Cultura

Morre o fundador da Caetés Filmes do Brasil

Primeiro projeto de filme produzido pela Caeté foi exibido no Clube Fênix em 1967

Por História de Alagoas 22/02/2023 08h08
Morre o fundador da Caetés Filmes do Brasil
José Wanerdeley Lopes fundador da Caetés Filmes do Brasil - Foto: Reprodução

Em 1963, José Wanderley Lopes, um intrépido sergipano, inaugurou na sala nº 808 do Edifício Breda, Centro de Maceió, a Caeté Filmes do Brasil, uma empresa cinematográfica que se propunha a atuar no mercado alagoano de documentários e reportagens.

O primeiro trabalho da Caeté foi na produção de um jornal cinematográfico local, exibido nas principais salas de cinema da capital antes do início dos filmes. O governador Luiz Cavalcanti foi um dos seus clientes e teve algumas de suas inaugurações e viagens pelo interior do estado documentadas.

Nascido no dia 11 de novembro de 1934, em Carmópolis, Sergipe, o filho do alagoano José Bezerra Lopes (de Olho d’Água das Flores) e da pernambucana, de Bom Conselho, Aurora Araújo Wanderley mudou-se para Maceió ainda muito jovem.

Tentou estudar Direito, mas as adversidades o obrigaram a interromper o curso em 1956, quando já casado com Deunice Alves Wanderley foi tentar a vida em São Paulo, onde começou trabalhando nos escritórios da DIPA, Distribuidora Paulista de Filmes.

Esteve por dois anos na TITAN Filmes e em seguida foi para a Produtora e Distribuidora Campos Filmes, onde teve contato pela primeira vez com uma câmera, estimulado por seu amigo Sérgio Campos.

De volta a Maceió em 1959 e morando na Rua Santo Antônio, 366, Ponta Grossa, conheceu Pedro Onofre por indicação de um técnico em revelação de filmes de nome Jackson (tinha laboratório na Rua do Comércio, próximo à Praça dos Martírios). Foi com o apoio de Onofre que criou a Caeté Filmes do Brasil.

Cinema

A primeira tentativa da empresa em produzir um filme foi tornada pública em 1º de novembro de 1967, quando a Caeté apresentou, no Clube Fênix, o projeto de filmagem do romance “Sidrônio”, então um livro de sucesso do escritor alagoano Adalberon Cavalcanti Lins.

O evento era também o início das vendas de cotas de coprodução. José Wanderley anunciou na oportunidade que a produção seria de grupos do Sudeste vinculados à Herbert Richers.

Até o governador Lamenha Filho prestigiou o evento e garantiu que o secretário de Segurança, coronel Adauto Barbosa, forneceria os equipamentos utilizados pelos “policiais” do filme.

A equipe técnica foi divulgada: diretor de fotografia, Antônio Thomé; diretor de produção, José Wanderley; diretor de cinegrafia, Paulo Abbott; assistente de direção, Adnor Pitanga; produtor executivo, José Wanderley; produção associada, Maceió, Rio e São Paulo.

Em fevereiro de 1968, José Wanderley divulgava que os preparativos para filmagem continuavam e que o cineasta Adolfo Chadler estaria envolvido com a produção. A captação de recursos atingiu 70% do esperado, mas como contratualmente o filme somente seria rodado com o orçamento fechado, o projeto foi interrompido e os recursos devolvidos, com juros, aos investidores.

O segundo projeto cinematográfico da Caeté surgiu em 1971 com A Volta pela Estrada da Violência. A expectativa era de se conseguir retorno comercial com esse empreendimento, mas isso não aconteceu. Alguns estudiosos identificam que o problema residia nos exibidores, que somente aceitavam filmes coloridos.


Em 1982, a Caeté Filmes do Brasil Ltda estava envolvida com o seu segundo longa-metragem, Mulheres Liberadas, dirigido por Adnor Pitanga.

Eram três histórias eróticas: “O Pneu” (executivo italiano viaja à noite e pede socorro a uma bela garota que estava com seu carro parado no meio-fio por causa de um pneu furado); “O Telefone” (mulher rica, casada e insatisfeita recebe telefonemas obscenos de um estranho, com quem passa a ter fantasias eróticas); e “A Curra” (Marcinha é atacada por dois assaltantes quando está numa praia deserta).

O filme, que foi locado em Maceió e em Rio Bonito no Rio de Janeiro, teve o seguinte elenco: Rossana Ghessa (Elisa), Ana Maria Kreisler (Luiza), Tânia Moraes (Márcia), Arlindo Barreto (Júlio), Arthur Roverdder (Pietro Boticelli), Reinaldo Genes, Ivan de Almeida, Luiz Oliveira, Carlos Sammero e Wellington Wanderley.

O último projeto de longa-metragem da Caeté foi apresentado à Ancine em 16 de novembro de 2001. José Wanderley conseguiu a autorização para captação pela Lei Rouanet do filme “Alexandrita – Olhos de Fogo”. O orçamento era de R$ 3.452.920. Filme de longa-metragem pretendia abordar a riqueza oculta nas entranhas da terra, na área de mineração de esmeraldas na Bahia. Em 12 de janeiro de 2005 foi cancelada a autorização, após uma prorrogação em 2004.