[Vídeos] Estação meteorológica da Ufal Arapiraca coleta dados em benefício da agricultura
A estação pertence ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Alagoas e trabalha monitorando dados relacionados ao clima e ao tempo na região de Arapiraca
A estação meteorológica da Ufal Campus Arapiraca pertence ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Alagoas e fica instalada num terreno de 625 metros quadrados, numa área próxima aos laboratórios do curso de Agronomia. Os equipamentos da estação foram adquiridos em 2006 com recursos do Finep, uma agência pública financiadora de estudos e projetos ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, mas a estação só começou a funcionar em 2012.
Estação meteorológica do Campus Ufal em Arapiraca. Foto: Giovanni Luiz-7Segundos
Finalidade
A função da estação meteorológica é monitorar dados relacionados ao clima e ao tempo na região de Arapiraca. A estação trabalha com a agrometeorologia, que é a aplicação da meteorologia na agricultura. “É mais voltada para a coleta de dados com base em variáveis que podem ser utilizadas para fazer o planejamento e tomar decisões em curto prazo em relação a uma ou outra determinada cultura”, explica o professor José Vieira, responsável pela estação.
Funcionalidade
A estação funciona 24 horas por dia coletando informações relacionadas aos índices de chuva, velocidade e pressão do vento. Um computador com datalogger (sistema coletor de dados), armazena as informações coletadas pela estação através de vários cabos conectados a 18 sensores instalados na torre e no solo para captar dados relacionados a fatores como velocidade do vento, temperatura e umidade do solo.
Monitor Floriano Damasceno e professor José Vieira coletam dados em estação meteorológica. Foto: Giovanni Luiz-7Segundos
O computador que opera na estação consegue armazenar cerca de 1 milhão de dados por um período de seis ou sete meses, explica o aluno do 9º período do curso de Agronomia, Floriano Damasceno, monitor da Estação Meteorológica desde 2018.
“Periodicamente, mais de uma vez por mês, a gente baixa esses dados, organiza e os utiliza em nossas pesquisas aqui no Campus. Por exemplo, num experimento com o amendoim a gente vai analisar o que aconteceu no ambiente onde aquela cultura foi plantada, as influências do clima naquela plantação durante um determinado período para que se possa corrigir algum problema, caso haja, ou seja, nos ajuda a explicar o que aconteceu com aquela cultura”, complementa Floriano.
A estação meteorológica também é composta por um pluviômetro, equipamento utilizado para coletar dados sobre os índices de chuva. “O pluviômetro que a gente tem aqui na estação é automático, com báscula, uma espécie de gangorra ou balança, composto também por uma área de captação onde a água da chuva cai. Cada vez que um dos lados da báscula enche, com o peso, ela faz um movimento, despejando a água quando se alcança um determinado volume, e quando isso acontece, automaticamente, o computador registra o volume de água coletado. Depois a gente faz a leitura dos dados e contabiliza o volume de chuva registrado”, explica o professor do curso de Agronomia, José Vieira, responsável pela Estação Meteorológica.
Análise
Os dados coletados através da estação meteorológica são analisados com base na aferição de diferentes variáveis ambientais, algumas feitas de minuto em minuto, como a radiação solar, a radiação global e radiação fotossinteticamente ativa, que é radiação aproveitada pelas plantas para realizar a fotossíntese.
Já algumas variáveis como a umidade relativa do ar, velocidade do vento, temperatura do ar, temperatura e umidade do solo, são medidas a cada 10 minutos. A medição das precipitações pluviométricas, por sua vez, ocorre por meio de um somatório de valores, através de dados aferidos no pluviômetro, explica o monitor Floriano.
“Nós organizamos planilhas onde conseguimos resumir milhões de dados de modo a se obter uma média mensal ou anual sobre alguma informação analisada sobre o comportamento do clima”, complementa Floriano.
