Brasil

'Bolsolteiros' reúne no Facebook seguidores de Bolsonaro interessados em paquerar

"Grupo foi naturalmente caminhando para o heterossexual", diz integrante

Por Extra Globo 13/02/2019 12h12
'Bolsolteiros' reúne no Facebook seguidores de Bolsonaro interessados em paquerar
Bolsolteiros reunidos pela paquera no Facebook - Foto: Reprodução

Na hora do romance, que tipo de atitudes das mulheres incomoda os eleitores do presidente Jair Bolsonaro? Esquerdopatia, se fingir de rica, ser rodada, ser dona da verdade, ter mau hálito, ser barraqueira... E como eles devem se comportar para conquistar mulheres bolsonaristas? Não chamá-las por apelidos sem ter intimidade, dar atenção e ser gentis, não ficar pedindo fotos atuais...

Essas dicas, espécie de leis da sedução entre seguidores de Bolsonaro, estão listadas em um grupo do Facebook chamado Bolsolteiros. Em tempos de radicalismo político e quase impossibilidade de amores ideologicamente divergentes, o espaço foi criado para reunir "admiradores e eleitores" de Bolsonaro que queiram "conhecer pessoas especiais". A foto do grupo é uma montagem de Bolsonaro fantasiado de Santo Antônio, o santo casamenteiro. Ele segura uma placa com uma promessa: "Trago amor em 17 dias". Se a paixão bolsonarista demora quase três semanas para brotar, o número de seguidores no grupo avançou mais rápido que isso.

O grupo foi criado em novembro de 2018, dias após a eleição de Bolsonaro, mas ganhou um impulso recente: de seus mais de 3.600 membros, cerca de 2 mil entraram nos últimos 30 dias.

A responsável pela criação foi a assistente social Elaine Silva, de 43 anos, que mora no Rio de Janeiro. Ela participa de um grupo de apoiadores de Bolsonaro, com cerca de 2 milhões de membros, e resolveu criar um somente para solteiros. Ela lamenta que a situação política tenha levado a esse isolamento. "Acho que ter a mesma visão política facilita. Houve realmente uma separação: petistas versus bolsonarianos. Sinto que os eleitores do Bolsonaro tem horror aos petistas, e vice-versa. O ideal é que não fosse assim, mas as pessoas estão muito extremistas. O ideal seria se houvesse tolerância, respeito", diz.

O Bolsolteiros é fechado, ou seja, para fazer parte é necessária uma autorização. Além de Silva, há outra administradora e duas moderadoras. A uniformidade de gênero foi apenas coincidência, de acordo com Silva: um homem foi convidado para ser administrador, mas não quis.

Quando a solicitação para participar do grupo é realizada, o usuário recebe três perguntas — a resposta não é obrigatória, mas pode auxiliar na admissão ou não. A primeira dela é: "Vc pode incluir, ao menos, 03 (três) HOMENS SOLTEIROS a este grupo?", resultado da predominância de mulheres. A segunda é: "Você é solteiro (a)? Seja honesto (a) na resposta, por favor". A terceira, por fim, é: "Vc se compromete a respeitar as regras e denunciar postagens indevidas e atos ilícitos?".

As regras do grupo incluem a proibição da participação de pessoas comprometidas, a divulgação de notícias falsas e a publicação de conteúdos de sexo ou violência. É incentivado, por outro lado, "propagar mensagens lúdicas, naturais e com conotação de harmonia, de amizade, flertes saudáveis, namoro, objetivando despertar nos membros interesses mútuos de compatibilidade e percepções amigáveis e sensitivas a romance".

O crescimento recente do grupo trouxe problemas. De acordo com a criadora, muitos “petistas” estão tentando entrar, o que fez com que ela ficasse mais rigorosa ao analisar se aprova ou não os pedidos. Outra dificuldade são os comprometidos. "Eu olho para ver se tem alguma coisa relacionada ao Bolsonaro. Se não tiver nada nem a favor nem contra, e a pessoa for solteira, eu aceito. Muitos casados tentam entrar. Muitos, muitos. Mas a gente bloqueia, não deixa entrar", explica.

Elaine também reclama sobre as piadas que estão sendo feitas sobre o grupo, que ela considera preconceituosas. “O perigo é se reproduzir”, “Me assusta de verdade a possibilidade de reprodução”, “O medo é deles procriando em cativeiro”, “Imagine os casais que serão formados...Um bando de retardados”, foram alguns dos comentários feitos na internet.

A esmagadora maioria dos membros procura relações heterossexuais. Há, no entanto, exceções. Dias após a criação, uma pessoa quis saber se era o único “gay de direita” do grupo, ressaltando que talvez fosse um “ponto fora da curva” entre os membros. Recebeu dezenas de mensagens de boas-vindas, mas nenhum outro homossexual se apresentou. “O grupo foi naturalmente caminhando para o heterossexual. Mas se a gente perceber que alguma pessoa é homossexual, não tem problema algum”, explica Elaine.

No grupo, há piadas, frases feitas sobre relacionamentos, lamentos sobre a solteirice, tentativas de promoção pessoal e, é claro, discussões de política.

Os usuários tentam chamar a atenção de diversas formas. Um homem, por exemplo, publicou uma foto sua com um prato de comida — um risoto de camarão — e questionou: “Servidas?”. Fez sucesso: recebeu cerca de 100 curtidas e 80 comentários, a maioria elogiosos. Nem todos têm a mesma sorte: muitas pessoas fazem publicações se apresentando, com informações como idade e cidade onde moram, mas recebem poucas reações.