Arapiraca

Sequestradores se disfarçaram de pedreiros para monitorar rotina da família de Mariana

Em coletiva, forças de segurança revelaram que rotina da família da vítima era monitorada por quadrilha

Por 7Segundos 17/06/2021 17h05 - Atualizado em 17/06/2021 19h07
Sequestradores se disfarçaram de pedreiros para monitorar rotina da família de Mariana
Alfredo Gaspar, delegados e comandantes da PM concederam coletiva - Foto: SSP/AL

Antes de colocar em prática o plano para sequestrar a estudante Mariana Santos Farias, 14, a quadrilha liderada pelo empresário Maurício Pereira da Silva, conhecido também como Maurício Gordo, já vinha monitorando a rotina da família. De acordo com o delegado Gustavo Xavier, os dois sequestradores que aparecem no vídeo colocando a adolescente dentro o Onix vermelho teriam passado semanas trabalhando em uma construção em frente à residência da família, observando o dia a dia do pai, mãe e da própria Mariana.

No início da tarde desta quinta-feira (17), o secretário de Segurança Pública, Alfredo Gaspar, os delegados e os representantes das forças de segurança que atuaram na operação de resgate da adolescente sequestrada em Arapiraca, concederam entrevista coletiva que, esclareceu, entre outras coisas que a motivação dos sequestradores era pedir resgate pela vida de Mariana. Eles chegaram até mesmo a deixar um aparelho celular com os pais da adolescente, pelo qual entrariam em contato.

"Mariana demonstrou ser uma pessoa equilibrada. Ela passou por momentos difíceis, com ameaça de morte e mesmo assim permaneceu calma. O risco que ela correu foi muito grande porque ela tem 14 anos e poderia facilmente reconhecer o mentor do sequestro", declarou Alfredo Gaspar.

O secretário mais uma vez enalteceu o empenho e a união das forças de segurança que conseguiu devolver Mariana ilesa aos pais dela menos de 11h depois de ela ter sido retirada de casa pelos sequestradores.

Delegados Gustavo Xavier, Mário Jorge e Guilherme Iusten participaram de confronto com sequestradores


Quadrilha


Conforme os delegados, o inquérito policial aberto para investigar o sequestro tem poucos pontos a esclarecer. O modo de agir da quadrilha e a motivação do crime são considerados desvendados.

O sequestro da adolescente teve como mentor o empresário Maurício Pereira da Silva, conhecido como Maurício Gordo, que morreu em confronto com a polícia na noite de quarta-feira. Ele teria contratado os demais integrantes da quadrilha para cometer o crime.


Os delegados informaram que Maurício Gordo tinha passagem por receptação em São Paulo e era alvo de investigação por tentativa de sequestro de um empresário de Arapiraca. Há informações ainda que ele teria envolvimento na morte de um policial civil ocorrida há mais de 20 anos.

O mentor teria um estabelecimento comercial localizado vizinho ao do pai da vítima e eles se conheciam. Alfredo Gaspar afirmou que eles tinham uma certa proximidade e que Gordo não fazia parte da lista de suspeitos do pai da vítima.

Os dois sequestradores que aparecem nos vídeos de câmeras de segurança conduzindo a adolescente para o Onix vermelho também morreram em confronto com a polícia. Eles foram identificados como Weverton Bezerra da Paz e Antônio Amaro da Silva.

Ambos são de Maceió, assim como os outros dois envolvidos no crime que foram presos em flagrante em uma residência no bairro Gama Lins, no mesmo local em que o Onix vermelho foi apreendido. Um deles, chamado de Marcos, seria o motorista do veículo. O outro, apesar de não ter participado pessoalmente da execução do sequestro, tinha conhecimento sobre a ação criminosa e é suspeito de ter intermediado o contato entre o mentor e os demais executores do crime.

A dupla foi presa em flagrante horas após o sequestro e colaborou com as investigações, revelando, por exemplo, que Maurício Gordo faria pedido de resgate, mas o valor ainda não havia sido estipulado.

