Parentes de vítimas de vírus criticam discurso do presidente
Para as famílias das vítimas, o presidente cometeu uma "loucura" e "está errado" ao minimizar os efeitos da doença
Familiares de vítimas do coronavírus no Brasil reagiram ao pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, na terça-feira, 24, no qual ele classificou a pandemia como "gripezinha" e resfriadozinho". Para eles, o presidente cometeu uma "loucura" e "está errado" ao minimizar os efeitos da doença no País.
Na casa da família da aposentada Maria da Conceição Costa, de 73 anos, que morreu com suspeita de coronavírus, em Capão Bonito, no interior de São Paulo, no sábado, o clima era de inconformismo. "O presidente está errado. Ele não poderia ter falado desse jeito. As pessoas estão morrendo. Começou na China e está chegando aqui", disse a dona de casa Maria Valdirene Queiróz, nora da vítima. "A gente fica triste com tudo o que está acontecendo e ele tinha de ficar triste também."
Por causa da suspeita da doença, o corpo de dona Concebenta, como a aposentada era conhecida, foi velado em caixão fechado. O velório durou menos de duas horas. Morador de São Paulo, o filho mais velho entre nove irmãos não conseguiu chegar a tempo de acompanhar o sepultamento. O teste de coronavírus foi feito nos familiares no dia 19, quando a idosa foi internada. Os resultados ainda não foram divulgados.
Santos
A assistente de vendas Bruna Marques, de 24 anos, afirmou que o pronunciamento do presidente foi uma "loucura". No domingo, sua mãe, a auxiliar de enfermagem Cleide Renata Marques, de 43 anos, morreu no Hospital Guilherme Álvaro, em Santos, no litoral de São Paulo. Ela apresentava sintomas semelhantes ao do novo coronavírus, e aguardava o resultado do teste, que sairia nesta semana.
"Aquilo foi uma loucura. Eu vi o que aconteceu com a minha mãe. Nós vemos o que aconteceu na China e na Itália. O Brasil vai se transformar num caos, parando ou não parando. As pessoas não estão percebendo como a situação é grave", declarou a filha de Cleide.
A vítima tinha asma e passou a apresentar quadro de febre e falta de ar após passar cerca de três semanas em São Paulo. Ela foi à capital para ajudar familiares e voltou para a casa, em São Vicente (SP), no último dia 14, para uma festa surpresa de aniversário da filha. Após idas e vindas aos hospitais da região, ela morreu no domingo. Bruna relatou que os médicos apontaram a causa da morte como uma parada respiratória, por causa de uma pneumonia aguda e complicações respiratórias.
A família da primeira vítima do novo coronavírus no Brasil, um porteiro aposentado de 62 anos e morador do bairro da Bela Vista, na região central da cidade, não quis se manifestar sobre o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro. Ele morreu no dia 16 de março. "Eles não vão se manifestar sobre essa questão", disse o advogado da família, Roberto Domingues Junior.