Pessoas se sentem gratificadas em ajudar pelo simples prazer de praticar o bem
Muita gente ainda se comove com a situação do outro e fornece ajuda voluntária das mais diversas formas, seja para as pessoas ou para os animais
Fazer o bem sem olhar a quem. A frase, pra lá de conhecida, talvez até já tenha se tornado clichê, mas, apesar disso, ainda se aplica a muita gente, pessoas que dedicam um tempo de suas vidas para ajudar ao outro sem a intenção de se promover, querer ou pedir algo em troca. Muitas vezes essa vontade ou necessidade de ajudar ao próximo nasce de forma espontânea. Em alguns casos, também pode surgir de um episódio marcante ou algum acontecimento que desperta o desejo de realizar algo mais prático em benefício de alguém.
É o caso do Projeto João Lucas que foi criado em 2014 em homenagem ao estudante João Lucas, que cometeu suicídio em 2013 aos 19 anos de idade. João Lucas tirou a própria vida pouco tempo depois do falecimento de outros dois amigos do estudante, também por suicídio. O projeto João Lucas nasceu desse triste episódio, mas com a intenção de transformar a vida das pessoas ou de pelo menos, dar um suporte psicológico a quem precisa de uma palavra amiga ou gesto de incentivo para continuar motivado a viver.
Voluntários do Projeto João Lucas em ação antes da pandemia. Foto: cortesia
A iniciativa partiu da jovem conselheira tutelar de Arapiraca, Julyana Marques Torres. Julyana reuniu amigos e decidiu canalizar as emoções pela morte do João Lucas, que era seu ex-namorado, transformando a dor e o amor que sentia por João Lucas em solidariedade e esperança.
A ideia de levar às pessoas um pouco de carinho e calor humano foi abraçada por vários voluntários e atualmente o Projeto João Lucas conta com a participação de cerca de 30 pessoas. São estudantes e profissionais das mais diversas áreas que atuam no projeto de diferentes formas, seja ministrando palestras e desenvolvendo ações voltadas à prevenção do suicídio, como também em ações sociais, que ocorrem geralmente nas ruas.
Projeto João Lucas pode ser encontrado nas redes sociais. Foto: cortesia
As ações voltadas à prevenção do suicídio são realizadas em escolas, instituições e empresas sempre que somos solicitados, mas, no momento, essas ações estão mais restritas devido à pandemia.
"As nossas palestras tem uma abordagem motivacional, nós contamos para as pessoas como surgiu o projeto, a importância de se falar sobre o suicídio para que a gente possa identificar sinais de que a pessoa está prestes a cometer tal ato porque segundo a Organização Mundial de Saúde, 90% dos suicídios poderiam ter sido evitados porque as pessoas dão pistas, sinais de que pretendem praticá-lo e a gente precisa estar atento, saber identificar esses sinais para evitar que o pior aconteça. Nós também fazemos uma abordagem técnica e especializada ao tema com as psicólogas voluntárias do projeto", disse Julyana Torres.
Palestra em escola realizada antes da pandemia pelo Projeto João Lucas. Foto: cortesia
O projeto João Lucas também incentiva os jovens aconhecer uma outra realidade e a ajudar pessoas em situação de rua. Uma desas ações é a distribuição de um sopão nas ruas de Arapiraca, que ocorre semanalmente com um grupo de voluntários do projeto.
O projeto também realiza campanhas para ajudar famílias em situação de vulnerabilidade social com a entrega de cestas básicas, como a que ocorreu na comunidade Mangabeiras, em Arapiraca, recentemente, onde 40 cestas básicas foram entregues às famílias da comunidade que dependem da cata do lixo para se manter. O projeto João Lucas também realiza ações inclusivas, como o Dia das Crianças e o Natal Solidário, com brincadeiras e distribuição de brinquedos, além de dar calor humano aos mais necessitados.
Ação recente do Projeto João Lucas na comunidade Mangabeiras em Arapiraca. Foto: cortesia
A coordenadora do Projeto João Lucas, Julyana Torres, diz que os planos futuros após quase sete anos de atuação na região de Arapiraca é transformar o projeto em uma ONG (Organização Não Governamental) para ampliar os benefícios à população com atendimento e assistência psicológica o ano todo.
"Fico muito feliz em ver o projeto sendo abraçado por muitas pessoas e sinto que estamos fazendo a nossa parte como seres humanos, ajudando e motivando. Entendo que para tudo existe um propósito e enquanto houver um coração sendo tocado, o Lucas permanecerá vivo através de outras vidas. Temos relatos de voluntários do Projeto que dizem que foram salvos e resgatados pela nossa história. É um bem que não se compra, não se paga.
Amor aos animais
Os seres humanos não são os únicos a precisar de ajuda, de amor, de carinho e de atenção. Os animais também demonstram essa necessidade e é pensando neles que a dona de casa Vilma Silva, 56 anos, dedica parte de seu tempo. Sempre que passa pela Rua Samaritana, Bairro Santa Edwiges, em Arapiraca, Dona Vilma para um pouco ao lado de um terreno que fica ao do Fórum do Tribunal de Justiça de Alagoas para dar alimentar alguns gatos que vivem no local.
Dona Vilma Silva alimentando os gatos. Foto: Giovanni Luiz - 7Segundos
Dona Vilma leva numa sacola plástica, ração e água. com muita discrição, ela para em frente ao terreno, que é murado e tem um portão de ferro, e começa a alimentar os gatinhos. Disse ainda que uma amiga dela ajuda na compra da ração que distribui com os animais.
De tanto passar pelo local, Dona Vilma já conhece o temperamento de alguns deles. "Essa gata aqui é braba e ciumenta, gosta de avançar nos outros gatos", diz Dona Vilma.
Dona Vilma observa os gatos que cuida quando passa pela Rua samaritana, em Arapiraca. Foto: Giovanni Luiz - 7Segundos
No local existem cerca de sete gatos. De tanto receberem o agrado e o carinho da dona de casa, os animais também já demonstram afeto espontâneo por Dona Vilma, roçando o corpo nas pernas dela enquanto Dona Vilma conversava com a reportagem do Portal 7Segundos. Ela também improvisa um abrigo para proteger os gatos do calor de frio com caixas de papelão e pedaços de madeira e telhas de amianto.
Dona Vilma ao entrar no terreno onde os gatos vivem. Foto: Giovanni Luiz - 7Segundos
Dona Vila estava receosa em falar com a nossa reportagem com medo que a exposição de sua ação tão nobre e de seu gesto tão generoso acabe prejudicando os animais. "Tem gente maldosa que denuncia e provoca envenenamento nos bichos, que não quer ver os animais assim, soltos, porque eles acabam indo para os telhados, então teria de haver um local mais adequado para eles ficarem, que houvesse a castração, que os poderes públicos se preocupassem mais com os animais, com a saúde deles também.
Dona Vilma contou ainda que sofre preconceito por cuidar dos animais que vivem nas ruas, que é criticada por quem conhece esse lado dela que procura agir em benefício dos animais, que são seres indefesos, mas ela reforça: "eu gosto de ajudar os animais porque eles não têm donos e estão extremamente abandonados e estão passando fome, por isso eu os ajudo", disse a dona de casa.
Gatos comem ração comprada por Dona Vilma, que faz questão de alimentar os indefesos animais. Foto: Giovanni Luiz - 7Segundos