Brasil

Formando em direito cola grau com facão e enxada para homenagear os pais

Aos 44 anos, o atual gerente de uma empresa de segurança conquista seu segundo diploma

Por G1 Bauru e Marília 26/01/2022 09h09 - Atualizado em 26/01/2022 09h09
Formando em direito cola grau com facão e enxada para homenagear os pais
Agnaldo Araújo com facão e enxada, ferramentas que também usou dos 12 aos 23 anos em lavouras da região de Bauru - Foto: Arquivo pessoal

A cena clássica do formando recebendo seu merecido “canudo” com o diploma ganhou no último dia 15 de janeiro uma versão adaptada – e inusitada – durante a cerimônia de colação de grau da turma de direito de uma faculdade particular do centro-oeste paulista.

Ao subir ao palco vestido com a clássica beca preta, Agnaldo Araújo, de 44 anos, chamou atenção no auditório da Subseção de Bauru (SP) da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ao carregar um facão e uma enxada. Fotógrafos e público reagiram com gritos e aplausos para o formando, morador de Lençóis Paulista (veja no vídeo abaixo).

Ao som da música “A Estrada”, do grupo Cidade Negra, e embalado com os versos “Você não sabe o quanto caminhei pra chegar até aqui”, o novo bacharel em direito justificou a “encenação rural” como uma homenagem a seus pais, cortadores de cana. Segundo Agnaldo, foram eles os grandes incentivadores para que ele estudasse.

“Meus pais sempre me apoiaram e me ensinaram a importância do trabalho e também dos estudos. Por isso entrei com o facão e a enxada nas mãos, para lembrar um pouco do sacrifício deles e de outros pais para a formação de seus filhos”, explica Agnaldo.

A homenagem emocionou os presentes à cerimônia e repercutiu nas redes sociais de moradores de Lençóis Paulista.

“Eu não imaginava que a repercussão seria tão positiva. Isso me deixou muito feliz. Sei que como meus pais, muitos pais trabalharam na roça para que seus filhos pudessem estudar”, reforça Agnaldo.

O formando lamenta apenas que o pai, que morreu no ano passado devido a uma leucemia, não pôde ver a homenagem. A mãe, de 73 anos, não esteve presente na formatura, por conta das restrições impostas pela pandemia. Mas Agnaldo disse que ela chorou ao ver o vídeo da homenagem com o facão e a enxada.

Paranaense de Peabiru, Agnaldo se mudou para o interior de SP aos 4 anos, acompanhando a família que conseguiu emprego em uma fazenda de cana-de-açúcar em Areiópolis, cidade vizinha a Lençóis Paulista.

O próprio Agnaldo trabalhou dos 12 aos 23 anos no corte de cana, até que os estudos, pela primeira vez, deram a ele uma nova opção na vida. Ao concluir um curso de segurança, o agora novo advogado começou a trabalhar como vigilante, área onde acabou fazendo carreira. Atualmente, ele é gerente de uma empresa de segurança em Lençóis Paulista onde comanda equipe com mais de 500 pessoas.

Mesmo dedicado à nova carreira na área de segurança, Agnaldo seguiu valorizando os estudos em sua vida. Entrou no curso de psicologia, que não concluiu, mas em 2015 se formou em administração de empresas. Após conquistar seu segundo diploma de curso superior, o ex-cortador de cana diz que não vai parar.

“Não pretendo parar de estudar. Já estou me preparando para fazer o exame da Ordem [OAB], comecei a procurar uma pós-graduação na área de Direito Constitucional, e vou avaliar estudar para tentar uma carreira pública na área do direito. A vida pode ser dura, mas o conhecimento ninguém tira da gente”, diz o formando.