A pesca artesanal é a principal atividade dos moradores do Povoado São Pedro, que fica na zona rural de Jaramataia, município do sertão alagoano. O nome do povoado foi escolhido justamente pela relação da maioria dos moradores da comunidade com a pesca. É que o povoado fica às margens do maior açude construído pelo Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) no semiárido de Alagoas.

O açude que banha o povoado tem capacidade para armazenar 19 milhões de metros cúbicos de água e começou a ser construído em 1962, sendo entregue à população em 1967. Com a finalidade de se tornar uma alternativa para o abastecimento de água no período da estiagem, o reservatório, com o passar dos anos, passou a ser utilizado também como fonte de renda com a pesca.

Açude do Dnocs de Jaramataia está cheio, para a alegria dos moradores do Povoado São Pedro. Foto: Giovanni Luiz - 7Segundos 

Cerca de 450 pessoas vivem no Povoado São Pedro. A maioria tira o sustento da pesca artesanal, realizada com rede ou tarrafa, mas, sem deixar de lado a agricultura de subsistência e a criação de animais, como cabras e gado leiteiro, como complemento da renda familiar já que a comunidade fica localizada no semiárido.

Origem

A relação dos moradores da comunidade com São Pedro começou em 1992. Até esse ano, a localidade era conhecida simplesmente pelo nome de “Acampamento”. Seu Aloisio dos Santos, presidente da Associação de Pescadores do Povoado São Pedro, ligada à colônia de pescadores Z-29, conta que foi um vereador por Jaramataia que teve a ideia de batizar o povoado com o nome do santo que também foi pescador e aquele, dentre os 12 apóstolos de Cristo, designado para governar a igreja. São Pedro é conhecido também por ser o santo que possui as chaves do céu e que tem o poder divino de mandar chuva aqui para a terra, segundo a cultura popular.

“Hoje somos gratos a esse vereador pela escolha do nome poque nós aceitamos e tem tudo a ver com a gente porque somos pescadores também”, conta seu Aloisio.

Igrejinha de São Pedro do Povoado do mesmo nome em Jaramataia, sertão de Alagoas.Foto: Giovanni Luiz - 7Segundos  

Fé

Os pescadores também relatam momentos difíceis que passam por causa da estiagem que sempre assola a região e dificulta a vida de todos na comunidade, alguns anos mais, outros, menos. Um episódio recente serviu para aumentar a fé em São Pedro, conta Seu Aloisio. Ele relembra secas históricas como a de 2012, quando o nível do açude baixou muito, prejudicando a pesca.

A última seca pesada que enfrentaram foi em 2016, relatam os pescadores. Até esse ano, coincidência ou não, a procissão em homenagem à São Pedro era realizada apenas por terra, pelas ruas da comunidade. A partir de 2017 os pescadores moradores passaram a realizar também a procissão pelas águas do açude e a partir de então, coincidência ou não, nunca mais faltou água no açude. “São Pedro sempre manda chuva para o nosso açude e nunca mais ele secou e nem faltou peixe para nós, graças a Deus e a São Pedro”, conta o pescador Walter Santos.

Imagem de São Pedro ao lado da imagem do Cristo crucificado e da imagem de Nossa Senhora Aparecida.Foto: Giovanni Luiz - 7Segundos 

Pesca

Das águas do velho açude os moradores do Povoado São Pedro conseguem pescar espécies como a corvina, a piaba, a xira, piau e a tilápia. A pesca é feita com canoas, redes e tarrafas. A venda do pescado é feita em feiras livres da região e também de porta em porta. Com tanta tradição com o peixe, não seria diferente a comunidade também preparar pratos típicos como um ensopado de peixe ou uma peixada cozida.

Prato preparado com peixe pescado no açude de Jaramataia. Foto: Giovanni Luiz - 7Segundos

Tradição

Outra tradição da comunidade é fazer as fogueiras em homenagem aos santos do mês de junho. Apesar da pandemia, como a comunidade fica numa área rural, moradores de casa mais distantes se preparam para acender a fogueira em homenagem a São Pedro também no dia do santo, como a Dona Maria Lúcia, 65 anos, esposa de um ex-pescador. “Não podemos deixar de acender a fogueira para o nosso protetor, São Pedro”, disse a dona de casa. eu Vinícius Correia, marido de Dona Maria Lúcia, já foi pescador e também agradece dádivas que o santo proporcionou à comunidade desde que foi escolhido padroeiro. "São Pedro é o nosso guia e sempre manda a chuva quando a gente precisa", disse o ex-pescador.

Dona Maria Lúcia montando a fogueira que vai acender em homenagem a São Pedro neste dia 29 de junho. Foto: Giovanni Luiz - 7Segundos

Procissão

Apesar da pandemia, a comunidade programou algumas atividades para este dia 29 d junho em homenagem a São Pedro. A procissão no açude está programada para começar às 14h e no finalzinho da tarde, por volta das 17h, vai ter missa e batizado na igrejinha de São Pedro,na própria comunidade. “Não podemos fazer festas por causa da pandemia, mas também não podemos deixar de agradecer a São Pedro por tudo o que ele faz por nós”, conta o pescador Antonio dos Santos.

Além de São Pedro, os pescadores também levam a imagem de Nossa Senhora Aparecida em procissão neste dia 29 de junho em agradecimento à santa que foi encontrada por pescadores no rio Paraíba do Sul, atual estado de São Paulo, no início do século XVIII, segundo conta a história.

Embarcações vão percorrer as águas do velho açude do Dnocs neste dia 29 de junho no Povoado São Pedro em Jaramataia. Foto: Giovanni Luiz - 7Segundos