São Paulo: após limite de velocidade reduzir, acidentes fatais caem 52% nas marginais
Dados compilados são da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e foram obtidos pela Folha
Um ano após a implantação da redução de velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros, a soma de acidentes fatais nas vias caiu pela metade, segundo dados compilados pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego, ligada à prefeitura) e obtidos pela Folha.
De julho de 2014 a junho de 2015, foram 64 acidentes com mortes, contra 31 ocorrências do tipo nos 12 meses seguintes, até junho de 2016. Com isso, a queda foi de 52%.
O resultado é fortemente influenciado pela redução dos atropelamentos fatais, que quase zeraram nas marginais –de 24 casos acumulados em 12 meses até junho de 2015, houve apenas um em período equivalente até 2016.
A diminuição dos limites nas marginais foi um dos temas dominantes na campanha municipal em São Paulo –ganhando força após a eleição de João Doria (PSDB). O tucano prometeu rever a a medida e afirmou que as velocidades máximas na Tietê e na Pinheiros vão subir logo no começo de sua gestão –de 70 km/h para 90 km/h na expressa, de 60 km/h para 70 km/h na central, e de 50 km/h para 60 km/k na local.
Pressionado, Doria indicou nesta semana a possibilidade de um recuo, ao declarar que a máxima de 50 km/h pode ser mantida em trechos.
Nesta terça (11), ele reafirmou a ideia de aumento dos limites nas marginais, dizendo que a "decisão foi muito madura, estudada e avaliada tecnicamente". Afirmou que os 50 km/h cogitados são "apenas em alguns pontos específicos onde existirem pesquisas que indiquem claramente riscos de atropelamento nas vias de acesso".
A diminuição da velocidade nas marginais foi adotada pela gestão Fernando Haddad (PT) em 20 julho de 2015. A medida foi questionada judicialmente pela OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil), mas sem sucesso.
Apesar da aprovação majoritária de especialistas em transporte, a medida foi criticada por parte deles, por se tratar de uma via que interliga rodovias. Eles cobravam ainda outras ações -pendentes até hoje- para melhorar a segurança das pistas.
A tendência de redução de vítimas em acidentes não ocorre apenas nas marginais –também houve queda recente no restante da capital, no Estado e em rodovias, mas em intensidade muito menor. Parte dos técnicos vê influência da crise econômica, que diminui a frota nas ruas.
A gestão Haddad diz que a capital pode atingir em dezembro a marca de 6,92 mortes por 100 mil habitantes, próxima da meta de 6 apresentada à ONU para 2020. Como a Folha mostrou em julho, as multas por excesso de velocidade (que podem variar de R$ 85 a R$ 574) mais que triplicaram nas duas marginais -na comparação do primeiro trimestre de 2015 com igual período deste ano.
De 171 mil multas nos primeiros três meses do ano passado, a quantidade de infrações de velocidade registradas nas marginais ultrapassou 544 mil em 2016 –equivalente a quatro por minuto.
ATROPELAMENTOS
Os números tabulados pela CET apontam que, excluídos os atropelamentos, houve 30 acidentes com mortes nas duas marginais nos 12 meses anteriores a junho de 2016. A queda foi de 25% em relação a período equivalente anterior, com 40 casos. No caso dos atropelamentos fatais, na marginal Tietê, eles zeraram nesse período.
Como comparação, nos 12 meses anteriores, houve 17 ocorrências desse tipo. Na marginal Pinheiros, os dados da CET apontam um atropelamento com morte entre julho de 2015 e junho de 2016, contra 7 casos em período equivalente anterior.
ESTADO E CIDADE
A queda no número de mortes no trânsito das marginais Tietê e Pinheiros coincide com tendência de queda nos óbitos em acidentes de trânsito em todo o Estado de SP.
Dados do Infosiga, sistema do governo estadual baseado em dados fornecidos mensalmente pela Polícia Militar, mostram que o ritmo de queda nas mortes do trânsito é mais acentuado na capital.
A capital registrou, de janeiro a agosto deste ano, queda de 17% –de 775 para 645 ocorrências, em comparação com o mesmo período do ano passado. Nos 645 municípios paulistas a diminuição é de 5,5%, de 4.093 para 3.867 mortes, conforme informou o jornal "O Estado de S. Paulo" semana passada.
Segundo engenheiros de tráfego, a queda mais acentuada tem relação com a política de redução de velocidade implementada na gestão do prefeito Fernando Haddad (PT). Em 2015, a cidade de São Paulo fechou o ano com índice de 9,7 mortes por cada 100 mil habitantes, segundo o Infosiga.
BURACOS E AMBULANTES AINDA SÃO RISCO PARA O TRÂNSITO
Um homem com um balde de amendoim anda no meio dos carros parados em fila a perder de vista no trânsito da marginal Tietê. Eram 17h desta terça (11), véspera de feriado em São Paulo, e o ambulante tentava convencer algum motorista a comprar.
Logo à frente, outro ambulante vende água em um carrinho. Quando alguém resolve comprar, o trânsito para por mais alguns segundos. Os carros, quando andam, precisam desviar do vendedor. Algum motorista mais distraído, ou imprudente, poderia causar um acidente.
Uma série de vendedores toma conta das pistas das marginais Tietê e Pinheiros, todos os dias, nos horários de pico. Eles vão para as duas vias, que cortam a cidade de São Paulo, por causa da oferta gigante de possíveis clientes quando o trânsito para.
Os ambulantes atuam livremente, sem fiscalização alguma, inclusive próximo a uma base da Polícia Militar, ao lado da ponte do Piqueri, na zona norte da capital.
Na marginal Pinheiros, o mesmo ocorre logo após o Cebolão, que faz a ligação com as pistas da Tietê. A pista é tomada por dezenas de camelôs que vendem de tudo: desde salgados e pipoca até carregadores de celular.
Também não é incomum encontrar algum ciclistas percorrendo trechos em meio aos carros, principalmente na marginal Tietê –que não tem ciclovia. A maior parte da marginal Pinheiros tem faixa exclusiva para bikes.
Em alguns pontos, as pistas das marginais apresentam asfalto bastante irregular. Como em outras vias da capital, buracos ou asfalto recapeado recentemente fazem com que os carros, quando passam em cima, deem solavancos.
Por outro lado, a sinalização que indica as velocidades máximas permitidas são um ponto forte. Quando se troca de pista –da central para a expressa, por exemplo– é normal encontrar uma placa avisando da troca de velocidade de 60 para 70 km/h.
VELOCIDADE
Em um posto na marginal Pinheiros, a dona de casa Ana Cristina Vieira, 49, diz que as marginais têm boas condições em comparação com outras ruas e avenidas na cidade. Para ela, o principal problema das vias é o excesso de carros que andam por elas. "O trânsito é péssimo. Tem carro demais", reclama.
Ana também questiona os radares, que fiscalizam as infrações cometidas por motoristas. "São muitos", diz. Mas depois pensa e completa: "Pensando bem, se tirarem os radares, vai ter muito mais acidente", pondera.
O agente penitenciário Cláudio Pereira de Souza, 48, discorda. Para ele, que também é motorista do Uber nas horas vagas, os principais problemas das marginais são o excesso de radares, a velocidade baixa e os buracos.
"Acho que tinha que aumentar a velocidade, porque é muito lento andar a 50 km/h", afirma. "E também tem muitos buracos. Se você não tomar cuidado, pode danificar o carro", diz ele.