Comportamento

Fantasia sexual como 'presente': qual limite para agradar parceiro no sexo?

Ménage a trois, sexo anal, troca de casal são algumas das práticas sexuais vistas como tabus

Por UOL 23/03/2022 09h09 - Atualizado em 23/03/2022 09h09
Fantasia sexual como 'presente': qual limite para agradar parceiro no sexo?
Para sexóloga, o movimento de fazer um "momento especial" com experiências sexuais deve ser feito pelos dois - Foto: fizkes/Getty Images/iStockphoto

Ménage a trois, sexo anal, troca de casal são algumas das práticas sexuais vistas como tabus ou mesmo como desconfortáveis por algumas mulheres, mas, por pressão do parceiro ou pela vontade de agradar, há quem escolha realizar essas fantasias do outro em um dia especial. Você já ouviu a história de alguém que aceitou transar com três pessoas, por exemplo, no dia do aniversário do companheiro, como se fosse um "presente" para o outro?

Há algumas semanas, a história da americana Theresa Rose viralizou na internet justamente por causa dessa situação: ela "presenteou" o marido com um ménage e, numa virada da narrativa, acabou entrando em um relacionamento com a mulher que foi convidada para a experiência.

Mestre em Educação Sexual pela UNESP e escritora, Gabi Benvenutti conta que combinar uma prática na transa diferente da rotina sexual do casal faz parte do jogo. Mas, historicamente, mulheres fazem esse movimento de "realizar os desejos" do outro, especialmente em relações heterossexuais, e isso precisa ser reavaliado, diz.

A empresária Marcela*, casada há nove anos com Tom*, contou para Universa que topa coisas que ele sugere, como ménage feminino, para experimentar novas formas de prazer. No entanto, para evitar que essa troca fique pejorativa, ela segue a lógica inversa —prefere não realizar os desejos do casal em datas especiais com medo de acontecer algum "problema" e de isso ficar marcado para os dois de forma negativa.

Prática sexual como "presente" para o parceiro

No sexo, as regras do jogo precisam ser colocadas de forma honesta, até porque qualquer prática precisa estar assegurada no desejo mútuo e no consentimento.

Marcela diz que tem os limites bem estabelecidos para o que faz com o parceiro. "Sempre digo que só devemos mergulhar depois de termos certeza que a piscina é funda o suficiente para não batermos a cabeça. Há mulheres que não são abertas o suficiente para fazer certos tipos de coisa. Só que fazer para agradar não é uma boa jogada. Tem que analisar bem o caso", diz a empresária. O casal gosta de ménage masculino e "gang bang", mas ela diz não ser adepta de swing, troca de casal ou dogging (sexo em público). "Me recuso, não curto de jeito nenhum".

A educadora sexual Gabi Benvenutti explica que estabelecer algumas experiências sexuais como "presente" vem da atribuição de valores especiais a elas, geralmente ligadas a alguma dificuldade ou sentido de "exceção" entre os casais.

"Às vezes são coisas que a mulher não gosta muito, como o sexo anal, de que algumas têm medo por ser algo que demanda cuidado. Aí, cria-se um caráter excepcional e algumas abrem exceção para realizar a vontade do outro".

Para ela, a cultura machista de que a mulher precisa ouvir o que o parceiro propõe faz com que seja mais comum que nós estejamos dispostas a tentar realizar os desejos. É raro, comenta, que homens se preocupem com as fantasias femininas. Por vezes, veem com estranhamento o pedido da parceira, apesar de alguns reverem os sentidos da masculinidade. "Acontece assim, historicamente. É só ver que é muito maior a quantidade de cursos e conteúdos de sexualidade destinados a mulheres do que para homens".

Qual é o limite para agradar no sexo?

Gabi pontua que conhecer novas fantasias é válido, mas tem um limite: o de respeitar a própria vontade. "No sexo, não existe o 'tem que'. Atendo alguns homens que comentam que querem que as parceiras, por exemplo, façam o sexo oral até o final, engulam o esperma; outros querem que faça ménage. É preciso se perguntar: 'é fundamental que a parceira faça isso?'", analisa.

É importante saber que não há uma cartela de bingo para marcar quais experiências sexuais você já fez. "As coisas não são assim, cada corpo é um corpo, existem fatores sociais que influenciam na forma que a pessoa é. Não dá para isolar de questões ideológicas, religiosas, familiares", diz a especialista.

Faz mal combinar o sexo? 

Se você quer combinar que, no aniversário de namoro ou casamento haverá uma noite mais quente do que as outras e o "momento especial" é uma combinação entre os dois, tudo bem.

Às vezes é bom, porque cria expectativa entre eles e faz com que aquela data marcante seja uma forma de resgatar a sexualidade, algo tão importante na afetividade dos dois. Gabi Benvenutti, educadora sexual.

"Há quem ache esquisito, mas casais que estão há muito tempo juntos podem perder a espontaneidade. De fato, é preciso reservar um tempo do dia, senão vai ser a última coisa a se fazer." 

*O nome da entrevistada e do parceiro foram trocados a pedido deles por questão de privacidade.