Educação

Estudantes do ensino integral criam grupo de hip hop e incentivam protagonismo feminino

Grupo “As senhoritas” é formado por alunas da Escola Estadual Salete de Gusmão e é resultado de oficinas do projeto Na Base da Cultura, da Secult

Por Agência Alagoas 05/09/2019 08h08
Estudantes do ensino integral criam grupo de hip hop e incentivam protagonismo feminino
Alunas criaram grupo a partir das oficinas e escola já tem clube juvenil de hip hop - Foto: Valdir Rocha

O protagonismo juvenil vem, cada vez mais, sendo trabalhado nas escolas da rede estadual – nas unidades de ensino integral, essa valorização do estudante na produção de sua própria história é ainda mais potencializada. A busca pela voz ativa fez com que quatro alunas da Escola Estadual Maria Salete Gusmão de Araújo, de Maceió, participantes do grupo GDP, escrevessem uma canção sobre autoestima e independência feminina, com direito a videoclipe, que pode ser conferido em https://youtu.be/xZzkKsVtbz4.

O Grupo da Periferia (GDP) surgiu a partir de uma parceria entre a unidade escolar e a Secretaria de Estado da Cultura (Secult), por meio do programa Na Base da Cultura, o qual leva oficinas de artes para a comunidade de seis bases comunitárias da capital. O grupo busca difundir e fomentar a cultura hip hop entre os 13 integrantes, utilizando suas vivências como temáticas para as produções. O casamento entre a parceria e o ensino integral implantado pela Secretaria de Estado da Educação (Seduc) tornou o grupo um dos clubes juvenis da escola.

Ministrada por Fernando Rozendo, também conhecido como MC Tribo, a oficina acontece há três anos na unidade, em períodos de seis meses a cada ano. Ele conta que a participação no GDP mostra resultados dentro e fora da sala de aula – o desempenho dos alunos melhorou, o senso crítico foi aflorado e a criatividade é constantemente trabalhada durante os encontros.

“O fato deles começarem a se inserir no contexto artístico, se verem artistas, produzirem suas músicas e os desenhos que são feitos na escola ajudam a mudar o ambiente. Nós percebemos o ambiente em que vivem, o contexto social no qual estão inseridos e trazemos isso para o projeto. A gente acaba derrubando os muros da escola para perceber a comunidade do entorno. [O objetivo é] fazer com que ele queira esse despertar de consciência por meio da prática artística. A escola me dá muita liberdade para trabalhar com eles e o resultado é o despertar crítico, da maneira de se portar e se expressar”, comenta Fernando, que é agente cultural da Secult.

“O Programa Na Base da Cultura já existia na escola em anos anteriores e só veio a somar com a proposta do Ensino Integral. O hip hop foi absorvido no Ensino Integral como um dos clubes juvenis, espaços onde os alunos que, por afinidade, escolhem o que querem fazer. É importante que o aluno participe de uma atividade que ele gosta, que ele se identifica. No hip hop, eles têm a oportunidade de expressarem seus sentimentos por meio das composições de temas atuais e que despertam neles a vontade de externar seus pontos de vista. No caso das meninas, é bonito ver esse avanço, vê-las demonstrarem o quanto se sentem emponderadas "versando" no hip hop”, afirma a gestora, que é neta de um patrimônio da cultura alagoana, Mestra Hilda.

As Senhoritas

Yndrig Taynar (MC Tay) e Syberlen Noberto (MC Belle) são integrantes do GPD desde sua criação. Junto com Naahliel Cristine e Izabella Vitória, que entraram este ano, as jovens criaram o seu próprio grupo, intitulado “As Senhoritas” e responsável pelo single “Toda mina é uma rainha e não precisa de um rei”. A canção aborda temas como a autoestima, a independência e o empoderamento femininos.

De acordo com Yngrid, a escolha do tema se deu pela vontade de retratar a realidade da mulher. Suas letras relatam a experiência das mulheres negras e da periferia e como a sociedade se relaciona com estas mulheres.

Para Syberlen, o ingresso no mundo do hip hop e do rap fez com que ela passasse a observar ainda mais o cotidiano ao seu redor. “Eu não achava que faria uma diferença imensa na minha vida – em casa, na escola. Tive um despertar do senso crítico e comecei a enxergar as coisas de um modo diferente. No rap, ponho nas letras a nossa convivência e de outras mulheres, coisas que elas passam, para elas não acharem que estão sozinhas. A gente coloca na letra o que queremos que elas escutem”, relata a estudante.

Naahliel Christine conta que a escola apoiou a criação e produção do clipe, disponibilizando a instituição para que pudessem gravá-lo. “Veio uma pessoa de fora também, com uma câmera de boa qualidade, depois teve a edição. Gravamos muitas cenas, algumas que ficaram de fora, mas o vídeo ficou lindo e agora eu quero fazer mais”, afirma.

Segundo Izabella Vitória, o professor oferece total liberdade na composição e escolha dos temas debatidos, auxiliando sempre que os alunos solicitam. Vitória conta ainda que o MC busca trazer convidados para ensinar exercícios diferentes como foi o caso do grafitti, iniciativa abraçada pela direção da unidade para decorar as paredes da escola e trabalhar a criatividade dos participantes.

Escola e comunidade

As garotas são tão animadas e envolvidas com o projeto que começaram a repassar os conhecimentos adquiridos para outras pessoas da comunidade. Numa academia próxima, as jovens reúnem garotas e garotos que se interessam pelo estilo musical para produzir composições próprias e refletir sobre temas corriqueiros que influenciam suas vidas, trabalhando também o respeito às diferenças ideológicas.

Participam ainda do GDP as estudantes Mirelly Vitória e Samira, José Diego, Geovane (MC Gordin), José Cleyton (Cleytxin), Matheus Antônio (Matheus Cafeína), Abel Everton (Brown), Lucas Monteiro e Renato Albuquerque (Dunga).