Processador de dados utilizado na estação meteorológica da Ufal Campus Arapiraca. Foto: Giovanni Luiz-7Segundos
Utilidade
Os dados coletados pela estação meteorológica da Ufal Campus Arapiraca são utilizados basicamente para pesquisas realizadas no curso de agronomia.
“Nós gostaríamos de explorar mais esses dados, expandir nossas informações, mas, infelizmente, isso não é possível por falta de pessoal, nós só temos o Floriano como monitor e olha que daqui a alguns meses ele estará se formando e nós precisamos preparar uma outra pessoa para continuar o trabalho dele. Nós temos um datalogger que armazena até um milhão de dados e esses dados vão se sobrepondo sobre aos outros, então, precisaríamos de muito mais gente para poder fazer um apanhado de tudo o que se registra e trabalhar melhor esse banco de dados, mas infelizmente, na atual conjuntura de pandemia e recuo nos orçamentos, isso não está sendo possível”, lamenta o professor José Vieira.
O professor lembra também que há mais ou menos um ano e meio, alguns alunos monitores começaram a desenvolver um software, um aplicativo para celular, onde qualquer pessoa poderia ter acesso ao banco de dados da Estação para realizar pesquisas, fazer consultas ou cálculos sobre temperatura média, quantidade de chuva, índices de radiação, dentre outras variáveis, mas com a pandemia, o projeto também parou.
Estação fornece dados sobre o clima em Arapiraca. Foto: Giovanni Luiz-7Segundos
“Nós temos um banco de dados relativamente grande em importância porque ele tem uma série histórica já de quase nove anos, praticamente, e serve para fazer um comparativo com a normal climatológica (comportamento do clima em determinados períodos com base em parâmetros meteorológicos) de Arapiraca como um todo, fazendo a leitura dos dados atuais com as de anos anteriores, e nessa contabilidade dos dados dá para acompanhar qual foi o dia e a hora em que choveu, o que aconteceu naquele período, se foi nublado, chuvoso ou fez muito sol, então demanda gente e demanda tempo para fazer esse trabalho”, explica José Vieira.
Análise climática
Os dados coletados pela estação referentes aos índices pluviométricos de Arapiraca em 2020 e 2021 mostram que apesar de ter chovido mais entre janeiro e julho do ano passado do que este ano, as chuvas agora em 2021 caíram de forma mais regular na região, ou seja, foram melhor distribuídas, beneficiando mais a agricultura.
“Pelos dados de precipitação pluviométrica que dispomos, até agora, de janeiro a julho, em Arapiraca, a gente registrou 890 milímetros de chuvas em 2020, e esse ano, temos 676 milímetros no mesmo período, ou seja, 25% a menos de chuvas do que no ano passado. Porém, agora em 2021 as chuvas estão mais regulares”, explicam o professor José Vieira e o monitor, Floriano.
Dados pluviométricos registrados pela estação meteorológica da Ufal Campus Arapiraca. Foto: Giovani Luiz-7Segundos
Ou seja, apesar de ter chovido mais em 2020 do quem em 2021 durante o mesmo período (janeiro a julho), as chuvas agora em 2021 são consideradas melhores para a agricultura do que no ano passado porque foram mais distribuídas. Isso quer dizer que esse ano a alternância entre chuva e sol está mais equilibrada, proporcionando melhores resultados para o setor agrícola, de maneira geral.
“Na agricultura tem que chover o ideal, nem a mais nem a menos, porque se chover mais do que a planta necessita, por exemplo, podem ocorrer problemas como o excesso de água no sistema radicular e também a redução da incidência da luz solar porque quando chove há a cobertura de nuvens e quanto menor a luminosidade, menos as plantas se desenvolvem”, explicam Floriano e José Vieira.
Eles explicam também que a situação ideal para a agricultura é que chova durante a noite e faça sol durante o dia. Essa combinação proporciona à planta realizar a fotossíntese de maneira plena, produzindo biomassa (matéria orgânica utilizada na produção de energia) em grande quantidade.
