Alagoas

Em cinco anos cerca de 4 mil motociclistas alagoanos perderam a vida, diz DataSus

Alagoas é o 19º estado onde mais morrem motociclistas

Por 7 Segundos - Maceió 30/05/2017 06h06
Em cinco anos cerca de 4 mil motociclistas alagoanos perderam a vida, diz DataSus
As causas dos acidentes, em sua maioria, de de responsabilidade do próprio condutor - Foto: Arquivo - Emergência190

Em todo o país, conforme dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) os acidentes envolvendo motocicletas, motonetas ou ciclomotores matam mais do que as colisões de carros.

O crescimento da frota de motos levou o Brasil ao topo do ranking de acidentes fatais com esse meio de transporte, ficando atrás apenas do Paraguai.

Enquanto que no Brasil a média é de 12 mil mortes a cada ano, em Alagoas os números comprovam que todos os meses mais motociclistas perdem a vida. O estado ocupa a 19º colocação em acidentes com mortos sob duas rodas.

Por aqui, ser jovem e motociclista são dois pré-requisitos para uma vida curta, muitas vezes interrompida por uma morte violenta no trânsito.

Especialistas afirmam que o risco de acidente para quem trafega de moto é 10 vezes maior do que para quem usa o carro. As razões dos acidentes estariam ligadas diretamente ao aumento desenfreado da frota, a falta de campanhas educativas o ano todo e a formação precária dos motociclistas.

Um aprendizado limitado e insuficiente deixa os motociclistas incapazes de pilotar com responsabilidade nas ruas do país.

Sem habilitação, acima da velocidade permitida e ignorando o sinal vermelho. É assim que parte dos motociclistas transitam pelas ruas das cerca de cinco mil cidades brasileiras. As consideradas transgressões às normas básicas do trânsito são o passaporte para acidentes violentos, sequelas permanentes e, em casos extremos, a morte, não apenas de quem está na moto como também de pedestres e de ocupantes de outros veículos.

Em 2015, somente nos seis primeiros meses, a Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT), registrou em Maceió 2.100 acidentes de trânsito, desse total, 400 envolveram motos.

No mesmo período o Hospital Geral do Estado (HGE), atendeu 5.700 pacientes. Desses 2.333 foram vítimas de acidentes com motocicletas, motonetas ou ciclomotores.

Segundo o Departamento Estadual de Trânsito de Alagoas (Detran-AL), 40% das pessoas mortas em acidentes de trânsito em 2016 eram passageiros ou condutores. Foram cerca de 270 mortes registradas em estradas e avenidas. Na sua maioria os acidentes foram e são provocados por imprudência, negligência ou imperícia do condutor.

O Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS), órgão do Ministério da Saúde (MS), informou que no período de cinco anos cerca de 4 mil motociclistas alagoanos perderam a vida.

Em dados precisos se observa o quadro da violência no trânsito em Alagoas: Em 2011 foram 859 mortos; em 2012 foram 846; em 2013 foram 783; no ano de 2014 foram 828 e em 2015 foram 755 mortes.

No ano passado os números são ainda mais estarrecedores. Foram 21.763 vítimas de acidentes de trânsito, sendo que 688 morreram. 60% dessas vítimas estavam de moto, de bicicleta ou eram pedestres.

Em Arapiraca, segunda mais importante cidade de Alagoas – também no ano passado – 270 motociclistas morreram e cerca de 10 mil foram atendidos em hospitais da região após serem vítimas de algum acidente envolvendo motocicletas, motonetas ou ciclomotores.

Entre as infrações mais comuns relacionadas a motocicletas estão: conduzir o veículo sem possuir a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) ou permissão para dirigir; conduzir veículo registrado que não esteja devidamente licenciado; ultrapassagem em local proibido; e conduzir o veículo sem capacete.

Em rodovias federais em Alagoas, conforme estatísticas da Polícia Rodoviária Federal (PRF), 43,3% dos envolvidos em acidentes com motocicletas não possuíam CNH. 58,3% saíram gravemente feridos e não usavam capacetes e 25% morreram; já àqueles que faziam uso do capacete, 49,3%, sofreram lesões leves.

