Mudança de última hora na segurança faz país gastar mais de R$20 mi nos Jogos
Motivo do custo extra foi o cancelamento de última hora de um contrato com a empresa que iria operar máquinas
Uma mudança na operação das máquinas de raio-X fez o governo brasileiro aumentar em R$ 20 milhões o seu gasto com o plano de segurança dos Jogos Olímpicos. O motivo do custo extra foi o cancelamento de última hora de um contrato com a empresa que iria operar as máquinas, substituindo o pessoal contratado por policiais aposentados reconvocados ao serviço.
Dois dias de operação foram suficientes para o Comitê Organizador Rio-2016 verificar que a empresa contratada pelo governo federal para realizar as revistas de bolsas e mochilas na entrada das instalações olímpicas, a Artel Recursos Humanos, não estava dando conta do recado.
Esse quadro fez com que o próprio Comitê anunciasse, no último dia 25, que não tinha condição de continuar trabalhando com a empresa contratada pelo governo. A Artel, de Santa Catarina, assinou em junho um contrato de R$ 21 milhões com a Sesge (Secretaria Extraordinária de Segurança de Grandes Eventos) para operar os aparelhos de raio-X nas entradas de instalações da Olimpíada.
A empresa, porém, nunca havia trabalhado na organização de grandes eventos nem tem expertise em segurança. Segundo seu cadastro na Receita Federal, a Artel é uma companhia de pequeno porte. Ela tem capital social de R$ 400 mil, valor 50 vezes menor do que o valor contratado com o governo.
Oficialmente, a companhia iniciou seu trabalho na Rio-2016 no dia 23, um dia após a última varredura de segurança no Parque Olímpico. No mesmo dia, o UOL Esporte verificou que os aparelhos de raio-X não funcionaram no Parque Olímpico. Já no dia seguinte, a fila para revista de jornalistas na entrada dos centros de mídia chegou a 40 minutos.
Ao Ministério da Justiça, responsável pela contratação original, restou cancelar o acordo com a Artel. O problema é que o governo já havia pago R$ 17,5 milhões deste valor à empresa, que, por sua vez, não irá devolver o montante a não ser que a União obtenha uma ordem judicial para tanto - caso haja a ação, o resultado poderá demorar anos.
Como há uma Olimpíada pela frente, o governo contratou emergencialmente, ao custo de R$ 20 milhões, uma equipe de ex-policiais para fazer o trabalho. Na última terça-feira, o ministro da Justiça, Alexandre de Morares, falou sobre o assunto durante a inauguração do CCPI (Centro de Cooperação Policial Internacional das Olimpíadas), no centro do Rio.
"A empresa inicialmente contratada (Artel) incorreu em inadimplemento, ou seja, não entregou o trabalho para que foi contratada. Iremos cobrar os valores devidos de volta. Por ora, contratamos policiais aposentados para operar o raio-x, que darão conta do recado trazendo mais segurança ainda, já que são muito bem treinados para o serviço", afirmou.
Atraso e falta de revista
O CCPI foi inaugurado na última terça-feira (2). Com sede em um prédio da Polícia Federal no centro do Rio, o núcleo conta com a participação de forças policiais de 55 países. O CCPI ficará em operação até o dia 19 de setembro, quando se encerra a Paralimpíadas do Rio.
A cerimônia de inauguração, originalmente marcada para as 13h (horário de Brasília), teve início às 14h45, em virtude do atraso de Alexandre de Moraes, que cumpriu agenda prévia na zona sul da cidade. Alguns policiais aguardavam desde às 11h.
A cerimônia, realizada em um auditório no prédio da PF, contou com a presença de autoridades internacionais, federais e estaduais, funcionários públicos e imprensa. Ninguém foi revistado na entrada nem passou por qualquer controle de cadastro ou equipamentos detectores de metais. Perguntado pelo UOL Esporte se o fato de jornalistas ou quaisquer outras pessoas terem tido acesso ao local sem qualquer tipo de revista ou reconhecimento não traria nenhum tipo de risco, o ministro disse: "Não. A prova disso é que estamos todos seguros."
