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Tradição secular : barbearia familiar atravessa 150 anos na arte de cortar cabelos

"Seu Pedro" superou a infância pobre no Sertão e está há três décadas em Arapiraca

Por Vilceia Melo 06/02/2022 08h08
Tradição secular : barbearia familiar atravessa  150 anos na arte de cortar cabelos
Barbearia familiar atravessa gerações na arte de cortar cabelos - Foto: 7segundos

O barbeiro Pedro André da Silva, 69 anos, mais conhecido como "Seu Pedro", nasceu e cresceu dentro de uma barbearia. Ele aprendeu o ofício com o pai, que morava em Buíque, no interior de Pernambuco. A família saiu de Pernambuco para morar em Santana do Ipanema, no Alto Sertão alagoano, e foi lá, que desde os nove anos de idade, o então menino Pedro André, começou a cortar os cabelos. A tradição familiar foi se perpetuando e já está na quarta geração.

A infância nas terras áridas e secas do Sertão não foi fácil, mas "Seu Pedro"  conta que desde pequeno sempre teve a esperteza de quem precisa " tirar leite de pedra" para sobreviver. Ele morava na zona rural e a mãe ia pra cidade pedir esmolas para poder alimentar uma penca de filhos. Numa dessas idas com a mãe pelas estradas de terra batida ele encontrou uma cachorrinha e passou a chamá-la de "piaba".

"Eu tinha uns oito anos de idade e ia pro mato com a piaba pra caçar. Eu "atucaiava" os preás, tatus, lagartos,  e a cachorra agarrava as caças com os dentes. Depois, eu levava para minha mãe cozinhar pra gente comer com cuscuz feito com o milho da roça", lembrou.

"Seu Pedro" conta que a cachorra deu cria e ele trocou um cãozinho em uma galinha. Da primeira ninhada, ele capou e cevou alguns frangos e foi pra feira negociar. Voltou com uma ovelha e dois burregos. Depois já passou pra uma vaca de leite e assim foi ajudando a mãe a sustentar toda família. Quando casou aos 20 anos, já tinha comprado terrreno, cabeças de gado, carro-de-boi e arado. Pra quem passava fome, ele era um jovem rico. 

Ele lembra que naquela época, em Santana do Ipanema, não havia barbearia como as de hoje. Os cabelos eram cortados no meio da feira-livre onde o fluxo de pessoas era constante.

"A gente amarrava uma lona que se estendia da parede de uma casa até a calçada em frente as bancas de feira e cortava o cabelo ali mesmo, ao ar livre", relatou.

A visão empreendedora que "Seu Pedro" tinha desde criança continuou aflorando na vida adulta. Após casar, Seu Pedro decidiu vir para uma cidade mais desenvolvida pois os irmãos dele também tinham barbearia em Santan e ele disse que o negócio "tava meio fraco pr lá ".

Em 1985 o barbeiro decidiu expandir o negócio em outras terras mais desenvolvidas. Ele partiu com toda a família para Arapiraca e daqui nunca daqui não nunca mais saiu. Sustentou os oito filhos com a tesoura na mão e a simpatia estampada no sorriso sempre acolhedor. A cordialidade desse sertanejo conquistou muitos clientes ao longo dessas décadas. Tem gente que vem de outros estados e de até outros países -quando visitam parentes em Alagoas - só pra cortar o cabelo no salão da família Pedrosa, como são carinhosamente chamados. 

Todos os filhos, cinco homens e três mulheres,  cresceram cortando cabelos e fizeram do ofício do pai, a profissão deles.Os netos também já cortam cabelo no salão do avô e assim a tradição familiar vai se perpetuando de geração em geração.

O corte do cabelo custa R$ 8,00 por isso o sãlão do "Seu Pedro" está sempre lotado de clientes. Preço bom e simpatia devem ser o segredo do sucesso dessa família que já tem salões espalhados nos bairros Primavera, Arnon de Mello, Caititus e Teotônio Vilela.

"Eu criei a minha família cortando cabelo e ensinei os meus filhos a cortarem também. Agora, eles estão garantindo o sustento dos filhos deles. Só não ganha dinheiro quem não quer porque sempre vai ter gente querendo cortar o cabelo e fazer a barba", finalizou o patriarca da familia.