Maquiador arapiraquense relata drama em UTI por uso de cigarro eletrônico
Erick Maldonado começou a sentir falta de ar de repente e passou quase 20 dias internado
Os alertas já foram dados pelas entidades responsáveis pelos cuidados com a saúde em todo o mundo e divulgados através de notícias nos veículos de comunicação e artigos científicos, mas ainda assim a aparente inofensividade dos vapes (vaporizadores), sigla utilizada como referência para os cigarros eletrônicos, continua seduzindo cada vez mais usuários e provocando estragos na vida das pessoas de maneira silenciosa, como fumaça que se dissipa no ar.
Em Arapiraca, no Agreste de Alagoas, um caso associado ao uso do vape foi acompanhado por uma equipe médica do Hospital Chama (Complexo Hospitalar Manoel André), localizado na cidade.
A história envolve o cabeleireiro, maquiador e empresário do ramo de beleza, Erick Maldonado, de 29 anos, morador da cidade de Arapiraca, no Agreste alagoano.
Erick passou quase 20 dias internado na enfermaria do hospital Chama se recuperando de um grave problema de saúde ocasionado pelo uso do vape.
Ele foi diagnosticado com a doença EVALI (sigla em inglês referente a uma lesão pulmonar associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico). Portanto, trata-se de uma doença causada exclusivamente pelo uso desses dispositivos.
Erick contou à reportagem do 7Segundos que já fumou cigarro comum por curiosidade, mas não gostava muito. Há cerca de dois anos e meio, ele começou a fazer uso do cigarro eletrônico de maneira mais social, quando saía para se divertir com os amigos, por exemplo.
"Meu uso do vape no começo sempre foi de forma social, apenas quando ia pra shows, e com o tempo comecei a usar também sempre que eu bebia, e assim permaneci por um bom tempo usando o cigarro eletrônico em eventos casuais, mas de alguns meses pra cá, comecei a usar com uma maior frequência, de maneira diária", conta Erick.
Dispositivo torna-se atrativo também pelo seu aroma líquido. Foto: ilustração/internet
Faz quase um mês que os sintomas do uso mais contínuo do cigarro eletrônico começaram a surgir para Erick. Em outubro deste ano, em uma viagem que fez para Maceió, passou um dia em observação em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da capital alagoana após sentir falta de ar.
No dia seguinte, após retornar para Arapiraca, precisou ser internado e passou três dias na área vermelha da UPA de Arapiraca, além de mais quatro dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de isolamento, sendo transferido após uma melhora, para a enfermaria do hospital Chama, onde permanece até hoje se recuperando do problema de saúde causado pelo uso do vape.
"Eu nunca achei que estava adoecendo por conta do cigarro, mesmo sabendo e vendo que os vapes eram pior que cigarros normais, mas eu ignorava isso por não sentir nada. Em alguns períodos tentei parar de fumar, mas sempre falhava pela vontade exarcebada de fumar", declarou.
Erick contou também que na primeira internação, sentiu uma falta de ar persistente e acompanhada de uma saturação muito baixa.
"Foi de repente, eu passei o dia todo normal sem nenhum sintoma de nada, a noite quando fui tomar banho, ao tirar a roupa eu comecei a ficar sem ar, muito ofegante. Tentei me tranquilizar pq achei que tinha sido algo pontual e fui ao banho, quando terminei e saí do box estava tão cansado e ofegante quanto antes, daí eu percebi que não tinha como eu permanecer em casa, que aquilo não era normal. E procurei imediatamente a UPA", relatou.
Erick finalizou seu tratamento estava semana e recebeu alta do Hospital Chama na última quinta-feira (07). Ele contou à reportagem do 7Seundos que sempre foi uma pessoa saudável, quando fazia exames o resultados eram normais, tinha uma vida ativa e sem comorbidade e foi isso que em parte, não o fez morrer.
Por tudo isso que passou em tão pouco tempo e com a recuperação alcançada, Erick acredita que deve abraçar uma missão em sua vida: dar o seu testemunho pessoal para que outras pessoas e jovens com ele, não sejam "seduzidos" pela moda dos cigarros eletrônicos.
"Sinto que minha missão agora é alertar o máximo de pessoas possíveis sobre o mal escondido por trás do uso de cigarros eletrônicos, é uma morte silenciosa e só quem lutou pra viver saber de fato o valor da vida. Não estraguem seu futuro por um momento ou uma “modinha” se você tem a oportunidade de parar hoje, pare. Esse será o maior bem que fará pra você, o VAPE mata sem lhe dar tempo de correr atrás de saúde, é do dia pra noite", concluiu.
Postagem feita por Erick durante período de internação. Foto: reprodução/redes sociais
Diagnostico e Tratamento
A médica pneumologista Thaysa Karlla de Albuquerque Jatobá, que acompanhou Erick durante seu período de internação na enfermaria do Hospital Chama, forneceu detalhes sobre os alguns procedimentos realizados durante o tratamento do paciente.
Ela contou que Erick deu entrada na urgência por dispneia intensa aos mínimos esforços, tosse e dessaturação, com necessidade de suporte de oxigênio e monitorização em ambiente de UTI.
Após alguns dias na UTI, ele conseguiu ter alta para a enfermaria, onde seu tratamento e cuidados continuaram, assim como sua luta pela vida.
"Até hoje, pouco se sabe sobre a fisiopatologia exata pela qual os DEFs (Dispositivos Eletrônicos para Fumar) levam a lesão pulmonar, mas o que sabemos até então é que em alguns casos podemos lançar mão de corticoides em doses alta, na tentativa de redução das lesões agudas da EVALI (Lesão Pulmonar Associada ao Uso de Cigarro Eletrônico), mas o principal tratamento é realmente cessar o uso do cigarro eletrônico", disse a médica.
O diagnóstico de EVALI é feito por exclusão de outras doenças pulmonares e pela análise do histórico de uso de cigarros eletrônicos, por isso a importância de contar ao profissional de saúde caso faça uso desses dispositivos.
Essa condição é caracterizada por uma série de sintomas respiratórios agudos, incluindo tosse, falta de ar, dor no peito, dessaturação, febre e, em alguns casos, vômitos e diarreia.
"Graças a Deus, a história de Erick foi diferente de outras, foi uma história com final feliz, poderia ter sido muito diferente, caso ele não tivesse procurado ajuda logo, ou não tivesse cessado o uso do cigarro eletrônico. Que ela sirva de exemplo pra incentivar outros jovens a cessarem o uso do cigarro convencional ou DEFs, afinal ambos fazem muito mal à saúde", disse a pneumologista.