Com desistência de empresa nos Jogos, haverá gasto extra com 3.400 policiais
A três dias da abertura oficial da Olimpíada, o governo federal ainda tenta resolver a confusão criada com a desistência da empresa Artel Recursos Humanos, de Santa Catarina, de fazer a revista nos acessos às áreas de competição e convivência dos Jogos.
O Ministério da Justiça afirma que, na sexta (5), 3.400 policiais e bombeiros aposentados já estarão no Rio para atuar na revista dos acessos às áreas olímpicas, além do Cristo Redentor e do Pão de Açúcar. A inclusão dos pontos turísticos foi pedido do secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame. Para isso, utilizarão 50 detetores que estão sem uso no Ministério da Justiça, em Brasília.
Toda essa mobilização custará em diárias ao governo ao menos R$ 60 milhões, segundo cálculo da Folha, ainda sem contar a Paraolimpíada. O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, no entanto, diz que o gasto será em torno de R$ 20 milhões.
Vencedora da licitação fechada há um mês para os Jogos, a Artel Recursos Humanos receberia R$ 17,3 milhões para fornecer até 5.000 homens que cuidariam dos raios-X, dos detetores de metal e da revista de bolsas nas áreas de acesso às competições. A Artel pedira um acréscimo de R$ 2 milhões para contratar as pessoas.
Como não foi capaz de cumprir o contrato —segundo o governo, a empresa apresentou apenas 527 dos homens previstos-, ela teve de ser substituída pelos PMs e pelos bombeiros inativos, que estão sendo selecionados pela Força Nacional.
Cada um dos inativos receberá diária de R$ 560,5 durante os dias de 24 de julho a 22 de agosto; os funcionários da Artel receberiam R$ 26 por dia. Os policiais e os bombeiros ainda estão sendo orientados a trazer colchões, já que ficarão no conjunto do Minha Casa, Minha Vida onde está hospedada a Força Nacional.
"Todo o cronograma de segurança foi cumprido. Já temos todos os 3.400 e até amanhã todos estarão treinados e operando. Teremos até uma segurança maior, já que são policiais", afirmou o ministro Alexandre de Moraes.
Nesta terça (2), a falta de pessoal causava filas nos acessos ao Parque Olímpico da Barra da Tijuca. Apenas 270 inativos já trabalham no Rio. Outros mil concluíram curso na tarde desta terça.
Nas Paraolimpíadas, o valor da diária volta ao normal, que é de R$ 224,20, segundo a Secretaria Extraordinária de Grandes Eventos. Há a possibilidade, também de acordo com a pasta, de desmobilização de parte do efeito, com o argumento de que a demanda pode ser diferente. A Secretaria também diz que o valor exato só vai ser fechado após os Jogos.
Homens em falta
A comunicação da Artel ao governo federal, na quinta-feira (28), de que não conseguiria contratar pessoal para o uso de detetores e controle dos pórticos levou a Sesge (Secretaria Extraordinária de Grandes Eventos) a propor ao Comitê Rio-2016 a divisão da coordenação dos acessos. Parte ficaria com o governo federal e outra com o comitê. O plano inicial de segurança era que essa operação seria toda de responsabilidade da Sesge.
A Folha apurou que o comitê recusou a proposta por falta de dinheiro e por não conseguir contratar mais de mil pessoas em uma semana. Então, se fez um acordo em que o centro de mídia e a Vila dos Atletas ficassem com a empresa Sunset, contratada pelo comitê organizador até o fim da Olimpíada, em 21 de agosto. O governo federal diz que cumprirá a revista nas outras áreas olímpicas.
A Artel propôs ficar com parte da operação para colocar os 527 funcionários contratados para trabalhar, mas Moraes rechaçou a ideia.
O representante da Artel, Deivison Scheffer Jacinto, 25, que assinou contrato com o governo, não foi encontrado para comentar o assunto.
Os funcionários que foram contratados ainda não receberam pelos dias trabalhados e não foram avisados definitivamente sobre o fim do contrato.