Perícia Oficial traça perfil químico da cocaína vendida em Alagoas
Estudo permite identificar possíveis correlações entre amostras de cocaína apreendidas no estado
Um estudo promovido pela Perícia Oficial (PO) analisou o perfil químico de 279 amostras de cocaína que foram apreendidas em Alagoas entre 2020 e 2021. A pesquisa buscou identificar os adulterantes e diluentes utilizados e as possíveis correlações entre as amostras de cocaína apreendidas no estado.
O perito Thalmany Fernandes Goulart, chefe de Química e Toxicologia da PO, explica que a pesquisa buscou identificar as substâncias utilizadas na confecção do pó de cocaína e a origem dessas substâncias, sendo importante para o trabalho de investigação das polícias sobre o tráfico de drogas.
“Nosso objetivo é saber quais são as substâncias que são utilizadas na produção de cocaína no estado e de onde ela está vindo para que as Forças de Segurança atuem com maior assertividade”, disse o perito.
Por meio desse trabalho, foi possível identificar a presença de amostras correlacionadas, que foram apreendidas em municípios e regiões diferentes, mas que tinham composições idênticas. Ou seja, a mesma droga (ou mesmo “lote”) encontrada em diferentes localidades do estado.
Foram descobertas amostras idênticas em Maceió, Arapiraca e Delmiro Gouveia, por exemplo. O mesmo ocorreu outras dezenas de vezes em vários outros municípios.
RISCO À SAÚDE
O estudo identificou a composição orgânica dos principais constituintes encontrados nas amostras. Além da própria cocaína, foram encontradas a benzocaína, a cafeína, a lidocaína, o levamisol e a tetracaína. Com isso, foram identificadas, ao menos, 21 formas distintas de preparo do pó de cocaína para consumo, com variação da presença e da quantidade desses adulterantes.
A benzocaína, a lidocaína e a tetracaína são anestésicos locais e, assim como a cafeína, potencializam os efeitos cardíacos da cocaína, podendo levar ao infarto ou a um acidente vascular cerebral (AVC), alertam os peritos. O que também chamou a atenção dos pesquisadores foi o uso do levamisol, encontrado em 16% das amostras, visto que provoca infecções, vasculite cutânea e gangrena.
Parte das amostras apresentou apenas a cocaína pura, ou a presença isolada de adulterantes, o que pode significar, por exemplo, que os locais onde foram apreendidas, seriam potenciais pontos de preparação e fornecimento da droga.
ENGANAÇÃO
As substâncias adulterantes, como também as diluentes, tais quais: amido, lactose, carbonato de cálcio, bicarbonato de sódio, ácido bórico, entre outros, são utilizadas com o intuito de ludibriar o usuário e gerar mais lucro para as organizações criminosas, presume Thalmany. Em cerca de 24% das amostras, sequer havia a presença de cocaína, sendo as amostras compostas basicamente por diluentes e/ou adulterantes.
A análise química foi feita nos laboratórios e equipamentos da própria Perícia Oficial, já a análise dos dados contou com a parceria da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Para o delegado Ronilson Medeiros, da Delegacia de Narcóticos, o estudo destaca o relevante papel da Perícia Oficial nos processos investigativos ligados ao tráfico, como também é relevante por apresentar o risco potencializado do consumo de drogas ilícitas, já que as pessoas usam sem saber quais substâncias estão sendo misturadas àquela cocaína.
“O estudo apresenta duas importantes vertentes: está confirmada a ‘manipulação’ de substâncias químicas que são vendidas como cocaína, isso demonstra a necessidade da Perícia Oficial no momento da autuação do flagrante delito; e também um alerta para sociedade dos malefícios das substâncias que estão ingerindo inconscientemente”, disse o delegado.