Pluviômetro automático utilizado na estação meteorológica. Foto: Giovanni Luiz-7Segundos
Chuvas em Arapiraca
O que provoca as chuvas em Arapiraca são as massas de ar que chegam do oceano com uma parte das massas de ar que chegam que vem da Amazônia também e chegam até a Bahia e Pernambuco, nessa confluência toda o que acontece a gente tem uma variação de chuva que ano a ano ela não vai ser igual ao ano anterior.
Benefícios
Segundo o professor José Vieira, as culturas mais beneficiadas com essa melhor distribuição de chuvas ocorrida agora em 2021 são o milho e o feijão. O professor avalia que se esse nível de chuva agora no mês de julho, que está semelhante ao mesmo período do ano passado, se mantiver até o final de agosto, por exemplo, mesmo quem plantou mais tarde não vai ter problema porque esse produtor vai pegar a fase de enchimento de grãos e pelo menos o milho verde ele vai ter para colher. “O problema é saber o que vai acontecer depois de agosto porque a gente está vendo no mundo mudanças muito bruscas em regiões onde você esperava frio, esfriou demais e onde se esperava calor, também esquentou demais, então, mesmo quem está fazendo previsões, está fazendo de forma comedida para não ter muito erro”, diz o professor.
Estação fornece dados pluviométricos para ajudar a agricultura. Foto: Giovanni Luiz-7Segundos
Fumo
Ainda segundo a análise do professor José Vieira, quem planta fumo não vai ter grandes perdas esse ano, porém, se a chuva se prorrogar demais o produtor pode obter perdas na qualidade das folhas pelo excesso de umidade. “As folhas crescem mais, mas, ficam mais finas e perdem mais nutrientes porque com a baixa luminosidade elas tendem a crescer mais para captar a luz solar, porém, perdem em qualidade”.
Chuvas isoladas
Em relação às chuvas isoladas que estão cada vez mais comuns em Arapiraca o professor José Vieira explica que o fenômeno não é um caso particular nosso, ele acontece em outras regiões e tem relação com a alteração de temperatura, da umidade relativa do ar e depende ainda de uma variação global do clima. Não é algo que nasce aqui, ocorre por um conjunto de fatores, por exemplo, a água que originou a chuva que cai em Arapiraca não foi evaporada em Arapiraca, ela vem de um local muito mais distante, como acontece com o fenômeno dos rios voadores lá na Amazônia. O que ocorre lá na Região Norte vale para Arapiraca também, só que a origem das chuvas isoladas aqui tem mais a ver com as águas que evaporam do oceano e a movimentação delas através da atmosfera. “Elas chegam aqui em algum momento em que há a combinação de pressão atmosférica, velocidade do vento, temperatura das camadas de ar. Tudo isso provoca a condensação e depois a precipitação, então é um conjunto de fatores que causa o fenômeno”.
Fenômeno global
O professor explica também que essas mudanças climáticas que estão acontecendo agora no mundo, por exemplo, no Canadá e em algumas regiões dos Estados Unidos, temperaturas extremas beirando os 50 graus, e em outros locais, frio extremo, isso vem da alteração geral do clima no globo como um todo.
Mudanças no clima
“Eu disponho de um banco de dados sobre precipitação do início do século passado que mostra que em Arapiraca e Palmeira dos Índios as chuvas começavam no início de março e o que a gente percebe ao longo do tempo é que o início do período chuvoso foi se deslocando para o início de abril e depois, para a segunda quinzena de abril, como agora, e vem encurtando cada vez mais esse período, antes ia até setembro, e agora vai até agosto, então, em cem anos o clima vai se alterando, se você conversar com as pessoas mais velhas elas vão se lembrar disso, destaca o professor”.
