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R$ 16 mil para 'evaporar': japoneses pagam para sumir e começar nova vida

No Japão, milhares de pessoas optam por desaparecer todos os anos

Por UOL 23/12/2024 09h09
R$ 16 mil para 'evaporar': japoneses pagam para sumir e começar nova vida
No Japão, algumas pessoas optam por "desaparecer" e criar uma segunda vida - Foto: Issei Kato/REUTERS

Em um movimento feito por pessoas conhecidas como jouhatsu, japoneses optam por desaparecer e abandonar suas vidas, suas casas e suas famílias. A prática, que acontece discretamente no Japão há décadas, conta com empresas que auxiliam os interessados em "evaporar".

Desaparecer sem deixar rastros não é uma prática exclusiva aos japoneses. No entanto, no país asiático a prática conta até com um nome para aqueles que desejam começar uma nova vida. Os jouhatsu decidem seguir um novo caminho sem olhar para trás.

O termo dedicado a essas pessoas significa "evaporação". A definição de jouhatsu indica aqueles que somem propositalmente e escondem seu novo paradeiro até mesmo de suas famílias "antigas".

As motivações que levam à 'evaporação' geralmente são negativas. A pressão por um bom desempenho no emprego, uma desilusão amorosa, dificuldades financeiras ou o sentimento de insatisfação generalizada podem fazer com que a pessoa opte por desaparecer do cenário em que está vivendo e buscar uma nova realidade.

Não corresponder às expectativas de terceiros também pode provocar o movimento dos jouhatsu. Em entrevista à rede britânica BBC, Sugimoto [que solicitou anonimato parcial, não tendo seu primeiro nome divulgado] contou que não desejava tocar o negócio do pai. Para fugir da angústia que a situação causava, Sugimoto deixou sua cidade e não revelou a ninguém seu destino. " Fiquei farto das relações humanas. Peguei uma mala e desapareci. Eu simplesmente fugi", explicou.

Milhares de japoneses optam por desaparecer todos os anos. Segundo dados do Hopkins Training & Education Group, de Hong Kong, cerca de 100 mil pessoas fogem de suas casas sem deixar vestígios todos os anos.

O termo jouhatsu passou a ser utilizado na década de 1960. Segundo o sociólogo Hiroki Nakamori, que pesquisa o fenômeno há mais de dez anos, o desaparecimento voluntário passou a ser utilizado por aqueles que preferiam sumir do que precisar lidar com situações difíceis, como um divórcio. "No Japão é mais fácil desaparecer do que em outros países", explicou à BBC.

Segundo o sociólogo, a privacidade dos japoneses é um fator inegociável, o que dificulta eventuais buscas pelo jouhatsu. As pessoas desaparecidas podem, por exemplo, sacar dinheiro em caixas eletrônicos sem serem descobertas e os membros da família não podem acessar vídeos de câmeras de segurança que poderiam ter gravado seus entes queridos enquanto fugiam. As autoridades não se envolvem nestes casos, a menos que tenham suspeitas mais graves.

“A polícia não vai intervir, a menos que haja outro motivo, como um crime ou um acidente. Tudo o que a família pode fazer é pagar caro a um detetive particular. Ou simplesmente esperar”, disse Hiroki Nakamori.

Alto número de jouhatsu fez surgir um novo mercado no Japão

As pessoas que desejam abandonar suas vidas e buscar uma nova versão de si mesmas contam com apoio profissional. Conhecidas pela discrição que o processo de um jouhatsu exige, as empresas são responsáveis pelo planejamento da fuga.

A alta demanda por serviços do tipo fez com que um novo mercado surgisse no Japão. A indústria chamada Yonige-Ya, que significa "fugir à noite" em japonês, é especializada em ajudar as pessoas que desejam se esconder e se mover rapidamente para sair de suas vidas originais. Apesar do nome se referir a movimentações feitas durante a noite, a fuga pode acontecer em outros horários, conforme avaliação da empresa.

“A equipe da Yonige-Ya planejará primeiro um horário de mudança adequado. Certifique-se de que o tempo de movimentação não seja muito longo para evitar o perigo de ser descoberto”, explicou Hopkins Training & Education Group.

Como parte do pacote, as empresas ajudam o contratante a se retirar de sua vida atual. São oferecidos, por exemplo, serviços como transporte e hospedagens em lugares distantes.

Além de auxiliar os clientes com locomoção e acomodação, a indústria Yonige-Ya apaga todas as eventuais pistas para que o jouhatsu não seja encontrado. Para evitar que a pessoa que sumiu seja rastreada, as empresas lidam com os detalhes que podem ser atribuídos ao jouhatsu, como telefones celulares, contas de consumo e cartões de crédito.

Segundo dados do Hopkins Training & Education Group, os valores cobrados pelas empresas podem variar. Um levantamento feito pelo portal indica que o custo de um único serviço varia de US$ 450 a US$ 2.600 (cerca de R$ 2.700 e R$ 16.000 conforme cotação atual). O número de clientes, a idade dos interessados em desaparecer e os itens a serem levados são variáveis que podem alterar o valor final do pacote contratado.