Como centros de tratamento contra o tabagismo podem te ajudar a parar de fumar
O tabagismo é a principal causa de mortes evitáveis no mundo
No dia Mundial Sem Tabaco, a Organização Mundial de Saúde (OMS) faz um alerta: o número de pessoas que morrem em consequência do uso do cigarro deu um salto de 4 milhões no início deste século, para 7 milhões todos os anos atualmente. Metade dos fumantes morre de doenças associadas ao fumo.
Segundo dados do DataSUS, sistema vinculado ao Ministério da Saúde, Alagoas possui alto custos do Sistema Único de Saúde (SUS) para atender pacientes com Doenças Tabaco Relacionadas, tais como cânceres e doenças dos aparelhos circulatório e respiratório. Os gastos anuais no estado chegam a R$ 39 milhões.
São mais de 50 doenças relacionadas ao consumo do tabaco (Inca)
Apesar deste número, os dados do VIGITEL (Inquérito de Vigilância por telefone) apontam que Alagoas é um dos estados com menores prevalência de fumantes no país. Em 2015 a população de usuários do tabaco chegou a 7%, abaixo da média nacional de 10,9%.
Mas parar de fumar não é fácil como parece. O tratamento por vezes é árduo, com a necessidade de, em alguns casos, utilizar profissionais de diversas áreas e de medicamentos. Em outros, o fumante consegue parar sozinho.
É o caso de William Rocha, 29 anos, que largou o cigarro depois de 11 anos de consumo, há um ano e quatro meses. “Foi um processo difícil”, expressa o jornalista, que aponta a força de vontade como um dos fatores essenciais para se desvencilhar do vício. Ele conta que o que mais dificultou o processo de parar de fumar foi o fato de ter amigos fumantes, o que te deixava muito exposto ao cigarro.
“Quando ia para festas com eles era um tormento. A vontade de fumar, por vê-los fumar, e o aditivo da bebida que me fazia querer ainda mais”, conta William. O momento decisivo para sair do vício veio quando ele começou a sentir sintomas como cansaço, tosses com catarros e pigarros constantes.
“Sabe quando você tosse e sente que está com bastante dificuldade de por para fora. Ou, as vezes de respirar e dormir? Eu vivia assim constantemente”, diz. Preocupado, ele conta que foi a um pneumologista, mas foi atestado que ele não tinha nenhum problema. "No entanto, eu preferi prevenir. Fiz a despedida no dia primeiro de 2016 e no dia dois parei de vez”, comemora.
De cada 100 pacientes que desenvolvem câncer, 30 são fumantes (INCA)
A boa notícia para William é que depois de parar de fumar, ele afirma que todos estes sintomas foram embora e passou a ganhar mais qualidade de vida, porque também aderiu a prática esportiva. “Sem falar que parei de feder a fumaça. Os dentes estão clareando sozinhos. Só coloquei na cabeça que seria melhor pra mim", finaliza.
Centros de apoio ao fumante
O que muita gente não sabe é que tanto Maceió, quanto alguns municípios de Alagoas possuem centros ou núcleos de tratamento contra o tabagismo que atende fumantes gratuitamente por meio do SUS.
Em Maceió há quatro núcleos de atendimentos. O primeiro implantado foi o núcleo do 2º Centro de Saúde, Dr. Diógenes Jucá Benardes, localizado na Praça da Maravilha, no bairro do Poço. A coordenadora e assistente social do centro de cessação do tabaco, Gilda Lanuzia Teodoro, afirma que de 80 pacientes em tratamento, 30 pararam de fumar, e o restante continua tentando
Em 2015 foi criado o Caps AD Doutor Everaldo Moreira, no bairro do Farol, que atende fumantes e usuários de outras drogas. Em média, há 80 pessoas em tratamento.
E em 2016, com as equipes do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf), foi implantado o programa de tratamento nas Unidades de Saúde Dídimo Otto Kummer (Conjunto Carminha – Benedito Bentes) e Aliomar Lins (Benedito Bentes). O primeiro tem 15 pacientes e o segundo tem 20 pacientes em tratamento.
Além destes, há o programa Pré-fumo, no Hospital Universitário, onde, de 120 pacientes, 80 pararam de fumar e 40 estão entre os que tiveram recaídas e que abandonaram o tratamento.
O tabagismo ainda pode causar:
- impotência sexual no homem;
- complicações na gravidez;
- aneurismas arteriais;
- úlcera do aparelho digestivo;
- infecções respiratórias. (INCA)
Gilda Lanuzia considera o número de pacientes alto e diz que há chamamentos de novos grupos a cada três meses. O tratamento é feito de forma multidisciplinar com participação de enfermeiros, fisioterapeutas, médicos pneumologistas, psicólogos, nutricionistas, assistente social e profissionais de Educação Física.
“No primeiro mês eles passam por quatro reuniões. Uma a cada semana. O tratamento varia muito de paciente para paciente. Tem pacientes que na segunda reunião já param de fumar, e outros não. Alguns não param no primeiro mês, mas param no segundo. E assim a gente acompanha todos eles durante um ano. Em média, entre um a três meses eles param de fumar”, afirma a coordenadora. As reuniões seguem as cartilhas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e do Ministério da Saúde.
Segundo Gilda, o emocional de cada paciente é o que vai influenciar diretamente no processo. “O cigarro faz parte da vida de cada um. Aqueles que estão decididos, em um primeiro momento já param. A gente sempre diz que o importante é que 50% do tratamento já começa quando o paciente chega no centro com os documentos procurando ajuda”.
Deseja parar de fumar?
Para participar do programa é fácil. Basta levar o cartão do SUS e o registro de identidade a um dos Centros. Mas é preciso aguardar os chamamentos, que acontecem já em julho.
Centros em outros municípios
Além de Maceió, os municípios de Palmeira dos Índios, Arapiraca, Messias, Teotônio Vilela, Ibateguara, Mar Vermelho, Pilar também possuem centros. Em todos eles, a metodologia de abordagem é o cognitivo comportamental e apoio medicamentoso, realizada em grupo de 10 a 15 pessoas, durante um ano.
De acordo com a coordenadora do Programa de Controle do Tabagismo em Alagoas, Vetrúcia Teixeira Costa, a cessação do tabaco ocorre em cerca de 50% dos participantes.
“As recaídas são possíveis e consideradas normais. Sendo necessário trabalhar o incentivo a novas tentativas. Às vezes o fumante sente-se incapaz de tentar outras vezes, sendo, portanto necessário o incentivo de familiares, amigos e colegas de trabalho”, explica Vetrúcia.