Pobreza no Nordeste é grande desafio para candidatos à Presidência

Desempregado, Carlos Alberto da Silva, 61 anos, sustenta a esposa e dois netos com cerca de R$ 70 que consegue ganhar por mês fazendo bicos. Morador das palatas da comunidade Roque Santeiro, no bairro recifense dos Coelhos, ele viu a situação da família se agravar quando perdeu o emprego há dois anos. Trabalhava na prefeitura com serviços de esgotamento. Uma ironia para quem, toda vez que a maré sobe, precisa atravessar a água com lixo e dejetos, se quiser entrar ou sair de casa. “Às vezes, à noite, não tem nem um pão para morder. A vida era melhor quando eu tinha trabalho, comia melhor... carne, frango. Agora, só uma vez por ano e olhe lá. Quase toda semana eu vou procurar emprego, mas está mais difícil”, comenta.
O desemprego empurrou Carlos para a situação de extrema pobreza que cresceu no País durante o período de crise, passando de 3,2% do total das famílias em 2014 para 4,8% no ano passado, segundo estudo da Tendências Consultoria Integrada. O material aponta, ainda, que a piora foi maisprofunda no Nordeste, região em que todos os Estados estão acima da média brasileira quando o assunto é extrema pobreza. É um País mais pobre que o novo presidente vai encontrar, ao tomar posse em janeiro, com o desao de ajustar a situação scal sem aprofundar as desigualdades sociais.
O estudo mostra que a pobreza extrema (famílias com renda per capita mensal de até R$ 85) cresceu em 25 Estados brasileiros. No Nordeste, região mais dependente de programas sociais, oito dos nove Estados apresentaram piora da miséria no período estudado pela Tendências. O Maranhão sofreu mais. A proporção de famílias em extrema pobreza saiu de 8,7% para 12,2% no período. Na Bahia, Piauí e Sergipe, a quantidade praticamente dobrou. Em Pernambuco, o número saltou de 5,4% para 7,7%. Apenas a Paraíba reduziu o número de famílias nesta situação, passando de 6,4% para 5,7%. A piora no quadro do Nordeste se explica porque a crise econômica freou o crescimento acima da média nacional e grandes investimentos na região.
Não foi só a extrema pobreza que cresceu. Estudo do diretor da FGV Social, Marcelo Neri, aponta que 6,3 milhões engrossaram a estatística da pobreza (pessoas com renda per capita mensal de R$ 233). Houve um aumento de 33% na pobreza entre 2014 e 2017. “Houve um retrocesso social. Alguns fatores ajudaram para este aumento, o desemprego, a inação e o problema scal. Em 2015 a pobreza aumentou 19,6%, como reexo da recessão. Depois a inação foi controlada. No mesmo ano, o Bolsa Família cou congelado em termos nominais (sem levar em conta a inação, que estava em 10% na época). Estimativas mostram que o Norte e o Nordeste foram as regiões mais afetadas. Os jovens também”, comenta Neri. A meta da ONU é de reduzir para menos de 3% o número de pessoas vivendo nesta situação em todo o mundo até 2030. Segundo estimativa de Neri, se o Brasil crescer 2,5% todos os anos até lá, só voltará a níveis abaixo dos registrados em 2014 (quando a pobreza atingiu o menor patamar, 8,38%) em 2030.
O economista arma que o Brasil possui uma plataforma social estabelecida, com programas como o Cadastro Único e o Bolsa Família. “Em qualquer País que está em crise, como a que o Brasil viveu, as redes de proteção social são muito importantes, não só para a pobreza não subir, mas para manter as rodas da economia girando. O Brasil tem essa rede, então, o que acontece é que, se você não mantém a rede funcionando, a pobreza volta a subir, como aconteceu”, complementa. A cada R$ 1 que o governo gasta a mais com Bolsa Família, o PIB aumenta R$ 1,78, de acordo com estimativas da FGV Social.
Outras soluções, a longo prazo, incluem investimentos em educação na primeira infância e inclusão produtiva e nanceira. Entre 2014 e 2017, o Bolsa Família o valor médio de pagamento passou de R$ 27 bilhões para R$ 29 bilhões por ano. Por causa do ciclo eleitoral, a expectativa é de queda de 2% na pobreza este ano.
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