Temer diz que gravar conversas com presidente é "indigno" e "gravíssimo"
O presidente Michel Temer (PMDB) afirmou considerar indignas as supostas gravações feitas pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de conversas mantidas entre os dois sobre o ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República Geddel Vieira Lima (PMDB), que pediu demissão na última sexta-feira (25).
"Eu, com toda franqueza, acho gravar clandestinamente é sempre algo desarrazoável, quase indigno. Eu diria mesmo indigno", disse Temer neste domingo (27) durante entrevista coletiva realizada no Palácio do Planalto.
Calero teria feito gravações de conversas mantidas com Temer sobre o episódio em que ele acusa Geddel de tê-lo pressionado pela liberação da obra de um edifício no qual Geddel tinha um apartamento em Salvador.
"Se gravou, eu espero que essa gravação venha logo à luz. Por que os senhores sabem, sou cuidadoso com as palavras. Jamais diria algo inadequado", disse Temer.
Temer afirmou que imagina ter sido gravado por Calero na segunda vez que o recebeu em seu gabinete, no dia 17, véspera de o então ministro pedir demissão. O processo de investigação do ex-ministro Geddel Vieira Lima na Policia Federal está sob sigilo.
"Estou pensando até, com toda franqueza, estou pensando em pedir ao Gabinete de Segurança Institucional que grave, publicamente, todas as audiências do presidente da República [...] Vou examinar essa hipótese", disse o presidente.
A crise envolvendo Temer, Calero e Geddel começou com o pedido de demissão de Calero, no dia 18 de novembro.
Calero pediu demissão do cargo pouco mais de cinco meses depois de assumir a pasta. Em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo", ele afirmou ter sido pressionado por Geddel para que o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional) liberasse a construção de um edifício em Salvador no qual ele teria um apartamento.
As obras estariam embargadas pelo órgão, que fica subordinado ao Ministério da Cultura. Em entrevistas sobre o caso, Geddel negou ter feito pressão sobre Calero.
Em depoimento prestado à Polícia Federal, Calero repetiu a informação de que teria sido pressionado por Geddel e disse que também teria sido "enquadrado" pelo presidente Temer durante conversas que antecederam seu pedido de demissão. Após o depoimento, surgiram informações de que Calero teria gravado ao menos uma dessas conversas mantidas com o presidente Temer.
Na entrevista coletiva, Temer voltou a dizer que sua atuação junto a Calero foi uma tentativa de "arbitrar" conflitos entre órgãos diferentes. "Eu estava arbitrando conflitos e eu não faço isso de agora, na Presidência da República [...] a coisa que eu mais fiz foi arbitrar conflitos", afirmou o presidente.
A tese de que a ação de Temer junto a Calero foi uma tentativa de "arbitrar" conflitos entre os ministros já havia sido divulgada pelo porta-voz da Presidência da República, Alexandre Parola, na semana passada.
Temer negou ter feito pressão sobre Calero para que o edifício em que Geddel afirma ter comprado um apartamento fosse liberado. Ele disse que foi procurado pelo então ministro da Cultura durante um jantar oferecido a senadores para tratar do assunto, quando os dois combinaram de conversar reservadamente. No dia da audiência, o assunto foi debatido.
Segundo a versão de Temer, o presidente teria aconselhado Calero a submeter a questão à AGU (Advocacia-Geral da União). "Ele disse que não queria entrar nessa história. Eu disse: 'Olha, ministro, se você não quer entrar nessa história, há uma solução legal. A lei diz que quando há conflito de órgãos, pode-se ouvir a AGU, que fará uma avaliação desse conflito", afirmou Temer.
Questão pessoal
Questionado sobre o que o levou a arbitrar um conflito que aparentemente não era administrativo, mas do interesse pessoal de Geddel, Temer disse que sua atuação teve a intenção de resolver um conflito que, na avaliação dele, era administrativo.
"Se você estiver gravando, você verá eu estava arbitrando um conflito de natureza administrativa. Entre órgãos da administração pública. O Iphan da Bahia tinha uma posição, o Iphan nacional tinha outra posição. O conflito era exatamente esse. Era um conflito fundamental. Quando ele me disse que não queria despachar, eu disse: 'Faça o seguinte, mande para a AGU e ela arbitra esta questão'", disse Temer.
O presidente negou ter atuado para atender interesses privados no episódio do edifício em Salvador.
"Eu disse que sempre que houver conflitos entre quem quer que seja, eu vou arbitrá-los. Foi o que eu fiz ao longo da vida. Eu não estava patrocinando nenhum interesse privado, data vênia, né? Não há razão para isso", afirmou Temer.
O presidente disse admitir que, em meio à crise em torno de Geddel, a saída do ex-ministro do governo demorou. "Talvez se tivesse saído antes, teria sido melhor. Convenhamos. Ele pediu demissão fruto precisamente desses diálogos que eu tenho e eu sei como conduzir esses diálogos de modo que muitas vezes a gerar pedidos de demissão [...] A demora não foi útil. Não tenho a menor dúvida disso", disse Temer.