Brasil

Para 63% dos brasileiros, Olimpíada vai trazer mais prejuízos do que benefícios

Aversão ao evento é maior entre os moradores das regiões Sul e Sudeste, segundo pesquisa

Por UOL 19/07/2016 06h06
Para 63% dos brasileiros, Olimpíada vai trazer mais prejuízos do que benefícios
- Foto: Imagem ilustrativa

A pouco mais de duas semanas da abertura da Olimpíada, em 5 de agosto, 50% dos brasileiros são contrários à realização do Jogos do Rio, revela o Datafolha.

De acordo com pesquisa do instituto feita entre os dias 14 e 15 de julho, o percentual de reprovação dobrou quando se compara ao levantamento anterior, feito em junho de 2013. Àquela altura, 25% dos brasileiros se opunham aos Jogos no Rio.

Há três anos, 64% eram favoráveis aos Jogos. Agora, o número retrocedeu para 40%. Entre os demais, 9% dos consultados se disseram indiferentes à competição e 2% não responderam.

A aversão ao megaevento do esporte é maior entre os moradores das regiões Sul e Sudeste, entre pessoas com mais instrução e com renda familiar mensal de cinco a dez salários mínimos.

Moradores do Norte e Nordeste e os jovens demonstram apoio maior à realização da Olimpíada.

O Datafolha apontou ainda que 63% acreditam que o evento trará mais prejuízos do que benefícios para os brasileiros em geral. Eram 38% na pesquisa de 2013.

A avaliação é menos negativa entre os moradores da cidade do Rio. De acordo com 47% dos cariocas, os Jogos trarão mais prejuízo do que benefícios. Fazem a avaliação contrária 45%.

Nesta pesquisa mais recente, o Datafolha fez 2.792 entrevistas, com pessoas acima de 16 anos, em 171 municípios de todo o país. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos.

ONDA NEGATIVA

O Rio foi eleito sede olímpica em outubro de 2009, em meio a um ciclo econômico virtuoso no Brasil no segundo mandato sob Luiz Inácio Lula da Silva.

O cenário mudou com a deterioração das contas públicas ao longo do governo de Dilma Rousseff.

Nas últimas semanas, os Jogos apareceram mais diretamente associados a situações negativas.

Em junho, o governador em exercício do Rio, Francisco Dornelles (PP), decretou estado de calamidade pública devido à crise financeira do Estado e aos custos comprometidos com a organização da Olimpíada.

No início de julho, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), afirmou que os Jogos "são uma oportunidade perdida".

Ao jornal britânico "The Guardian", disse que "com essa crise econômica e política, com todos esses escândalos, este não é o melhor momento para estar nos olhos do mundo.

Dias antes, Paes havia afirmado que a administração estadual faz um trabalho "horrível" na segurança.

Segundo os dados oficiais, o custo total do evento já superou R$ 39 bilhões, divididos entre investimentos públicos e privados.

Em que pese o alto valor gasto, a maior parte da população está pessimista com a imagem do país para o mundo durante a competição.

A pesquisa abordou itens como segurança pública e transportes. Em todos, prevaleceu a avaliação de que a Olimpíada será mais motivo de vergonha do que orgulho.

Para 57% dos brasileiros, a segurança representará mais vergonha do que admiração. Apenas 32% dos pesquisados citaram o inverso.

Na última sexta (15), em meio à realização da pesquisa (feita nos dias 14 e 15), o governo federal anunciou que irá revisar o plano de segurança dos Jogos em virtude do atentado terrorista em Nice, na França, que matou 84 pessoas.

DESINTERESSE

Nem o fato de a delegação brasileira competir em uma Olimpíada pela primeira vez em casa tem atraído grande atenção. A equipe, com 462 atletas, tentará ficar entre as dez primeiras colocadas no quadro geral, considerando o total de medalhas.

No Datafolha de 2013, 35% se disseram muito interessados no evento. Agora o índice caiu para 16%. A taxa dos que afirmaram não ter nenhum interesse saltou de 28% para 51%.

O percentual dos que se consideraram um pouco interessados pelos Jogos recuou de 37% para 33%.

Rio-16 terá empresa que nunca atuou em grandes eventos para revista do público

Em meio a promessas de reforço da segurança dos Jogos como reflexo do aumento da preocupação após o atentado em Nice, uma área crucial —revista de público e de bolsas na entrada das arenas— ficará a cargo de empresa sem experiência no ramo.

A Sesge (Secretaria Extraordinária de Grandes Eventos) contratou, no último dia 1º, por R$ 17,3 milhões, a Artel Recursos Humanos, que ficará responsável pela mão de obra que controlará o acesso de pessoas, bagagens e cargas nas instalações.

A 17 dias do início dos Jogos, a empresa catarinense ainda seleciona pessoas para trabalhar no evento. De acordo com o contrato, terá de disponibilizar cerca de 5.000 operadores de raio-X e de detectores de metais.

Empresários e especialistas ouvidos pela Folha afirmam que essa é uma das funções mais estratégicas para a segurança dos Jogos.

Serão os homens da empresa que terão missão de identificar se alguém tentará entrar armado numa arena ou se haverá produto não permitido em bolsas ou cargas.

A preocupação aumenta por não ser uma empresa do ramo ou conhecida por operar esse tipo de equipamento. O Ministério da Justiça não informou quem fiscalizará o serviço e os contratados. Fosse uma empresa de segurança, essa função estaria a cargo da Polícia Federal.

O pouco tempo disponível para contratação e treinamento da equipe é outro fator de risco. Em Pequim-08, a definição do responsável por um serviço semelhante aconteceu dez meses antes do evento. Em Londres-12, com antecedência de um ano.

No caso da Rio-2016, o pregão feito pelo governo federal aconteceu em junho.

A empresa que apresentou a melhor proposta, a Totaltec, que cuidou do serviço de raio-X na arena Amazonas na Copa-2014, foi preterida por não possuir todos os documentos. Assim, a Artel, segundo lugar, foi escolhida.

Criada em 2013, a empresa funciona em casa em Itajaí (SC). Está inscrita na Receita como sendo de pequeno porte —este será seu primeiro trabalho em um grande evento.

Em seu site não há relação de vagas para a Olimpíada. Destaca-se apenas seleção para a área de limpeza e de porteiros ou vendedores.

Ao telefonar para sede da empresa, atendente informou que basta enviar currículo para concorrer à vaga nos Jogos.

"É mais uma demonstração da falta efetiva de planejamento na segurança da Olimpíada", afirmou o professor Newton Oliveira, do Mackenzie, e um dos responsáveis pelo planejamento da segurança do Pan-07.

OUTRO LADO

A Sesge (Secretaria Extraordinária de Grandes Eventos) não comentou a contratação da empresa catarinense Artel.

O Ministério da Justiça, ao qual a Sesge é ligado, disse que a contratação da empresa para vistoriar pessoas e bolsas na entrada das arenas foi adotada para "aliviar a carga horária dos homens da Força Nacional". A ideia se impôs após dificuldade em reunir 9.600 agentes que eram esperados. Serão 6.000.

A reportagem não conseguiu contato com o responsável da Artel que assinou o contrato com o governo.