O custo das tragédias é alto. O Brasil gasta, por ano, cerca de R$ 50 bilhões com os acidentados, segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Mas há ainda um custo impossível de ser calculado: a dor da família que perde um parente.

Na noite de 7 de janeiro de 2016 o bancário de Sergipe José Wanderley Santana Júnior, 27 anos, seguia de Maceió para Aracaju, na companhia de amigos, que também estavam de motos. Ao passar por um dos trechos da Avenida Ib Gatto Falcão ou AL-101 Sul, município da Barra de São Miguel, Wanderley perdeu o controle do veículo que estava em alta velocidade, caiu e bateu com a cabeça no asfalto, morrendo instantaneamente.

Na tarde do dia seguinte, na mesma rodovia, o estudante Felype Cavalcante Costa, 26 anos, guiava uma Kawasaki Ninja, quando após uma curva teria derrapado e perdido o controle de seu veículo. Felype, que era filho de um policial e considerado um jovem de conduta exemplar, caiu e bateu com a cabeça no asfalto, onde morreu.

Este mês de maio um acidente chamou a atenção entre os vários registrados em Maceió.

Na tarde do último dia 23 em um dos trechos da Ladeira do Catolé, entre Maceió e a cidade de Satuba, o motociclista Moises da Rocha Cabral, 39 anos, morreu após colidir de frente com um carro. O sobrinho dele, que estava de carona, ficou ferido. João Éverton de Santos Messias, 20 anos, teve uma das pernas amputadas.

Na parte alta de Maceió a SMTT mapeou os bairros onde mais são registrados acidentes com veículos sobre duas rodas. Tabuleiro do Martins e Farol lideram as ocorrências.

Da parte baixa, o bairro da Jatiúca concentra a maioria dos casos.

O órgão também tem os dados onde menos acontecem acidentes com motos. São eles Rio Novo, Pitanguinha, Mutange e Ipioca.

Recente levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), confirma que cerca de 40% dos R$ 50 bilhões gastos, todos os anos, com acidentados, ou seja, R$ 20 bilhões, é quanto o Brasil deixa de ganhar com a perda da produtividade das pessoas mortas em acidentes.

O Ipea também revelou que os motociclistas profissionais representam 14,6% dos mortos e 86% tinham o ensino fundamental ou o médio.

Além de ser uma opção de transporte, a moto se tornou uma fonte de renda. Tal realidade impulsionou a frota e também o número de acidentes. Dos 45 mil óbitos no trânsito em um ano, 12 mil trafegavam sobre duas rodas e 10 mil, em carros.

Fomentada pelos bons momentos da economia no país, entre os anos de 2002 e 2012, muitas famílias compraram motos no país. O preço e a condição de ter um veículo ágil, econômico e capaz de transportar duas pessoas encantou muita gente.

Ainda no ano seguinte, quando a crise deu os primeiros sinais, a procura pelos veículos sob duas rodas continuou sob o aspecto que mesmo tenho elevado o valor as prestações ainda cabem no orçamento apertado da maioria.

João Batista da Silva Neto, presidente do Sindicato dos Centros de Formação de Condutores de Alagoas rebate as criticas que a má formação dos motociclistas é responsabilidade das antigas autoescolas.  

Segundo ele os Detrans em todo o país deveriam seguir as regras estabelecidas pela Resolução nº 168 que detalha, segundo ele, de forma clara os parâmetros de treinamento exigidos pela legislação.

O presidente do Sindicato afirma que o item que trata do Curso de Prática de Direção Veicular obriga “para os veículos de duas rodas: a prática monitorada em via pública, urbana e rural. Cabe aos Detrans, que credenciam os Centros de Formação de Condutores, fiscalizarem o cumprimento da Resolução.

Na tentativa de reverter a violência no trânsito sob duas rodas o Ministério das Cidades e o Denatran listaram a obrigatoriedade do simulador no processo de formação de condutores de automóveis; a exigência de exames toxicológicos; e as alterações no código de trânsito promovidas pela Lei nº 13.281, em vigor desde novembro. Essa legislação aumentou o valor das multas, mudou as velocidades das rodovias, entre outras medidas.