Um ano sem o mestre Afrísio Acácio e o retorno do "Cultura na Praça" até o fim de 2022
Há exatamente 1 ano, no dia 17 de junho de 2021, o acordeon do mestre Afrísio Acácio dava seus últimos sopros
O ícone do forró agrestino nos deixou após complicações decorrentes da COVID-19, que ocasionaram problemas hepáticos. O corpo do mestre não resistiu.
Mas o que resiste é seu legado: hoje, sexta-feira, também 17 de junho, é dia de lembrar dele e do seu fole roncando na Praça Luís Pereira Lima, no Centro de Arapiraca, onde semanalmente ocorriam suas reuniões extramusicais com artistas de todos os naipes da região.
Cantadores, emboladores, repentistas, sanfoneiros, trianguleiros, tocadores de pife, cordelistas, zabumbeiros e declamadores de Arapiraca, Feira Grande, Taquarana, Penedo, Pindoba, Craíbas, Igaci e até de fora de Alagoas. Todos e todas nesse grande arraial montado no espaço que agora tem seu nome: Tenda Cultural Mestre Afrísio Acácio, na mesma praça.
Desde sua ida, o Projeto Cultura na Praça esteve parado. Mas nos meses de abril e maio deste ano, em uma investida da Lindeza Produções e Touro Entretenimento, houve um breve respiro a partir de um patrocínio da Lei Aldir Blanc, por meio da Secretaria de Estado da Cultura de Alagoas (Secult) e da Secretaria Nacional da Cultura, vinculada ao Ministério do Turismo (MTur), além de parceria com a Prefeitura de Arapiraca.
Comemorando os 12 anos do Cultura na Praça, de 11 de abril até 2 de maio, foram realizados eventos gratuitos sempre às segundas-feiras com diversas atrações regionais. O próprio mestre Afrísio, idealizador deste Projeto, foi o grande homenageado.
Passadas essas quatro segundas-feiras especiais, agora é a vez de este Projeto continuar caminhando para além da Lei Aldir Blanc.
Mais uma vez com o apoio cultural da Prefeitura de Arapiraca, através da Secretaria Municipal de Cultura, Lazer e Juventude, o Cultura na Praça voltou neste mês de junho com previsão de seguir até o final deste ano de 2022, iluminando as segundas-feiras da nossa gente, sempre a partir das 8h.
“O pai, amigo, poeta popular, mestre sanfoneiro e tutor de tantos artistas do forró deixou um legado imenso. Ele faz uma falta tremenda; há um buraco, ainda, no peito dos familiares, amigos e da própria cultura alagoana. A morte é o caminho de todos nós e ele fez uma linda história, uma linda passagem aqui na Terra. Em vida, recebeu diversas homenagens sendo pai, irmão e até filho ‘postiço’ de muitos. Em morte, as homenagens continuam. O que ele nos deixa são esses frutos, não apenas as sementes: ele resgatou a nossa tradição levando o forró para o Centro do município arapiraquense, para o coração de Alagoas”, diz Arlison Acácio, empresário da Touro Entretenimento e filho do mestre Afrísio.
Segundo ele, foi na gestão do prefeito de Arapiraca, Luciano Barbosa, que o Projeto Cultura na Praça se iniciou e agora novamente é retomado. “Começamos papai e eu este Projeto, mais uma vez incentivado pelo prefeito Luciano, que sinalizou positivamente para a realização dele durante este segundo semestre. Ele nos falou: ‘Esse Projeto não pode parar’. Então, estamos aqui dando continuidade a esse evento, que é terapia para muita gente. A nossa cultura segue forte, segue viva”, reforça Arlison “Touro” Acácio.
Para o filho, Afrísio escreveu coisas praticamente inapagáveis na história da música alagoana e na vida de muitas pessoas.
“Ele teve mais de 20 alunos de sanfona. Tinha o programa Manhãs Nordestinas [na antiga Pajuçara FM, em Arapiraca, que hoje continua na Rádio Líder FM] e ensinou mais de 30 radialistas sobre como conduzir um programa de resgate às nossas tradições nordestinas (eu mesmo fui um desses, com a criação do personagem que ele criou, o Bacurau). Ele chegou a muita gente com sua música e sua poesia popular. Só nos resta agora cuidar desse legado”, comenta Arlison.
Por pouco, o mestre Afrísio não viu um feito e tanto: em dezembro de 2021, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) declarou o “Forró” como sendo Patrimônio Cultural do Brasil e como um supergênero musical que reúne ritmos como xote, xaxado, baião, chamego e pé-de-serra. “Ele ficaria muito feliz ao saber disso”, dispara o filho.
O baluarte da cultura do Agreste alagoano, natural de Campo Grande e radicado em Arapiraca, partiu com 71 anos. “Ele queria muito fazer uma live de aniversário, o que não foi possível. Em parceria com a Lindeza Produções, por meio da Lei Aldir Blanc, a Touro Entretenimento conseguiu fazer durante quatro segundas-feiras uma reunião com diversos artistas e foi um lindo movimento homenageando o mestre Afrísio. A dona Alcina, minha mãe, ficou muito feliz, ainda mais com este retorno agora até o fim do ano”, conta Arlison.
Estiveram presentes artistas como Victor Jordão do Acordeon, Ailton Acácio (som), Moisés, Garoto Márcio, Souza do Acordeon, Edson (segurança), Severo da Mata Limpa, Maxsuel do Acordeon, Bastinho da Sanfona, Xameguinho do Acordeon, Assis do Acordeon, Zé Branco do Pandeiro, Nego do Agogô, Altamiro Acácio (apresentador), Ednaldo do Acordeon, Senna (operador), Magão Zabumbeiro, Zé Cheira, Bodinho da Zabumba e Zé Pretinho da Zabumba, entre tantos outros.
Para Arlison “Touro” Acácio, o Projeto Cultura na Praça é um ponto de encontro desses fazedores da cultura tradicional; é um palco, um pedestal para que essas vozes sejam enfim ouvidas. Ele assumiu a pasta, anteriormente de seu pai, na Associação Cultural de Tradições Nordestinas de Arapiraca (ACTNA) e também estará criando o próprio caminho.
Já o caminho do mestre Afrísio, como é sabido, foi firmado orbitando o mês junino durante toda a sua vida. Coincidência ou não, ele se foi justamente em junho. Poesia matuta pura.