Alagoas

Infectologista condena automedicação em casos de zika e chikungunya

Por Agência Alagoas 25/06/2016 15h03
Infectologista condena automedicação em casos de zika e chikungunya
- Foto: Agência Alagoas

A automedicação é definida como ato de administrar remédio sem prescrição médica, sendo que a seleção e o uso de medicamentos são realizados por indivíduos inaptos para tal, cujo objetivo é encontrar o alívio imediato para o corpo e a alma. Entretanto, quando se está com zika ou febre chikungunya, os cuidados devem ser redobrados, uma vez que a prática pode ter como consequência o agravamento dessas doenças e levar o paciente a óbito. Deste modo, todo cuidado é pouco na hora de receitar medicamento para si próprio e para quem está ao seu lado.

Um estudo conduzido pelo Instituto de Ciência Tecnologia e Qualidade (ICTQ), em 2014, descobriu que 76,4% dos brasileiros admitiram tomar remédios por conta própria. Entre os que adotaram essa prática, 32% tinham o hábito de aumentar as doses de medicamentos prescritos por médicos com o objetivo de “potencializar os efeitos terapêuticos”, o que também é considerado uma forma de automedicação.

Ainda no grupo dos que tomavam remédio por conta própria, 72% afirmaram que confiavam na indicação de medicamentos feita pela família, 42,4% na indicação de amigos, 17,5% pela indicação de colegas de trabalho ou estudo, e 13,7% na indicação de vizinhos. O estudo, afirmou ainda, que 61,4% das pessoas que se automedicavam estavam conscientes sobre os riscos.

Segundo o infectologista da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), José Maria Constant, os medicamentos que não devem ser tomados quando se está com suspeita de dengue, também é válido para os casos de zika e febre chikungunya. “Por conta dos sintomas semelhantes, o paciente com suspeita de dengue pode estar com zika ou chikungunya e, por incrível que pareça, até gripe”, alerta.

A zika se manifesta geralmente com dores leves, febre baixa, manchas avermelhadas na pele e nos olhos; algumas infecções podem nem ser acompanhadas por qualquer sintoma. A doença, transmitida pelo mesmo mosquito da dengue, foi apontada pelo aumento de casos de microcefalia no país, o que preocupa as autoridades de saúde.

O vírus também está por trás de um aumento da incidência da febre chikungunya, uma doença que provoca febre alta, acompanhada de dor de cabeça e muscular, erupções na pele, conjuntivite e dor nas articulações, que chega a impedir os movimentos e pode perdurar por meses depois que a febre vai embora.

Algumas medicações estão formalmente contraindicadas. É o caso do ácido acetilsalicílico (Aspirina) – mais conhecida pela sigla AAS. Por isso, muito cuidado com todos os medicamentos, mas essencialmente com os antigripais. Vários deles contém ácido acetilsalicílico em suas fórmulas. Todos os medicamentos que o contém não devem, portanto, ser utilizados. Se o indivíduo usar o AAS e não for zika, e sim dengue, o risco de complicações é muito alto, já que o remédio pode causar hemorragias. Recomenda-se baixar a febre com o paracetamol ou dipirona.

Outro grupo de medicamentos contraindicados são os anti-inflamatórios hormonais e não hormonais, tais como o ibuprofeno, nimesulida ou diclofenaco. Como podem causar efeitos colaterais graves como toxicidade para as células do fígado e dos rins, gastrite e úlcera, entre outros, só devem ser utilizados sob prescrição e acompanhamento médico.

É preciso considerar que tanto na zika quanto na chikungunya pode haver o comprometimento de plaquetas, assim como existe, quase sempre, na dengue. “Quando há uma diminuição extrema de plaquetas no sangue, a tendência a apresentar fenômenos hemorrágicos é alta”, garante. “O AAS é muito bom no dia a dia, em pequenas doses, pois evita que o paciente tenha agregação plaquetária e trombose. Mas também pode ser muito prejudicial, quando usado num paciente com dengue, devido às hemorragias, embora possa ocorrer em pacientes com zika e chikungunya”, frisa.

Além das pequenas erupções na pele com pontos brancos ou vermelhos, a zika e a chikungunya também provoca coceira na pele na maioria dos casos. Logo, o uso de sabonetes e maquiagem deve ser evitado, porque a coceira da doença aliada ao do cosmético podem agravar os sintomas ainda mais.

As ervas dos mais variados tipos utilizadas sob a forma de chá, como o capim-limão, erva-cidreira, hortelã, o sabugueiro e a camomila, por exemplo, não vão trazer nenhum mal à saúde dos pacientes com sintomas da zika ou chikungunya. Contudo, apenas vão hidratar.

“É preciso mais conhecimento sobre essas doenças, uma vez que elas são novas no Brasil e suas complicações ainda não foram totalmente descritas. A prescrição só deve ser feita por médicos e odontólogos, já que são as únicas categorias que estão aptas a receitar os medicamentos”, declara.

Risco para gestantes e bebês
Conforme o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), da Fiocruz, a Fundação Oswaldo Cruz, a automedicação é a principal causa de intoxicação no Brasil, ficando à frente de produtos de limpeza e alimentos. E para as grávidas esse risco pode ser muito maior.

De acordo com o infectologista, alguns medicamentos são capazes de não só ultrapassar a barreira placentária e causar modificações morfológicas e neurológicas no feto, mas podem agir na ocasião da concepção e implantação do óvulo. Podem causar aborto espontâneo, anormalidades congênitas, retardo do crescimento intrauterino e retardo mental, além da exposição a fármacos na primeira fase do desenvolvimento embrionário, podendo matar o feto e a mulher nunca saber que ficou grávida.

Reações adversas
Segundo Constant, as reações aos medicamentos podem ser divididas em duas grandes categorias: tóxicas e alérgicas. Os efeitos tóxicos desenvolvem-se após a ingestão prolongada de um medicamento ou quando ele se acumula no sangue devido ao metabolismo.

“Se o indivíduo usar determinado tipo de medicamento na dose certa, durante pouco tempo, ela não vai lesar órgão nenhum. Caso ele utilize em dose excessiva, por um longo período, esse órgão será prejudicado”, assegurou.

As reações alérgicas constituem também outro tipo de resposta imprevisível, já que um paciente pode se tornar imunologicamente sensibilizado à dose inicial de um medicamento. Com a administração repetida, ele desenvolve uma resposta alérgica ao medicamento e a seus conservantes químicos.