Estação meteorológica da Ufal em Arapiraca. Foto: Giovanni Luiz-7Segundos
A terra esfria
O professor José Vieira explica os agricultores de Arapiraca e região utilizam a expressão “a terra esfriou” para dizer que o solo está frio e úmido, que tecnicamente, quer dizer que quando cai a temperatura do solo com muita água e muita nebulosidade, a atividade bioquímica das raízes também diminui. Com isso, a planta absorve menos nutriente e menos água, perdendo, dessa forma, força para se desenvolver bem.
Ciclo histórico
O professor José Vieira chama a atenção para um contexto relacionado ao clima da região. “Se a gente observar de 2012 pra cá, até 2014, foi um ciclo de poucas chuvas. Já em 2015 e 2016, foi bem crítico, principalmente para a parte de pecuária porque a produção vegetal foi pouca. O que a gente observa então é que a cada dez anos, em média, nós temos três anos bons de chuva, três anos regulares e quatro anos ruins. Ou seja, por mais que a gente esteja numa região que é agreste, vai ter anos difíceis, então esses anos difíceis acontecem por uma ocorrência natural ocasionada pela situação geográfica da região, pela condição das massas de ar que chegam até aqui”, explica.
Professor José Vieira mostra Pluviômetro utilizado na estação meteorológica. Foto: Giovanni Luiz-7Segundos
El Niño e La Niña
São dois fenômenos que também causam mudanças no clima porque interferem na circulação geral da atmosfera terrestre em todo o globo, impactando diferentes regiões do mundo, e o Nordeste brasileiro é uma delas. “Você pode associar que quando tem seca no Nordeste, tem enchente no sul, e vice-versa, fenômenos diretamente relacionados com El Niño e La Niña. Quando é La Niña, chove muito aqui e quando é El Niño, é seca”, explica o professor.
O monitor Floriano Damasceno complementa dizendo que nesta mesma época, em 2020, tivemos uma La Niña forte, ocasionando muita chuva em Arapiraca, e agora em 2021, temos no mesmo período uma La Niña fraca, tendendo para a neutralidade. Então, o que define se um ano vai ser de chuvas regulares, fortes ou fracas são esses dois fenômenos, La Niña e El Niño, diz o monitor.
Ele explica que quando ocorre o aquecimento do Oceano Pacífico (El Niño) isso afeta o clima de maneira global causando enchentes em algumas regiões, por exemplo, ou secas extremas em outras. Já quando ocorre o resfriamento do Oceano Pacífico (La niña), há a incidência de mais chuvas no Norte e no Nordeste do Brasil. Com o El niño é ao contrário, ocorrem mais chuvas no Sul do país.
Monitor Floriano Damasceno verifica registros de dados em estação meteorológica. Foto: Giovanni Luiz-7Segundos
Sem surpresas
“Nós temos uma irregularidade climática já esperada para a região que é de quatro ou cinco meses, de outubro a fevereiro ou até o mês de março, às vezes, com poucas chuvas ou quase nenhuma chuva, mas quando isso acontece, traz consequências muito grandes, mas já é algo esperado, não é uma mudança climática, faz parte de um ciclo”, comenta o professor José Vieira.
Dados coletados em análise em laboratório do Campus. Foto: Giovanni Luiz-7Segundos
Trovoadas de verão
O professor explica que o fenômeno é causado pela mudança da estação. Quando chega dezembro nós aqui no hemisfério sul temos o fim da primavera e o início do verão. Então, até o dia 22 de dezembro, o sol fica alinhado entre a Linha do Equador e o Trópico de Capricórnio, e a após essa data, ele começa a retornar, a subir novamente, digamos assim, devido ao movimento a Terra. Então, a partir de 22 de dezembro, essa mudança de posição da terra em relação ao sol, começa a mudar o ciclo de evaporação da água, aumentando a umidade do ar e a nebulosidade, tendo como consequência natural o surgimento das trovoadas durante o nosso verão.
“A gente observa que as chuvas de inverno são ocasionadas mais pelas umidades vindas do Oceano Atlântico, já as chuvas de verão, as trovoadas, são ocasionadas mais pelas umidades vindas do interior do país, como da região amazônica", conclui o professor.