadores, fornecedores e pessoal terceirizado. O delivery não vai ter como suprir esses custos”, declarou Renata, representante da empresa.
O mesmo acontece também com a Panificadora Rio Branco, que deve desligar alguns colaboradores e colocar outros de férias. Segundo o empresário Murilo Bezerra da Silva Rocha, que está cuidando do estabelecimento que pertence ao pai dele, a decisão é tão grave que não tem como as empresas traçarem estratégias para atravessar o período.
“Não há justificativa para que uma empresa estabelecida, formalizada, com alvará de funcionamento, impostos em dias e cumprindo todas as determinações de segurança sanitária seja penalizada dessa forma. Neste contexto somos um estabelecimento essencial, porque o fechamento implica em desemprego, redução na arrecadação do município e Estado. Em vez de prejudicar a gente, deveriam fiscalizar com mais rigor os estabelecimentos que descumprem as normas e determinar o fechamento deles. Desse jeito, as empresas que sempre foram corretas correm o risco de decretar falência”, declarou.
Murilo Rocha afirma ainda que a decisão do governo estadual deve ter pouco impacto no número de casos positivos e de internamentos por Covid-19. “O que deveria estar em pauta é a consciência humana, porque a responsabilidade é de todos e não só dos bares, restaurantes e lanchonetes. E não é difícil provar isso. Basta passar perto de um banco e ver as filas que se formam, sem distanciamento nenhum. O que a gente precisa é também de um posicionamento firme do prefeito, tanto na fiscalização, como junto ao governo do Estado”, declarou.
Abrasel
O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) Regional Agreste e Sertão de Alagoas, Gentilli Diego Inacio Pereira, pensa da mesma forma. Se acordo com ele, a decisão de permitir o funcionamento de bares e restaurantes apenas no sistema de “pague e leve” ou de delivery, deve ter pouco impacto nos índices da Covid-19.
“Quando o estabelecimento cumpre todos as medidas necessárias, o risco de contaminação é pequeno. O problema é que não há fiscalização eficiente e nem punição para quem descumpre. Em vez de fazer isso, o Estado resolveu punir todo mundo. Mas isso não vai surtir muito efeito porque as festas clandestinas em chácaras vão continuar, as reuniões de pessoas em casa vão continuar”, declarou.
Antes da pandemia, restaurante tinha 26 funcionários. A partir desta segunda, restarão apenas 10
Gentilli, que é proprietário do restaurante Prime, no Arapiraca Garden Shopping, afirma que o Estado teria escolhido a “alternativa fácil”, que além de pouco eficiente, é também uma contradição com as políticas adotadas anteriormente pelo governo do Estado. "É uma narrativa criada pelo governador, que demonstrava que estava tudo bem no período da campanha eleitoral. Na época do carnaval, proibiu festas, mas deu ponto facultativo para os servidores que foram se aglomerar em casas de praia. Essas decisões sinalizavam que não havia mais risco de a situação piorar. Hoje quem está sentindo são os donos de bar e restaurantes, mas quem garante que em mais alguns dias, ele não vai determinar também o fechamento de todos setores produtivos?”, indagou.
Como empresário, Gentilli também teve que dispensar funcionários nesta segunda-feira. Ele conta que antes da pandemia, empregava 26 pessoas em seu restaurante. Atualmente contava com apenas 13 colaboradores, mas dispensou três. “Nós, proprietários de bares e restaurantes, nem podemos fazer a demissão formal desses trabalhadores, porque com o fraco movimento durante toda a pandemia, ninguém tem dinheiro em caixa para pagar as rescisões. O jeito é só fazer a dispensa mesmo”, justificou.