Crise amplia diferença de salário entre o setor público e privado
Dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do IBGE
A diferença de salário entre trabalhadores do setor público e do privado cresceu no ano passado. Foi o maior aumento da série história do IBGE, iniciada em 2012.
Enquanto em 2015 o funcionalismo ganhava em média R$ 3.152 –59,3% mais do que um empregado com carteira assinada–, em 2016 essa distância passou para 63,8%.
Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do IBGE.
A principal razão para esse aumento foram os movimentos inversos nos rendimentos de cada categoria. Enquanto o salário médio de um servidor público aumentou 1,5% em 2016 em comparação com 2015, o de um trabalhador celetista do setor privado encolheu 1,3%.
Isso acontece porque, em um momento de crise, um empregador privado pode demitir um funcionário e contratar um novo pagando menos. No setor público, as regras de desligamento são mais rígidas, o que dificulta a repetição da prática.
Análise de dados do Ministério do Trabalho feita pela Folha na semana passada revelou que novos contratados com carteira assinada estão recebendo, em média, 21% menos do que os demitidos na mesma ocupação.
"A diferença aumentou porque no setor público não há demissões. Já no privado, houve muita demissão, e, quando o setor privado corta, ele começa pelos maiores salários, jogando a média geral para baixo", diz Hélio Zylberztajn, coordenador da pesquisa Salariômetro, da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisa Econômica).
Os funcionários públicos foram a única categoria cujos salários não caíram em nenhum momento desde 2012, quando começou a pesquisa.
A média superior a do empregado do setor privado, porém, esconde discrepâncias grandes dentro da categoria.
Enquanto o salário-base de um professor com formação de nível médio e carga horária de 40 horas era de R$ 2.135,64 no ano passado, um auditor fiscal da Receita Federal em início de carreira ganhava R$ 15.743,64.
Considerando apenas servidores do governo federal, a maior parcela (24,8%) ganha entre R$ 4.501 e R$ 6.500, e 17,5% têm salário superior a R$ 13 mil, segundo o Ministério do Planejamento.
Funcionários públicos têm rendimentos superiores a empregados do setor privado em razão do perfil relativamente mais bem qualificado da categoria, afirma Zylberztajn.
Estudo feito pelo Departamento de Análise de Políticas Públicas da FGV com dados de 2014 mostra que 52% dos servidores têm ensino superior completo.
Esse nível de formação é explicado principalmente pelo filtragem exercida pelos concursos públicos, que ou demandam especificamente a formação ou, pela dificuldade, acabam aprovando apenas quem tem uma bagagem de estudos, afirma Bruno Ottoni, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre).
OUTRAS CATEGORIAS
A maior perda salarial entre 2015 e 2016 aconteceu entre os empregadores, categoria que engloba empresários que trabalham no próprio negócio. De um ano para outro, o rendimento médio encolheu 6,1%, pressionado pelo faturamento em queda.
Ainda assim, a categoria permanece com o maior rendimento médio, de R$ 5.079.
Movimento semelhante aconteceu com os trabalhadores por conta própria, cujo rendimento médio recuou 3,5% no período.