Estudo mapeia solo e traça plano de manejo para águas do Canal do Sertão
Dez pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Agronomia atuam diretamente na região; expectativa é que produtores rurais sejam beneficiados
O Sertão vai virar mar. Um estudo inédito da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) vem mapeando o solo, dados meteorológicos e culturas agrícolas do semiárido alagoano com a proposta de traçar um plano de manejo para as águas do Canal do Sertão. A expectativa é que secretarias de agricultura, extensionistas e produtores rurais do estado sejam diretamente beneficiados pelas pesquisas, fazendo com que a Ufal cumpra seu papel social. Atualmente, o Canal do Sertão conta com 125 km de extensão.
Os estudos são liderados pelo professor e pesquisador Alexsandro Almeida, que é vinculado, desde 2017, aos cursos de graduação em Ciências Agrárias e ao Programa de Pós-graduação em Agronomia da Ufal. Além dele, dez pós-graduandos se dedicam ao levantamento: três pós-doutorandos, cinco doutorandos e dois mestrandos. Os estudos têm apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), Capes, CNPq, Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) e Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária (Seagri-AL). Os primeiros dados sistematizados sobre essa região de Alagoas estão em fase de produção.
“A expectativa é que até 70% do volume de água do Canal do Sertão seja usado para irrigação. Há muito o que se desenvolver na parte de agricultura irrigada no local. O relato que temos é que há muito uso, mas sem nenhum critério técnico. O nosso intuito é realizar pesquisas e criar um projeto de extensão que possa fornecer informações aos técnicos e agricultores, para que eles possam escolher as culturas mais adequadas para a região e também auxiliar no manejo da água”, explicou o professor e pesquisador Alexsandro Almeida.
De acordo com ele, além de auxiliar diretamente os produtores rurais que atuam no Sertão e no Agreste alagoanos, as pesquisas desenvolvidas na Universidade vão servir como base para criação de políticas públicas por parte de gestores municipais e estaduais. “Será necessário transportar água para diferentes municípios e desenvolver infraestrutura para o desenvolvimento da agricultura irrigada. Logo, os gestores precisam conhecer a demanda de água correta e os investimentos para cada localidade”, complementou.
Alexsandro Almeida ressalta que a região por onde passa o Canal do Sertão tem uma variabilidade muito grande de solo. Segundo ele, em uma única fazenda, de cinco hectares, é possível encontrar até três tipos de solo. “É preciso saber que cultura plantar em cada área. Nós estamos fazendo inicialmente estudos de aptidão para a agricultura irrigada, com análises como profundidade, tipo e características, além da quantidade de água que esse solo pode suportar. Com essas informações, vamos definir o melhor tipo de cultura”, explicou.
As pesquisas devem resultar ainda na criação de um projeto de extensão que disponibilizará informações técnicas para as secretarias e os produtores. O professor prevê a divulgação de boletins técnicos e, até mesmo, a criação de uma plataforma eletrônica na qual sejam disponibilizados dados como as culturas que mais se adaptam a cada região, assim como a quantidade de água necessária para a produção dessas culturas irrigadas.
“O nosso foco é formar os estudantes. A ideia é que a gente tenha dez profissionais que serão formados pela Ufal e que estarão aptos a trabalhar na região. Se fosse necessário contratar alguém para trabalhar naquela área, seria necessário trazer alguém de fora. Com esses estudos, formaremos profissionais para atuar diante de condições específicas. Esse é o principal produto. Mas, claro que, a partir da formação, nós teremos teses, dissertações e documentos técnicos que poderão auxiliar gestores e técnicos”, acrescentou.
A coleta de amostras de solo e dados tem sido feita diretamente no local. Em 2022, os pesquisadores realizaram uma missão de campo que percorreu sete municípios. A ação se repetiu no primeiro semestre deste ano de 2023. “Começamos em Delmiro Gouveia, passamos por Água Branca e Pariconha até chegar em São José da Tapera. Passamos uma semana lotados em São José da Tapera, porque lá sediará o primeiro perímetro irrigado, num projeto piloto do governo de Alagoas. Foi uma experiência muito boa”, confirmou Alexsandro Almeida.
Um dos projetos desenvolvidos pela Ufal na região do semiárido alagoano é tocado pelo engenheiro Renato Carvalho. Além de ser integrante do Programa de Pós-graduação em Agronomia, ele é servidor público, lotado na Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri). Para ele, a integração entre a academia e o campo é fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas efetivas para a região beneficiada pelo Canal do Sertão.
“O estudo que desenvolvo foca na dinâmica da matéria orgânica no solo daquela região. Se nós queremos verdadeiramente desenvolver o semiárido percorrida pelo Canal do Sertão, precisamos buscar na ciência as respostas aos nossos problemas específicos e inerentes ao nosso contexto”, expôs Carvalho.
O pós-doutorando Adolpho Rocha também atua na região, desenvolvendo um projeto de tecnologias sustentáveis em cultivos irrigados para agricultura familiar. Segundo ele, o projeto tem possibilitado colocar em prática todo o conhecimento obtido ao longo da sua formação acadêmica e adquirir conhecimento sobre um tema de alta relevância.
“Uma vez que atuo como pesquisador de pós-doutorado, a execução do projeto permite que eu cooriente alunos de graduação e pós-graduação, o que irá contribuir para a minha carreira de pesquisador e docente. Além disso, o projeto proporcionará informações científicas que ajudarão na criação de políticas públicas”, afirmou.
E complementa: “O Canal do Sertão é uma obra com grande potencial para o desenvolvimento da agricultura familiar no estado. Uma vez que a população do semiárido sobrevive em condição de alta vulnerabilidade socioeconômica, devido à baixa quantidade de chuvas e ocorrência de secas recorrentes, o Canal vai proporcionar aos agricultores familiares o desenvolvimento da agricultura irrigada ao longo de todo o ano. Isso resultará em maior oferta de alimentos e geração de emprego.”