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Pesquisa sobre HIV desenvolvida na Ufal Arapiraca é publicada em importante revista científica

Estudo coordenado pelo professor Márcio Bezerra, do Campus Arapiraca, analisou os dois primeiros anos da crise sanitária e foi publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature

Por 7segundos/Assessoria 29/12/2023 16h04 - Atualizado em 29/12/2023 17h05
Pesquisa sobre HIV desenvolvida na Ufal Arapiraca é publicada em importante revista científica
Estudante Thiago Amorim, professor Márcio Bezerra e o estudante Lucas - Foto: Reprodução

 Uma pesquisa inédita coordenada pelo professor Márcio Bezerra, do Campus Arapiraca da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), que trouxe dados preocupantes para a evolução e controle da doença no país. Os resultados foram publicados na Scientific Reports, uma das revistas que integra o grupo Nature. 

O tema do estudo foi sobre o impacto da pandemia da covid-19 nos indicadores de diagnóstico e mortalidade por HIV/Aids em todo o Brasil entre 2020 e 2021.

As análises feitas pelo estudo mostram que o número total de diagnósticos de HIV/Aids teve diminuição de 22,4% em 2020 e de 9,8 em 2021. No entanto, houve aumento significativo na variação percentual de mortes pela doença com diagnóstico tardio: em 2020, o número foi de 6,9% e no ano seguinte, o número quase dobrou, indo para 13,9%. Em alguns estados, esse aumento foi superior a 87%, dentre eles, Alagoas, cujo número de óbitos com diagnóstico tardio foi de 90,7% em 2020 e de 117,8% em 2021.

“Foram reportadas tendências temporais decrescentes nos diagnósticos de HIV/Aids antes da pandemia especialmente nas regiões Sudeste e Sul do Brasil. Contudo, essas tendências temporais se estabilizaram após a inclusão dos dois primeiros anos da pandemia. De modo geral, esses resultados ressaltam o grave impacto das ações relacionadas à pandemia nas estratégias de controle do HIV/Aids e indicam um cenário preocupante e insidioso para a evolução e controle da doença no Brasil”, explica Márcio Bezerra.

Diagnóstico precoce é um desafio global


Segundo o professor, o Ministério da Saúde informou que, em 2018, o Brasil registrou um total de 43.941 novos casos de infecção por HIV e 37.161 novos pacientes com o vírus da aids. No entanto, houve diminuição na incidência de infecções oportunistas, nas taxas de hospitalização e de mortalidade por aids de 22,8% entre 2014 e aquele ano.

“Por outro lado, houve um aumento nas taxas de infecção entre jovens de 15 a 20 anos. Apesar das estratégias de controle como campanhas de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento oportuno, o HIV/Aids continua sendo um desafio global e o objetivo de controlar a doença parece longe de ser alcançado”, aponta o pesquisador.

Além disso, mesmo depois de 40 anos desde a descoberta do vírus, a Aids continua sendo um grave problema de saúde pública em todo o mundo. Segundo Márcio, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) estimou que, em 2019, 38 milhões de pessoas em todo o mundo eram portadoras do vírus e somente na África, ele destaca, foram 400 mil mortes, número que representa mais de metade da taxa de mortalidade global.

HIV continua se espalhando pelo mundo

Apesar dos avanços na prevenção e na testagem do HIV, a doença continua a se espalhar pelo mundo, especialmente na Europa Central, na Ásia Central, no Médio Oriente, na África e também na América Latina. É ela, inclusive, que detém a segunda maior taxa de prevalência da doença a nível mundial: a estimativa chega a 2,2 milhões de pessoas infectadas.

“Em comparação com as estimativas de 2010, a incidência global do HIV em 2019 diminuiu 23% e a mortalidade 37%. Por outro lado, o número global de pessoas que vivem com HIV foi 24% superior em 2019 do que naquele ano. Apesar de todos os avanços alcançados nas últimas décadas, incluindo campanhas de prevenção, adesão à testagem do HIV e uso contínuo da terapia antirretroviral [TARV], a pandemia do HIV permanece, ainda, em expansão, com destaque para a América Latina”, complementa Márcio.

O professor diz ainda que o Brasil desempenha papel significativo nesse cenário por conta da concentração de casos. “A região [América Latina] não registrou redução nas taxas de infecção na última década e o Brasil desempenha um papel importante neste cenário, sendo responsável por 1/3 da população total que vive com a doença. O Brasil é responsável por 35% da população total que vive com HIV e 47% das novas infecções na América Latina”, lamenta Márcio Bezerra.

Em Alagoas, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) registrou queda no número de casos, indo de 340 no ano de 2021 para 292 em 2022. No entanto, Márcio diz que é preciso manter o alerta. “A Secretaria de Estado da Saúde alerta que a maioria dos diagnósticos foi realizado em jovens de 20 a 34 anos. E destaca ainda que, apesar dessa redução, não se deve ignorar os cuidados preventivos e a testagem para o vírus. Embora exista tratamento para o HIV/Aids, ainda não há cura para a doença”, lembra o docente.