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Ação do garimpo contra yanomamis tem ataques a postos, estupro e até show

Um dos casos de maior repercussão ocorreu em abril de 2022, quando uma menina de 12 anos da comunidade Aracaçá teria sido estuprada e morta por garimpeiros

Por Uol 24/01/2023 09h09
Ação do garimpo contra yanomamis tem ataques a postos, estupro e até show
Garimpo ao lado da comunidade Homoxi eleva tensão no local - Foto: Condisi Yanomami

Além de fome, desnutrição e morte, a invasão da Terra Yanomami por garimpeiros ilegais ao longo dos últimos anos provocou ocupação e fechamento de postos de saúde e um caso suspeito de estupro, entre outros crimes.

O MPF (Ministério Público Federal) em Roraima lista 13 visitas, nove ações e quatro recomendações em suas investigação de casos de violência e proteção dos povos entre 2021 e 2022.

Segundo relatório do povo yanomami, somente de 2018 a 2021 a área de garimpo na Terra Indígena cresceu de forma avassaladora, saltando de 1.200 para 3.272 hectares.

Um dos casos de maior repercussão ocorreu em abril de 2022, quando uma menina de 12 anos da comunidade Aracaçá teria sido estuprada e morta por garimpeiros. Após o crime, o corpo dela foi jogado no rio.

O MPF e outros órgãos realizaram diligência ao local, mas não encontraram vestígios do crime. A área onde o estupro teria ocorrido foi queimada —um ritual tradicional para casos de morte violenta de um integrante do povo.

Durante a pandemia de covid-19, houve intensificação de procedimentos para tentar garantir a proteção dos indígenas das invasões. No início de 2021, os procuradores da República investigaram a realização de show musical promovido pelo garimpo na Terra Yanomami.

A apresentação do cantor Wanderley Andrade ocorreu em 27 de dezembro de 2020, em meio à fase crítica de disseminação do coronavírus, em uma localidade conhecida como Prainha, em Alto Alegre.

Após acordo entre MPF, artista e representantes do povo indígena, Wanderley Andrade gravou um vídeo pedindo desculpas, alegou não ter ciência da invasão e ainda doou ferramentas e equipamentos de trabalho para as comunidades afetadas.

Também foram listados ataques a postos de saúde. Em dezembro do ano passado, a Hutukara Associação Yanomami denunciou o mais grave deles: garimpeiros queimaram uma unidade de atendimento na região do Homoxi, onde vivem 700 indígenas.

A ação seria uma retaliação à Operação Guardiões do Bioma, realizada pela PF (Polícia Federal) e Ibama em 5 de dezembro.

Outras comunidades também tiveram o serviço de saúde interrompido. Segundo o Condisi (Conselho Distrital de Saúde Indígena), 5 dos 78 postos de saúde do território ficam em áreas invadidas e tomadas pelo garimpo ilegal e estão fechados —o que deixou muitas comunidades totalmente sem assistência.

Para Júnior Yanomami, presidente do Condisi, denúncias de casos mais graves até geraram respostas das autoridades —mas ações para expulsar os garimpeiros nunca ocorreram.

Vinham sempre para uma visita após um caso de repercussão, apagavam o fogo daquele momento como se fosse bombeiro, mas deixavam os grandes incêndios. Assim fomos tendo a terra cada vez mais invadida."

Ontem, a Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do MPF divulgou nota em que afirma que "a grave situação de saúde e segurança alimentar sofrida pelos povos yanomami resulta da omissão do Estado brasileiro em assegurar a proteção de suas terras". O texto diz que "as providências adotadas pelo governo federal foram limitadas".

Segundo o Ministério dos Povos Indígenas, 570 crianças yanomami morreram por contaminação por mercúrio, desnutrição e fome, "devido ao impacto das atividades de garimpo ilegal na região". O Ministério da Saúde decretou estado de emergência para combater a falta de assistência sanitária. A Polícia Federal vai apurar crimes de genocídio e ambiental.