[Vídeo] Feira livre de Arapiraca: tradição que resiste ao tempo
Com 98 anos de emancipação, feira livre de Arapiraca faz parte da cultura do município
Segundo o historiador Zezito Guedes, Arapiraca se desenvolveu em função da feira livre. Em 1920, quatro anos antes da emancipação da cidade, a feira livre de Arapiraca já era maior do que a de Palmeira dos Índios, município ao qual Arapiraca pertencia.
A feira livre, que por muitos anos foi símbolo de Arapiraca - junto com a cultura fumageira - foi o tema escolhido para abrir a série de reportagens especiais do Portal 7Segundos sobre o aniversário de emancipação política de Arapiraca.
Até o domingo, 30 de outubro - data em que completa 98 anos que a Junta Governativa Municipal foi empossada, retirando da cidade de Limoeiro o poder administrativo do município que se tornou a segunda maior cidade de Alagoas, com quase 235 mil habitantes (234.309) de acordo com o último senso realizado pelo IBGE em 2021.
A tradicional feira livre, que foi uma das maiores do país e o motor do desenvolvimento urbano da região, perdeu o protagonismo na enconomia local ao longo das últimas décadas. O desenvolvimento do comércio e de outros setores ganharam espaço e multidão de consumidores que antes só tinha a feira- livre para comprar roupas, alimentos, utensílios domésticos e também de uso no trabalho rural, migraram para esses outros segmentos da atividade econômica. Além disso, mais feiras-livres também se instalaram nos municípios vizinhos reduzindo a vinda de feirantes e consumidores para a principal cidade da região.
Quem percorre as ruas da feira-livre de Arapiraca nos dias atuais percebe que não há o "congestionamento" de pessoas como se via há algumas décadas. Pessoas e carroças se "atropelando" entre as bancas montadas nas ruas estreitas da feira.
Os feirantes, que antes tinham que dá atenção aos diversos clientes que disputavam os produtos nas bancas, hoje aguardavam pacientemente pelos consumidores que circulam pela feira.
A tradicão de receber clientes de outros municípios ainda persiste ao longo de todos esses anos. O agricultor Oscar Correia, 78 anos, é natural do Sítio Balança, na zona rural de Girau do Ponciano. Ele disse que desde "menino" acompanhava os pais na feira de Arapiraca.
"É um costume que eu nunca foi deixar. Toda segunda trago um "trocado" no bolso para comprar umas coisinha na feira da Arapiraca", revelou.
Oscar Correia, 78 anos , natural de Girau do Ponciano/ Crédito : 7Segundos
Ao caminhar pela feira de Arapiraca, percebe-se até uma certa "tristeza cultura" sem os tradicionais personagens que tanto encantavam quem frequentava o lugar. Mesmo assim, há aqueles que resistem ao tempo, como é o exemplo de Cícero Santos,62 anos, mais conhecido como "Indio" que há 40 anos trabalha produzindo pulseiras e "sons"na feira-livre de Arapiraca. Índio é descendente da etnia Fulniô do município de Água Branca, no Alto Sertão de Alagoas.
Em entrevista ao 7Segundos ele disse que o som que produz com um apito improvisado com um pedaço de canudo de plástico é pra chamar atenção de quem passa na feira.
"Tem gente que gosta, principalmente as crianças. Outras pessoas acham irritante, mas eu não me importo", afirmou com um largo sorrigo no rosto.
Os trios pé de serra, repentistas e trovadores que nos anos 90 eram vistos circulando pela feira livre, agora já não são vistos mais. Raramente se encontra um desses personagens na feira de Arapiraca.
Neste bar, que fica localizado em frente às bancas que vendem peixe", encontramos esse trio pé de serra. O toque da zabumba, do triangulo e da sanfona não chama mais tanto a atenção como antigamente. Mesmo assim, a musicalidade tradiconal do sertão é uma forma de atrair a clientela que precisa respeitar o aviso da parede. " Não atendemos sem camisa".
Mesmo sem a força econômica, sem as ruas abarrotadas de gente, a feira livre ainda encanta com suas cores, sons, cheiros e a diversidade de produtos ofertados. Com quase um século de emancipação, a feira-livre de Arapiraca resiste ao tempo.