Cultura

Ex-segurança descobre dom por acaso e transforma madeira em arte

As peças de Paulo Pereira estão expostas na Avenida Ceci Cunha, em Arapiraca

Por Vilceia Melo/7Segundos 25/07/2021 18h06 - Atualizado em 26/07/2021 09h09
Ex-segurança descobre dom por acaso e transforma madeira em arte
Paulo Pereira Santos, escultor - Foto: 7Segundos

A descoberta do dom de esculpir madeira na vida do ex-segurança, Paulo Pereira Santos, 37 anos, surgiu por acaso. Se é que a gente pode afirmar se foi o acaso ou se já estava traçado no destino deste penedense de nascença, mas arapiraquense de coração. O artesão veio morar na segunda maior cidade do estado quando tinha três anos de idade e daqui nunca mais saiu. 

Atualmente, Paulo Pereira expõe suas obras na calçada do prédio onde funciona, em Arapiraca, o projeto Rede Acolhe da Secretaria de Estado de Prevenção à Violência (Seprev). E foi lá, sentado na calçada, em  frente à Avenida Ceci Cunha,  que o artesão concedeu entrevista ao Portal 7Segundos. 

Paulo Pereira afirmou que já trabalhou de pedreiro, jardineiro, motorista e a última profissão foi de segurança. Nesse último emprego permaneceu por oito anos. Em 2015, quando tinha 32 anos, e  ainda trabalhava como segurança assistiu um vídeo de um escultor estrangeiro esculpindo em madeira a imagem de  um casal que simbolizava o amor eterno. Ele achou bonito e pensou em tentar reproduzir aquela imagem.


As peças produzidas na oficina no bairro Boa Vista, são expostas na Avenida Ceci Cunha, em Arapiraca

"Eu fiquei com aquele pensamento na cabeça. Um dia, quando ainda estava trabalhando como segurança, fui à  casa de um cliente que estava fazendo um pergolado no jardim. Quando os trabalhadores serraram a madeira ficou um pedaço que iria para o lixo. Eu pedi aquela sobra de madeira e quando cheguei em casa peguei o cabo de uma panela de pressão e improvisei um formão - instrumento usado para talhar a madeira. Após cinco dias eu terminei de esculpir a imagem que eu tinha visto na internet. Depois disso tudo mudou em minha vida, relatou o escultor.

Paulo conta que ele mesmo ficou impressionado com o trabalho que tinha feito na madeira. Pois a peça ficou muito semelhante àquela imagem que ele viu na internet. A partir dessa primeira experiência o interesse de reproduzir outras imagens e objetos aumentou. Em todo lugar que andava ficava procurando restos de madeira para esculpir algum objeto. Mas ele afirma que nunca tinha pensado em transformar isso em uma profissão,  era apenas um forma de espairecer a mente, uma distração.

"Comecei a ver mais vídeos na internet e fui comprando as ferramentas necessárias para o trabalho artesanal e produzindo mais peças. Depois de três anos eu estava com a garagem da minha casa quase sem espaço de tantas peças que eu já tinha esculpido. Eu nunca pensei em vender. Eu sentia prazer em saber que eu tinha conseguido transformar um pedaço de madeira bruto em um animal, um  carro, uma fruteira  e tantos outros objetos", confessou.

Paulo Pereira mora no bairro Batingas, em Arapiraca, e as peças empilhadas na garagem começaram a chamar a atenção dos vizinhos que pediam para tirar fotos e postavam nas redes sociais. E foi assim que começaram a surgir os primeiros clientes.

"Eu fazia por hobby mas por insistência  das pessoas  comecei a vender e quando percebi já estava ganhando quase quatro vezes mais vendendo as peças do o salário como segurança", explicou.

Paulo produz as peças na garagem de casa, no bairro Boa Vista, em Arapiraca

Ele relembra que no início não sabia calcular o valor das peças que produzia pois tinha contabilizar o valor gasto na compra da madeira, o tempo gasto nas peças mais complexas de produzir.  As mais simples ele afirma que leva em média duas horas para concluir. Já uma carreta chega a passar oito meses talhando a madeira. Alguns comerciantes pagavam  R$ 100,00  e revendiam a mesma  peça na loja deles até  por R$1.500,00.

"A tristeza que eu sentia não era nem tanto pelo valor que eles me pagavam. Eu ficava mais triste porque quando os clientes perguntavam quem tinha feito aquela escultura eles diziam que era artesão de Recife. Por isso eu não coloco as peças em loja, prefiro ficar aqui na avenida porque eu falo direto com os clientes", desabafou o escultor.



Paulo Pereira conta que fez uma fruteira por encomenda para uma cliente e ela ficou tão satisfeita com o resultado final que fez questão de voltar para pegar o nome e o número de telefone dele  para gravar na peça e divulgar . "Isso me deixa muito maravilhado e esse reconhecimento não tem dinheiro que pague, falou emocionado.

As peças do artesão variam de preço na mesma proporção de tamanho e dificuldade na elaboração final do produto. As mais simples como as fruteiras pequenas custam R$ 70,00. As mais elaboradas,  como um banco que tem o encosto no formato de cabeças de cavalo e boi, ferradura nas laterais e o apoio dos braços no formato dos pés do bovino,  não são adquiridas por menos de R$ 3.500,00.


O dom que ele descobriu quase que por acaso na vida adulta aos 32 anos, transformou-se em um sentimento de paixão por cada peça que ele se dedica a esculpir. Ele confessou que fica um pouco triste quando tem que vender as esculturas que ele fez com tanta dedicação e paixão. 

"É um sentimento que não sei explicar. É como se eu tivesse perdido um parente. Tem peças que eu termino mas só coloco a venda depois de uns 15 dias . Fico só admirando e já sentindo saudade dela. Meu sonho é  que um dia eu não vou mais precisar vender nenhuma delas. Vou colocar em algum lugar para exposição para que todos possam ver a beleza da arte esculpida em madeira, finalizou.