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Ouro para Martine e Kahena: medalha consolida soberania olímpica da vela e do clã Grael

Brasileiras conquistaram o bicampeonato olímpico

Por Yahoo Esportes 03/08/2021 10h10
Ouro para Martine e Kahena: medalha consolida soberania olímpica da vela e do clã Grael
Martine Grael e Kahena Kunze ganharam ouro na vela 49er FX - Foto: Reuters

A medalha de ouro conquistada pela carioca Martine Grael e pela paulista Kahena Kunze na madrugada desta terça-feira (3/8) em Tóquio 2021 consolidou o domínio da vela como o esporte mais campeão do Brasil em Olimpíadas.

O ouro é o oitavo da história da vela brasileira — uma trajetória que começou com dois ouros em Moscou em 1980 e que vem rendendo medalhas ao país em todas as edições dos Jogos desde então. É disparado o esporte brasileiro com o maior número de medalhas de ouro nos Jogos. O segundo esporte mais campeão do Brasil, o atletismo, ganhou cinco ouros.

A vela brasileira também produziu o maior campeão olímpico da história do país: o velejador Robert Scheidt, detentor de dois ouros, duas pratas e um bronze.

Mas a trajetória que mais impressiona é a da família de Martine, os Grael. O clã é responsável por nove medalhas olímpicas. O pai da velejadora, Torben, é um dos maiores campeões olímpicos do Brasil, com dois ouros, uma prata e dois bronzes (possui o mesmo número de medalhas de Scheidt, mas com uma prata a menos).

O tio, Lars Grael, ganhou dois bronzes. Ele continuou competindo mesmo depois de um acidente em 1998, quando, durante uma prova em Vitória, um barco de pesca invadiu a área da regata e se chocou com a embarcação de Lars. O velejador caiu na água e teve uma de suas pernas decepadas pela hélice da lancha.

O irmão mais velho de Martine, Marco Grael, também competiu em Tóquio 2021 na mesma classe, 49er FX em dupla, mas não se classificou para a Medal Race, a regata final.

Hoje com 30 anos de idade, a bicampeã olímpica começou a velejar aos quatro anos de idade e é atleta do Rio Yacht Club.

A tradição da família de Niterói — berço dos Grael e do iatismo brasileiro — é longa. Martine é neta do coronel do Exército Dickson Melges Grael, ex-presidente da Comissão de Desportos das Forças Armadas, e da velejadora Ingrid Grael — cujos irmãos Axel e Erik Schmidt foram os primeiros campeões mundiais de vela, em 1961.

A família também tem participação na política. Axel Grael, irmão de Torben e Lars, é prefeito de Niterói pelo PDT. A cidade abriga desde 1998 o Projeto Grael, que busca conciliar iatismo e inclusão social. Lars também ocupou cargos no governo FHC e no governo Alckmin.

Martine e Torben se tornaram a primeira dupla de pai e filha bicampeã olímpica como atletas, um desempenho excepcional na história do país em Jogos — de cada dez medalhas de ouro do Brasil, uma veio dos Grael.

Esporte caro e de nicho
A vela está longe de ser um dos esportes favoritos dos brasileiros, ou de qualquer outro torcedor no mundo. Considerado de elite e caro — um curso introdutório, com quatro aulas, custa a partir de R$ 500; um barco a vela dificilmente sai por menos de R$ 15 mil — a vela é um esporte de nicho praticado e acompanhado apenas em clubes especializados, com pouca transmissão na televisão ou cobertura pela imprensa esportiva.

No Brasil, a vela começou a ganhar espaço em 1906, com a fundação do Yacht Clube Brasileiro no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, que pouco depois se mudaria para Niterói. A primeira prova nacional foi disputada em 1935.

O Brasil levou 13 velejadores a Tóquio 2021 (seis mulheres e sete homens) — equipe chefiada pelo pai de Martine, Torben. A vela é um dos esportes olímpicos mais tradicionais da era moderna — esteve presente em todas as edições dos Jogos, com exceção da primeira Olimpíada, de 1896.

A competição em Tóquio tem seis classes: Laser, RS: X (windsurfe), 470, 49er, Finn (só para homens) e Nacra 17.

Duas classes fazem sua segunda aparição no programa olímpico. O 49er FX Skiff para mulheres (vencido por Martine e Kunze) e o Nacra 17 fizeram sua estreia no Rio 2016.

A vela exige rapidez de raciocínio, agilidade, força física e capacidade de elaboração de estratégia dos atletas.

Cada competição é formada por uma série de corridas. Os pontos em cada corrida são atribuídos de acordo com a posição: o vencedor ganha um ponto, o segundo colocado ganha dois e assim por diante. A corrida final é chamada de Medal Race (corrida de medalhas), na qual os pontos são duplicados. Após a corrida pela medalha, o indivíduo ou equipe com o menor número total de pontos é o campeão.

Durante as corridas, os barcos navegam em um percurso em forma de um enorme triângulo, rumo à linha de chegada após enfrentarem o vento em três direções. Eles devem passar por boias de marcação um certo número de vezes e em uma ordem pré-estabelecida.

O iatismo não é apenas uma corrida contra outros barcos, mas uma batalha com a natureza: a altura das ondas, a força das marés, a força do vento e outros fatores climáticos.

Não é possível velejar em linha reta em todo o percurso. Ao navegar com vento contrário, os barcos tentam "pegar" o vento movendo-se em zigue-zague. Avançar no percurso requer mudanças ousadas de direção e curvas apertadas, com as tripulações controlando suas embarcações mudando a posição e a orientação de seus corpos no barco.

Confira abaixo as 19 medalhas conquistadas pela vela brasileira em Olimpíadas.

1. 1968 México: Bronze — Burkhard Cordes e Reinaldo Conrad (Flying Dutchman)

2. 1976 Montreal: Bronze — Peter Ficker e Reinaldo Conrad (Flying Dutchman)

3. 1980 Moscou: Ouro — Eduardo Penido e Marcos Soares (470)

4. 1980 Moscou: Ouro — Alexandre Welter e Lars Björkström (Tornado)

5. 1984 Los Angeles: Prata — Torben Grael, Daniel Adler e Ronaldo Senfft (Soling)

6. 1988 Seul: Bronze — Torben Grael e Nelson Falcão (Star)

7. 1988 Seul: Bronze — Clinio Freitas e Lars Grael (Tornado)

8. 1996 Atlanta: Ouro — Robert Scheidt (Laser)

9. 1996 Atlanta: Ouro — Marcelo Ferreira e Torben Grael (Star)

10. 1996 Atlanta: Bronze — Kiko Pelicano e Lars Grael (Tornado)

11. 2000 Sydney: Prata — Robert Scheidt (Laser)

12. 2000 Sydney: Bronze — Marcelo Ferreira e Torben Grael (Star)

13. 2004 Atenas: Ouro — Robert Scheidt (Laser)

14. 2004 Atenas: Ouro — Marcelo Ferreira e Torben Grael (Star)

15. 2008 Pequim: Prata — Bruno Prada e Robert Scheidt (laser)

16. 2008 Pequim: Bronze — Fernanda Oliveira e Isabel Swan (470)

17. 2012 Londres: Bronze — Bruno Prada e Robert Scheidt (star)

18. 2016 Rio: Ouro — Martine Grael e Kahena Kunze (49er)

19. 2021 Tóquio: Ouro — Martine Grael e Kahena Kunze (49er)