Sequestro


Segundo os delegados Gustavo Xavier, Mário Jorge e Guilherme Iusten, Maurício Gordo havia premeditado o crime e colocado Weverton Bezerra da Paz e Antônio Amaro da Silva para "trabalhar" como ajudantes de pedreiro em uma obra localizada em frente à residência da vítima. Com isso, os sequestradores puderam observar e analisar toda a rotina da família antes de colocar em prática o planejamento do crime.

Na segunda-feira (14) à noite, a quadrilha alugou o Onix vermelho e no dia do crime, a dupla, mais o motorista do veículo estacionaram na frente da residência da família e ficaram aguardando o momento em que a família voltava para casa após pegar Mariana na escola. A dupla estava armada, mas segundo a polícia, não usou violência ao abordar as vítimas.

Os sequestradores prenderam os pais de Mariana dentro de casa, mas deixaram com eles um aparelho de telefone celular, que serie utilizado para fazer contato com a quadrilha. Sob ameaça, a adolescente obedeceu e entrou no carro com os sequestradores.

De lá, conforme a polícia, eles seguiram para uma área no município de Limoeiro de Anadia, onde Maurício Gordo esperava em um Honda Civic. O motorista do Onix vermelho seguiu sozinho para Maceió, e estacionou o carro na garagem de sua residência no bairro Gama Lins, na parte alta de Maceió.

Enquanto isso, Maurício Gordo, acompanhado por Weverton e Antônio, faziam Mariana como refém e ficaram circulando com ela por estradas vicinais em Maceió. "A atuação da imprensa, divulgando o caso o tempo todo, teve grande importância. Isso e a nossa atuação criou uma dinâmica que deixou os sequestradores atormentados e fizeram com que eles liberassem a vítima", relatou Gustavo Xavier.

De acordo com ele, Mariana não chegou a ser levada para o cativeiro e foi abandonada pelos sequestradores em uma área próximo à Usina Porto Rico.

O delegado Mário Jorge afirmou que no momento em que a adolescente foi liberada pelos criminosos, as equipes estavam a postos para fechar o cerco contra eles. "Nossa equipe só agiu quando o secretário teve certeza que Mariana estava segura. Estávamos dispostos a passar dias e semanas, o tempo que fosse necessário, para agir apenas no momento que a vida da garotinha estivesse garantida", esclareceu.

Mariana Farias concedeu entrevista ao 7Segundos na madrugada desta quinta-feira, horas depois de chegar em casa e reencontrar os pais. Ela afirmou que os sequestradores não usaram violência, mas chegou a ficar na mira de revólveres e teve medo de morrer.


"Eles diziam para eu não gritar, não fazer escândalo", afirmou, relatando que o momento mais tenso foi ser abandonada na mata enquanto os sequestradores ameaçavam atirar se ela olhasse para trás.

A adolescente foi levada para o Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp) em Campo Alegre e depois foi levada para casa e recebida pelos pais sob aplausos de vizinhos e curiosos.


Operação de resgate


Alfredo Gaspar afirmou que logo após o Centro de Operações ser informado sobre o sequestro de Mariana, o 3º Batalhão da Polícia Militar e a Delegacia Regional de Arapiraca colocou todo o efetivo para tentar localizar a adolescente. Poucos minutos depois, dois helicópteros da Segurança Pública se juntavam às buscas.


As forças de segurança montaram vários pontos de bloqueio e, em pouco tempo, o Onix vermelho foi localizado na parte alta de Maceió. O veículo foi apreendido e os dois homens que estavam na residência foram presos. As informações repassadas por eles ajudaram os policiais a identificar o outro carro utilizado pelos criminosos.

No início da noite, a guarnição em que Alfredo Gaspar acompanhava a perseguição ao sequestradores sofreu uma saída de pista. Uma das pessoas que estavam no veículo sofreu ferimentos leves e foi conduzida ao hospital, mas o secretário de Segurança Pública seguiu no rastro dos criminosos, no município de Maribondo.

"Tinha acabado de sair da primeira batida quando cruzamos de repente com o carro dos sequestradores. Batemos de frente com eles, que iniciaram a troca de tiros com os delegados e isso resultou em três bandidos tombados. Tenho muito orgulho em ser secretário de Segurança em um Estado em as polícias Civil e Militar trabalham unidas de forma tão competente", declarou Gaspar se referindo aos números positivos da Segurança Pública.