Aplicação de vacina contra a Covid-19 em crianças divide opinião de famílias em Arapiraca
Cidade já aplicou mais de 4,5 mil doses e nenhuma criança apresentou reação além das comumente esperadas
As famílias de Arapiraca tem divergido bastante quando o assunto é vacinação de crianças contra a Covid-19. Enquanto Larissa Cajueiro, que é mãe de duas meninas, está ansiosa para poder vacinar suas filhas, Rafaela Dias, que é mãe de um casal, já disse a todos que só deixará que seus filhos sejam vacinados se for obrigada.
Uma pesquisa promovida pela Datafolha comprova que a vacinação pediátrica não é um consenso entre alguns pais. Segundo o órgão, 79% dos brasileiros com 16 anos ou mais disseram que as crianças de 5 a 11 anos deveriam ser vacinadas e, entre os que se declararam responsáveis por menores nessa faixa etária, 76% afirmaram que os levariam para tomar vacina.
"Só não vacinei minha filha mais velha ainda porque recentemente fomos infectados pela Covid-19, mas tanto eu quanto meu marido estamos muito ansiosos por esse momento. Acho que vamos nos sentir muito mais protegidos enquanto família", disse a Larissa.
Apesar de decidir vacinar os filhos, Larissa entende as mães que estão com medo. "Vivemos em um mundo de muita desinformação, onde as fakenews estão sendo espalhadas sem nenhum pudor. É normal se sentir inseguro, mas pela saúde dos nossos filhos, preferimos vacinar", continuou.
Já para Rafaela, que se vacinou para poder viajar para fora do país, seus filhos não serão tratados como cobaias.
"A empresa responsável pela fabricação já informou que não se responsabiliza pelos efeitos adversos. Como eu, sabendo disso, posso permitir que um filho meu receba essa vacina?", questiona ela.
"Eu não sou contra vacinas, mas tem pouco embasamento científico que comprove a eficácia dessa. Eu não me perdoaria se meu filho desenvolvesse alguma coisa por causa da vacina", continuou.
O que dizem os especialistas?
Quem verdadeiramente entende de vacina garante: os benefícios de vacinar crianças contra a Covid-19 superam os riscos.
No início deste ano, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) emitiu uma nota pública informando que todas as pesquisas feitas até agora demonstram eficácia e segurança das vacinas pediátricas disponíveis atualmente, principalmente para evitar os casos graves da Covid-19.
No Brasil, os imunizantes utilizados em crianças foram submetidos a análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) antes de serem liberados para aplicação.
Com relação à responsabilidade sobre as reações adversas, os casos são sempre investigados pelos órgãos de saúde.
Um caso específico, registrado na cidade de Lençóis Paulista, no interior de São Paulo, foi confirmado como não tendo relação com o imunizante administrado. Na ocasião, uma criança de 10 anos teve uma parada cardíaca após ser vacinada.
Mas, após análise de especialistas, ficou confirmado que o quadro não tinha qualquer relação com a vacina, mas sim com uma doença congênita rara até então desconhecida pela família.
Em entrevista concedida à Folha, o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, médico pediatra Renato Kfouri, analisou uma hesitação e insegurança superior em relação à campanha de vacinação para crianças do que com a dos adultos, mas salientou sobre a importância de acolher os pais inseguros.
"O mesmo rigor que tivemos para licenciar a vacina do sarampo, meningite, catapora, tivemos com a da Covid-19. Quando essas vacinas foram lançadas, nenhuma tinha 10 ou 20 anos de experiência. Elas foram lançadas para controlar doenças importantes na época como a Covid é hoje", explicou o especialista.
Ainda segundo Kfouri, os efeitos adversos, como a miocardite, são raros. "Além de raro, é benigno. Ninguém morreu até hoje da miocardite pela vacina", disse o médico.
Fiocruz investiga hesitação de pais
Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que contou com a participação de mais de 15 mil pais, mães ou responsáveis por crianças e adolescentes, indicou que mais de 80% pretendem vacinar seus filhos contra a Covid-19.
Chamada de VacinaKids, a pesquisa tem o objetivo de investigar os motivos da hesitação vacinal. Foram aplicados questionários online que tiveram 70,55% de participação de pais da região Sudeste, 11,13% do Sul, 8,27% do Nordeste, 7,6% do Centro-Oeste, e 2,4% do Norte.
Segundo as respostas apresentadas, a hesitação é maior na faixa etária de 0 a 4 anos, que ainda não foi contemplada pela vacinação. Entre os pais dessas crianças, o percentual que não pretende vacinar foi 16,4%. A hesitação vacinal foi menor entre os pais de crianças de 5 a 11 anos, com 12,8%, e chegou a 14,9% entre os responsáveis por adolescentes.
A coordenadora do estudo, a pediatra e pesquisadora clínica do Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz, Daniella Moore, cita dados do Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos que mostram que vacinação de crianças é segura e transcorre naquele país com a ocorrência de cerca de 4 mil eventos adversos, sendo 97% leves, entre as mais de 8 milhões de doses aplicadas.
“O relatório mostra que aproximadamente 8,7 milhões de doses da vacina Pfizer-BioNTech Covid-19 foi administrada em crianças nessa faixa etária durante o período de 3 de novembro a 19 de dezembro de 2021. Dessas 8,7 milhões de doses, foram notificados 4.249 eventos adversos, o que representa apenas 0,049% das doses aplicadas. A grande maioria (97,6%) dos efeitos notificados foi leve a moderado, como dor no local da injeção, fadiga ou dor de cabeça. Ou seja, a vacina é, de fato, segura e os dados comprovam a sua segurança, mostrando, na sua maioria, efeitos adversos que mães e pais já têm experiência em lidar com outras vacinas do calendário vacinal", conta Daniella.
A pesquisadora ressalta que a ocorrência de miocardite, que é uma inflamação do músculo cardíaco, foi registrada em 11 crianças dessa faixa etária que foram vacinadas, e todas se recuperaram. A complicação é um dos principais medos citados por pais que hesitam em vacinar seus filhos, mas a pediatra lembra que a covid-19 também pode causar essa inflamação, especialmente quando a doença evolui para um quadro de Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica.
“Alguns pais subestimam a gravidade da doença em crianças. No entanto, apesar da covid-19 ser considerada menos grave em crianças quando comparada a adultos, elas ainda assim ficam doentes, podem ficar graves e ter evoluções desfavoráveis”, alerta Daniella.
Mortes de crianças por Covid-19
No ano passado, foram hospitalizados por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) associada à covid-19 quase 20 mil crianças e adolescentes. Segundo levantamento realizado pela Fiocruz, 1.422 menores de idade morreram vítimas pela covid-19 até o dia 4 de dezembro do ano passado, sendo 418 em menores de 1 ano; 208, de 1 a 5 anos; e 796, de 6 a 19 anos.
Em Alagoas, de acordo com o Boletim Epidemiológico publicado diariamente pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), 31 crianças menores de 10 anos vieram a óbito por causa da Covid-19, sendo 14 do sexo feminino e 17 do sexo masculino.
Obs.: Para compor esta reportagem, o Portal 7Segundos utilizou dados divulgados pela Folha e pela Agência Brasil.