Alunas que denunciaram professor fazem protesto e uma delas recebe ameaça: "Espero não encontrar você na rua"
Estudantes da Escola Padre Jefferson voltam a denunciar descaso da direção da unidade
Um perfil anônimo, criado em uma rede social, está assustando as estudantes da Escola Padre Jefferson, que na última sexta-feira (25), denunciaram um professor por assédio. Pelo menos uma delas recebeu mensagens ameaçadoras.
"Espero não encontrar você na rua. Não sei a medida que vou tomar", diz um trecho das mensagens, recebida por uma aluna naquele mesmo dia. De acordo com ela, o perfil, que não tem nenhuma publicação e também não tem seguidores e nem segue ninguém foi criado com o único intuito de passar aquelas mensagens.
As estudantes entraram em contato com o 7Segundos nesta segunda-feira (28), para afirmar mais uma vez que não tiveram a denúncia acolhida pela direção da escola. Elas, os colegas de sala e alguns pais fizeram um protesto pela manhã. Como as vítimas têm menos de 18 anos, a imagem e a identidade delas será preservada. Elas revelaram ainda que estão sendo vítimas de retaliações
As adolescentes fizeram relatos de condutas inadequadas do professor, que ocorreriam dentro da sala de aula, nos corredores da escola e também nas redes sociais. Ele pedia que os alunos seguissem seu perfil no Instagram porque ele passaria dicas do conteúdo estudado em sala de aula, mas ele também fazia comentários constrangedores em mensagens privadas para as adolescentes.
Na sala de aula, apesar de a disciplina de Português não ter relação com o conteúdo de Biologia, frequentemente ele fazia analogia sobre o corpo feminino e também sobre sexo. "Ele já chegou a falar que o corpo da mulher é muito bonito para ter mudanças. Que as mulheres tem que vestir roupa apertada mesmo, para mostrar mais as marcas do corpo", declarou outra aluna.
Várias delas relataram também que uma vez o professor chegou a insinuar que daria pontos em troca de fotos. "Durante a aula, na frente de todos os alunos, ele disse que uma aluna mandou foto para ele de sutiã e calcinha para provar que estava com catapora. Os meninos disseram que iriam mandar fotos para ganhar pontos. Ele respondeu se eles mandassem ganhariam zero, mas se as meninas mandassem, ganharia nota e passaria de ano", declarou. Em outra ocasião, também em sala de aula, ele teria perguntado aos meninos se els tinham fotos das colegas de sala e, se tivessem, podiam mandar para ele, que manteria tudo "em sigilo".
As alunas relataram também que o professor frequentemente fazia comentários e "carícias", que as deixavam constrangidas.
As estudantes contam também que quando procuraram a direção para reclamar do professor, em vez de ter a denúncia acolhida, elas ouviram a diretora dizer que era melhor elas pensarem melhor a respeito, "será que ele realmente merece isso?", questiona uma das diretoras, enquanto a outra disse que "todos merecem uma segunda chance. Tem pessoas que fazem pior e mesmo assim merecem uma nova chance", declarou, como é possível ouvir no áudio abaixo, gravado na última sexta.
A reportagem entrou em contato com o titular da 5ª Gerência Regional de Ensino, Afonso Alcântara, e com a assessoria de comunicação da Secretaria Estadual de Educação (Seduc). Após ter acesso ao áudio e aos relatos das estudantes, o professor Afonso declarou que o material traz "fatos novos, que ele não tinha conhecimento", e que antes disso, ele havia atestado que a direção da escola teria conduzido a situação de maneira correta. A assessoria da Seduc encaminhou a seguinte nota:
NOTA
A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) esclarece que já tomou todas as medidas cabíveis ao órgão com relação ao caso que envolve a denúncia de assédio de um professor da E. E. Padre Jefferson Carvalho, de Arapiraca, a um grupo de alunas da unidade escolar. O servidor foi afastado de suas funções enquanto durarem as investigações.
A Seduc informa ainda que acompanha, desde o primeiro momento em que foi acionada, o desenrolar das investigações conduzidas pelos órgãos responsáveis, assim como está à disposição das alunas e familiares para todo e qualquer auxílio necessário. A instituição reforça ainda que repudia toda e qualquer conduta que fuja do propósito edificante e transformador da escola.
Entenda o caso
Alunas do Ensino Médio da Escola Padre Jefferson, em Arapiraca, procuraram a direção da escola para denunciar que estavam sendo assediadas por um professor. De acordo com elas, a direção afirma que tudo não passaria de um "mal entendido" e que o professor estava sendo "carinhoso", com elas.
As estudantes decidiram, então, denunciar o caso à polícia. Elas entraram em contato com as mães e uma delas acionou a Polícia Militar para a escola. O professor foi conduzido para a Central de Polícia e foi liberado após prestar esclarecimento sobre o caso. As mães de algumas das adolescentes registraram Boletim de Ocorrência por assédio sexual.
Horas depois, a Seduc informou que o caso está sendo investigado e que o professor, que trabalha sob contrato, foi afastado de suas funções durante as investigações conduzidas pelos órgãos competentes.